João Pinheiro vai dirigir o FC Porto-SL Benfica desta sexta-feira.
O bracarense é, na minha opinião, o melhor e mais completo árbitro português da atualidade. Tem todas as características para fazer um jogo bem conseguido (não confundir com perfeito). Mas, sejamos sinceros, a qualidade do seu trabalho não depende apenas da entrega ou sensibilidade para a função.
Por muito que prepare bem o jogo, por muito que esteja concentrado e próximo das jogadas, por muito que se sinta confiante e focado na tarefa, o desempenho de João Pinheiro dependerá também da atitude de jogadores e treinadores.
Uma coisa é arbitrar um jogo com as vicissitudes habituais, em que todos os intervenientes disputam cada lance de forma batalhadora, mas leal. Outra, bem diferente, é ter que gerir um sem número de situações extra-desportivas, que vão de condutas censuráveis a encenações evitáveis.
É certo que um árbitro de topo tem que estar preparado para tudo. E é certo que um árbitro de topo sabe que estes são jogos especiais, carregados de intensidade e adrenalina. Mas isso, só por si, não chega para fazer dele um às do apito.
É fundamental que os restantes intervenientes interpretem bem o seu papel. Não faz parte da função dos atletas dramatizar lesões, criar conflitos desnecessários ou agarrarem-se à cara, contorcendo-se com dores de toques que nunca sentiram. Não faz parte simular faltas ou agressões, protestar decisões ou incendiar os ânimos com gestos inflamáveis.
Haja respeito pelos colegas de profissão, por quem arbitra a jogo e pelos adeptos, que escolheram apoiar a sua equipa nas bancadas. Haja respeito por quem pagou para ver o jogo em casa, na esperança de ver futebol de qualidade, não cenas mal representadas de teatro infantil.
Que não restem dúvidas: os jogos ganham-se jogando bem à bola, com dureza, intensidade e competitividade, mas sem magoar ou provocar adversários, sem perder o equilíbrio emocional, sem incorrer em práticas pouco éticas.
Acreditem quando vos digo que não há árbitro nenhum que resista a um jogo que é tudo menos jogado. Não há árbitro que resista quando, em cada jogada, alguém grita, contesta ou cai inanimado no relvado.
Esta obrigação moral, a de todos fazerem a sua quota-parte, estende-se também a quem está nos bancos técnicos. Saltar furiosamente a cada lançamento lateral, esbracejar por tudo e por nada, contestar tudo o que não agrada, é um péssimo cartão de visita. Passa para o exterior mensagem de desespero e de descontrolo. Isso é tudo o que não se espera de profissionais experientes, com muitos anos de carreira ao mais alto nível.
Quanto aos árbitros, sabem que estas são partidas diferentes, com maior exposição e assentes numa rivalidade histórica. Estão (têm que estar) psicologicamente preparados para lidar com excessos pontuais e com desabafos momentâneos.
Não podem nem devem andar de caçadeira numa mão e de livro das leis na outra. Quando o fazem, mostram a sua incapacidade para dirigir jogos deste calibre. Também a eles é exigido bom senso e respeito por quem está em campo, sabendo que o trabalho deles é exigente e desafiante.
Que seja um jogo memorável e pelas melhores razões: pela beleza dos golos, pela imprevisibilidade do resultado e genialidade dos passes, pelo tempo em que a bola rolou, pela mestria das táticas escolhidas e pelo excelente comportamento de técnicos, claques e adeptos. Será pedir muito?