Elogios sem fim, explosões de alegria, euforia. Ódio, impaciência, intolerância.
De novo elogios rasgados, explosões de alegria e euforia. Logo a seguir, mais ódio, impaciência e intolerância.
Não é geral nem toca a todos da mesma forma, mas este é um retrato cada vez mais comum na nossa personalidade. Viajamos de um extremo a outro em poucos dias. Às vezes, em poucas horas até. Isso não faz de nós pessoas perturbadas.
Não é geral nem toca a todos da mesma forma, mas este é um retrato cada vez mais comum na nossa personalidade. Viajamos de um extremo a outro em poucos dias. Às vezes, em poucas horas até. Isso não faz de nós pessoas perturbadas.
É apenas a manifestação mais óbvia dos dias que correm. Um reflexo duro dos tempos que vivemos.
Não é preciso ser perito nestas coisas (e eu não sou) para perceber que o homem vive numa época em que tudo acontece a uma velocidade vertiginosa. A evolução continuada da tecnologia é um dos grandes responsáveis pela transformação permanente das coisas e, por consequência, pela forma de pensar de cada um de nós.
E como se isso não bastasse, o mundo em si parece ser um lugar cada vez mais estranho. É difícil ser humano numa altura em que há tantos desafios para enfrentar e superar. A pressão é crescente e todos temos um limite.
A pandemia quase nos levou ao tapete e, agora, o espetro de uma guerra nuclear não nos dá tranquilidade. Todos os dias vemos morte, fome e dor. Ali e aqui, além e acolá. Ela sempre existiu, é certo, mas agora entra mais vezes nas nossas casas. Entra mais vezes nas nossas televisões, tablets e telemóveis. Estamos mais próximos do horror e vivemos sob o efeito perverso dessa ameaça real.
Quando o medo ganha terreno, a paz de espírito perde força.
Depois ainda há a desilusão maciça, que bate à porta da maioria. A vida está a um custo insuportável, as pessoas desesperam por apoios e trabalho, por condições mínimas de subsistência. As pessoas precisam de dignidade. A criminalidade aumenta, a ideia de protecionismo entre os mais poderosos também. A descrença torna-se mais forte do que a esperança.
Quando o medo ganha terreno, a paz de espírito perde força.
Depois ainda há a desilusão maciça, que bate à porta da maioria. A vida está a um custo insuportável, as pessoas desesperam por apoios e trabalho, por condições mínimas de subsistência. As pessoas precisam de dignidade. A criminalidade aumenta, a ideia de protecionismo entre os mais poderosos também. A descrença torna-se mais forte do que a esperança.
Tudo isso faz transbordar o copo de quem já o encheu há muito, muito tempo, levando-nos à tal bipolaridade emocional. Flutuamos de humor como quem salta num trampolim: ora em baixo, ora em cima, ora em cima, ora em baixo. Temos fogachos de sorrisos e laivos depressivos. Uma, duas, dez vezes por dia. É difícil ser gente hoje em dia.
Naturalmente que este autêntico carrossel impede-nos de estabilizar ideias e projetos. Impede-nos de viver com calma e serenidade, com consistência e qualidade.

Alex Grimm
A forma como vemos e vivemos o futebol, pela força social que tem e pelo que representa para todos nós, é um dos exemplos maiores dessa forma de estar. Nuns dias aqueles que ganham são os maiores, uns heróis que merecem os mais rasgados elogios. Noutros são apenas uns incompetentes ridículos, caricaturados em mêmes ofensivos, magoados e espezinhados sem dó nem piedade.
É como se infligir dor aos outros atenuasse a nossa.
Os exemplos mais recentes são os de Diogo Costa e Ricardo Esgaio.
O guarda-redes do FC Porto, que é craque da cabeça aos pés e que nos garante talento por muitos anos (não tenho a mínima dúvida) é, no dia de hoje, o maior dos maiores. Um génio, um talento sem igual, o melhor da história. Mas “amanhã”, quando tiver a infelicidade de ser mal batido ou quando passar por uma fase menos positiva, será crucificado. Ridicularizado. Exposto e alvo dos piores insultos Ele será o mesmo. A sua qualidade também. São as pessoas que não perdoarão fase menos boa.
