Duarte Gomes lamenta jornada infeliz para a arbitragem (mas recorda que a tecnologia é útil e veio para ficar)
A 22ª jornada da Liga portuguesa não correu bem para a arbitragem, admite o ex-árbitro Duarte Gomes: "Jornada difícil... para mais tarde recordar”
12.02.2018 às 16h51

O árbitro Luís Ferreira no Sporting-Feirense
NurPhoto
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Não foi uma jornada feliz, no que diz respeito a decisões das equipas de arbitragem. Apesar de muitas das incidências só ficarem esclarecidas após visualização das imagens – o que obviamente atenua e muito a primeira análise de quem está no terreno de jogo -, a verdade é que a existência da vídeo-tecnologia pressupõe maior acerto em situações que aos olhos de quem vê as imagens parecem claras e evidentes.
Os jogos dos chamados grandes, por serem os que seduzem o maior número de apoiantes e que arrastam maior mediatismo, estão sempre sob os holofotes de todos os que anseiam ver a vitória das suas equipas (ou eventual derrota justificada por erros dos árbitros).
Em Portimão, houve dois momentos de jogo que aqui queremos recordar. O primeiro, de análise bem interessante, à passagem dos 57` e logo com duas situações consecutivas: queda de Fabrício na área encarnada e a seguir queda de Rafa na área oposta.
Em ambas, árbitro e VAR nada assinalaram.
Vamos à primeira: Fabrício estava em posição de fora de jogo, tocou na bola e só depois foi carregado por Jardel. Ou seja, tomou parte ativa no jogo antes da falta. É certo que o último toque na bola foi de Fejsa, mas foi apenas isso. Um toque. Não se tratou de uma bola passada para trás de forma deliberada e consciente. O médio meteu o pé na disputa a dois e o contacto no esférico foi de ressalto, fortuito/inevitável para a sua intromissão na jogada.
Agora um esclarecimento importante: suponhamos que Fejsa tinha, de facto, jogado a bola para trás de forma intencional. Nesse caso, não haveria fora de jogo e estaríamos agora a discutir qual a falta técnica que deveria ter sido assinalada.
A esse propósito, fica a explicação: a única infração continuada que se pune no fim da ação é o agarrão persistente, em lances de fora para dentro da área.
Ou seja, se neste caso a infração de Jardel tivesse sido “agarrar”, o lance teria que ser punido com pontapé de penálti para o Portimonense.
Mas como se pode constatar nas imagens, a infração que central brasileiro cometeu foi empurrão ou carga nas costas e não agarrão. E o que a lei diz é que estas são punidas de acordo com o princípio geral: no início da ação (ali com pontapé livre direto, fora da área).
Fim de esclarecimento.
Voltemos à realidade. Houve mesmo fora de jogo de Fabrício e o único erro foi do árbitro assistente, que não sinalizou a posição irregular do jogador algarvio.
Na sequência do lance, Rafa caiu na área do Portimonense sem que Filipe Macedo tivesse cometido qualquer infração. A queda foi natural e a decisão de Carlos Xistra foi acertada.
O outro momento do jogo ocorreu mais tarde, aquando da marcação da falta que deu origem ao golo de Cervi. Este lance sim, deixou muitas dúvidas.
É inegável que a bola bateu na mão esquerda de Galeno, como também é inegável que o cabeceamento de André Almeida foi na queima, a bola totalmente inesperada e o defesa dos algarvios estava em plena movimentação defensiva. São as tais situações em que a dúvida fica no ar e isso justifica que se aceite a decisão do árbitro, mas – à distância – fica a sensação que a melhor opção teria sido a não marcação da falta.

