O que aconteceu no Dragão, apesar de ser raro, não é um fenómeno fora do alcance da razão. Já sei que as vitórias do Benfica em casa do Porto normalmente produzem toda uma mitologia, uma camada exterior de lendas e boatos que cobre a substância do jogo (César Brito! Nuno Gomes! Lima! Guarda Abel!), mas nem sempre é preciso recorrer ao sobrenatural para perceber o que se passou. E o que se passou foi que o fogo ateado pelo Porto queimou um dos seus.
Aquilo que levou o Porto a sufocar o Benfica durante os primeiros quinze minutos, em que, depois de uma saída que pôs a equipa da casa em sentido, a bola começou a queimar os pés dos jogadores de vermelho, aquela fogosidade bravia, aquela intensidade instintiva do perdigueiro, foi o que levou o Porto para o abismo.