É como se infligir dor aos outros atenuasse a nossa.
Os exemplos mais recentes são os de Diogo Costa e Ricardo Esgaio.
O guarda-redes do FC Porto, que é craque da cabeça aos pés e que nos garante talento por muitos anos (não tenho a mínima dúvida) é, no dia de hoje, o maior dos maiores. Um génio, um talento sem igual, o melhor da história. Mas “amanhã”, quando tiver a infelicidade de ser mal batido ou quando passar por uma fase menos positiva, será crucificado. Ridicularizado. Exposto e alvo dos piores insultos Ele será o mesmo. A sua qualidade também. São as pessoas que não perdoarão fase menos boa.
São elas que não tolerarão o erro, não aceitarão a falha, não entenderão a limitação normal que afeta qualquer profissional. Qualquer um de nós.
É nesse extremo negativo que hoje mora o Ricardo Esgaio, um rapaz sensacional, um profissional de mão-cheia e um jogador competente, com provas dadas. Hoje é ele o culpado de tudo o que mau acontece ao seu clube. Ele, o treinador que “o protege” (o mesmo que foi elevado a herói nacional há não muito tempo) e o presidente “que não tem pulso” para isto (o mesmo que, há não muitos meses, tinha os seus a seus pés, pela demonstração de competência com que brindou tudo e todos).
É de uma ingratidão sem limites, mas as pessoas não fazem por mal. É só a dor a falar.
Amanhã e depois aparecerão outros Diogos e Esgaios para elevar a Deus e massacrar, tal como antes estiveram outros nos mesmos lugares. São tempos de intolerância, estes, que transformam alegria em ódio, elogio em raiva, acalmia em tempestade, de um dia para outro.
Todos os que têm uma profissão mais exposta (futebolistas, treinadores, dirigentes, árbitros - embora no caso destes o insulto seja a única constante -, jornalistas, comentadores, políticos, etc.) são o alvo mais fácil. Mais visível.
Para todos os que são íntegros e sérios nas suas funções - como o são Diogo e Ricardo -, uma palavra de conforto e incentivo. Não vacilem, não duvidem do vosso valor, não se deixem afetar pelas vozes magoadas das pessoas. Elas não são más. Estão apenas infelizes e a culpa não é do futebol.
É nesse extremo negativo que hoje mora o Ricardo Esgaio, um rapaz sensacional, um profissional de mão-cheia e um jogador competente, com provas dadas. Hoje é ele o culpado de tudo o que mau acontece ao seu clube. Ele, o treinador que “o protege” (o mesmo que foi elevado a herói nacional há não muito tempo) e o presidente “que não tem pulso” para isto (o mesmo que, há não muitos meses, tinha os seus a seus pés, pela demonstração de competência com que brindou tudo e todos).
É de uma ingratidão sem limites, mas as pessoas não fazem por mal. É só a dor a falar.
Amanhã e depois aparecerão outros Diogos e Esgaios para elevar a Deus e massacrar, tal como antes estiveram outros nos mesmos lugares. São tempos de intolerância, estes, que transformam alegria em ódio, elogio em raiva, acalmia em tempestade, de um dia para outro.
Todos os que têm uma profissão mais exposta (futebolistas, treinadores, dirigentes, árbitros - embora no caso destes o insulto seja a única constante -, jornalistas, comentadores, políticos, etc.) são o alvo mais fácil. Mais visível.
Para todos os que são íntegros e sérios nas suas funções - como o são Diogo e Ricardo -, uma palavra de conforto e incentivo. Não vacilem, não duvidem do vosso valor, não se deixem afetar pelas vozes magoadas das pessoas. Elas não são más. Estão apenas infelizes e a culpa não é do futebol.