Soares é um dos goleadores do FC Porto
MIGUEL RIOPA/GETTY
Em Chaves, o jogo não correu da melhor forma para um dos mais competentes árbitros portugueses. Logo no arranque, Maxi Pereira cometeu penálti sobre Djavan - braço esquerdo do defesa uruguaio impediu a progressão do avançado flaviense - e um pouco mais tarde (aos 21`), o mesmo jogador disputou a bola com Davidson em lance cuja legalidade e local da infração (dentro ou fora da área) deixaram algumas dúvidas. É justo que tomemos como boa a decisão de Artur Soares Dias.
Ainda antes do fim da primeira parte, novo lance entre Maxi e Davidson: o lateral azul e branco disputou (e tocou) a bola mas arriscou e parece ter tocado também no calcanhar do avançado brasileiro. Nas imagens ficou a ideia que a ação causou o derrube do jogador do Chaves e que isso justificaria o pontapé de penálti. Árbitro e VAR (ambos sem certezas) tiveram leitura distinta.
Nota, por último, para carga não assinalada de Domingos Duarte sobre Soares. O defesa flaviense, na passada, tocou no pé do avançado do FC Porto, derrubando-o. O avançado ainda aguentou a queda (caíu pouco depois), o que de modo algum anula a infração. O lance, que ocorreu ainda fora da área do D. Chaves, cortou clara possibilidade de golo dos azuis e brancos (Soares, descaído na esquerda do seu ataque, estava isolado e ia em direção à baliza adversária): devia ter sido punido com pontapé livre direto e cartão vermelho para D.Duarte. O lance era de leitura difícil em campo mas o VAR podia ter colaborado.
Quanto ao jogo de ontem entre Sporting e Feirense, pode dizer-se que Alvalade foi palco de uma partida recheada de incidências, cujo esclarecimento aqui se impõe.
Bruno Fernandes carregou Tiago Silva e isso foi evidente. O problema é que essa infração, que não foi assinalada no momento adequado, ocorreu antes da posse de bola do Feirense.
E, na prática, o que significa isso? Significa que a revisão do golo de Doumbia devia ter ocorrido até ao momento em que o Sporting recuperou a bola em último lugar e não até ao anterior, da infração do médio leonino. Esteve mal o VAR em sugerir a Luís Ferreira que revisse o lance (induziu-o em erro) e esteve também mal o próprio árbitro ao não se aperceber, face à imagem que viu, que a falta acontecera numa fase de jogo que já não pressuponha vídeo-revisão. Daí resultam duas leituras: que provavelmente não haveria golo (mal) anulado se a infração inicial fosse assinalada; e que a jogada do golo em si foi, efetivamente, mal invalidada.
Depois, penálti por assinalar por mão de Tiago Silva na sua área. O jogador do Feirense até tinha o braço direito colado ao corpo, mas fez todo o movimento – ostensivo e deliberado - para cortar a trajetória da bola de forma ilegal. O lance era de análise complicadíssima em campo, mas face ao desenho da jogada, de leitura facilitada para o VAR.
Houve outros dois lances passíveis de análise: o do penálti que Luís Ferreira assinalou e que depois, por boa indicação de Manuel Oliveira, acabou por retificar (a bola bateu apenas e só na cara de Flávio Ramos e não no braço) e o lance que deu origem ao segundo golo do Sporting, da autoria de Montero.
Sobre este a imagem que vimos não foi suficientemente clara para justificar a intervenção do VAR, mas ficou a ideia que, na fase inicial da jogada, Mathieu poderá ter ganho posse de bola praticando jogo perigoso ativo (no caso, pé em riste) sobre Karamanos. Se foi esse o caso, o golo teria que ser invalidado e o jogo recomeçado com pontapé livre favorável ao Feirense. Sem certezas, é justo conceder ao árbitro o benefício da dúvida.
Em Braga, Jorge Sousa teve jogo com decisões difíceis, dando a sensação – pelas imagens que vimos – que poderá ter-se equivocado nos dois lances da área.
Jornada difícil… para mais tarde recordar.
Este é um caminho longo e difícil, mas que ninguém duvide: a tecnologia é útil e veio para ficar.
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