As equipas perfeitas aborrecem. Pode parecer contraditório, já que andamos constantemente à procura do melhor futebol possível, mas o que nos emociona é a imperfeição e a constante superação. Manuel Pellegrini está numa fase da vida em que percebe aquilo que controla. Não perde tempo com o que é acessório – afinal, são muitos cabelos brancos e muitas canchas, na América do Sul e não só. Por onde passa, faz crescer as equipas porque dá espaço aos jogadores.
O engenheiro, como é conhecido, destaca-se claramente de treinadores como Guardiola, Tuchel ou Klopp na forma de pensar. Aproxima-se de Ancelotti, pela autonomia dada aos jogadores dentro do relvado. Um dos grandes méritos de ambos é essa gestão de balneário e, ao mesmo tempo, a sensibilidade rara para perceber quem os aproxima do sucesso. Não há amarras táticas nem cinco sistemas trabalhados. Prevalece a harmonia coletiva assente no talento individual.
Heliópolis, bairro de Sevilha onde se situa o Benito Villamarín, é a última paragem de Pellegrini. Em Espanha, já nos deixou várias equipas de autor. O submarino amarelo deu-se a conhecer à Europa com o chileno, atingindo as meias-finais da Liga dos Campeões na temporada 05/06. Depois do tempo perdido de Riquelme em Barcelona, foi no Villarreal que o 10 argentino reencontrou a alegria de jogar futebol. Ainda havia Sorín, Forlán, o imprescindível Marcos Senna e um jovem Santi Cazorla, aposta do engenheiro.
Seguiu-se o Málaga. Um dos novos-ricos do futebol europeu, na altura, decidiu investir muitos milhões para crescer na liga espanhola. Pellegrini esteve apenas uma época, mas lançou um tal de Isco Alarcón, acabado de recrutar ao Valencia. Nos anos seguintes, não houve muitos no mesmo nível. Além dos portugueses Duda, Eliseu e Hélder Rosário, os andaluzes contavam com muitos craques em fase adiantada da carreira (Demichelis, Júlio Baptista e van Nistelrooy). Enzo Maresca, agora adjunto de Guardiola, também estava nesse plantel. Santi Cazorla e Joaquin, em fases diferentes, devem muito ao trabalho do chileno.
Pellegrini, o engenheiro das imperfeições
Tomás da Cunha escreve sobre o legado do treinador chileno, que valoriza o talento que tem no Real Betis onde, além de Sergio Canales, Nabil Fekir e o eterno Joaquín, há os portugueses William Carvalho e Rui Silva numa equipa que nos ensina que a perfeição não existe, mas que se pode manifestar de muitas formas
10.10.2022 às 8h32

Fran Santiago/Getty
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