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No banco com os misters

Pedro Espinha, “um gajo maluco” que trocou a 1ª divisão norueguesa pela 3ª (e esteve no clube da série que mete uma mulher a treinar homens)

Pedro Espinha tem 33 anos e é treinador de guarda-redes na Noruega há três anos, onde já passou por altos e baixos, da 3ª à 1ª divisão - e vice-versa - por vontade própria, porque quer valorizar-se, a ele e ao futebol. "O guarda-redes, sem bola, tem o '1' nas costas; com bola, tem o '10' nas costas", explica à Tribuna Expresso o treinador dos guarda-redes do Lyn, que diz que aquela barreira de Vlachodimos no Chaves-Benfica "não estava ali a fazer nada"

Mariana Cabral

Pedro Espinha, ao centro, com os guarda-redes do Lyn: Joar Dale (19 anos) e Orhan Simsek (23 anos)

Rita Coimbra

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Nota prévia: ele chama-se Pedro Espinha, mas não é esse Pedro Espinha, apesar de também ser treinador de guarda-redes. Este Pedro Espinha tem 33 anos e vive na Noruega há três, desde que foi convidado para treinar nos escalões de formação do Bergsoy, depois de ter estado nas escolas de futebol do Benfica.

Entre os postes, foi ganhando espaço no futebol norueguês, passando pelo Stabaek e pelo Lyn, ambos clubes de escalões inferiores, até chegar ao topo, já este ano, no Lillestrom, da 1ª Liga norueguesa. Mas só esteve lá dois meses, porque é "um gajo maluco", como o próprio se define: "Ali joga-se à Noruega em 1995. Marquei uma reunião e disse adeus, porque não era aquele futebol que eu queria para mim."

Voltou para o Lyn, que compete na 3ª divisão, trabalha com os guarda-redes da NFF (Federação Norueguesa) e diz que tem tempo para regressar ao topo. Antes, prefere valorizar-se. Ah, e explica o que não correu bem a Odysseas Vlachodimos naquele livre no Chaves-Benfica (2-2).

Não sei se sabes, mas esta semana aqui em Portugal estreou-se na RTP2 a série norueguesa "Jogar em Casa" ("Heimebane", no original), que tem uma treinadora a liderar uma equipa masculina da 1ª divisão...
[ri-se] Olha, antes que continues, digo-te que já trabalhei nesse clube da série, durante dois meses. Conheço esse clube de trás para a frente, é o Hodd. Quer dizer, na série não é o Hodd, chama-se Varg, mas aquele estádio e aquelas instalações são do Hodd. Trabalhei lá durante dois meses e era para ter ficado mais tempo, mas não me conseguiam pagar, e entretanto o Stabaek ligou-me e eu e a Rita [namorada] mudámo-nos de Ulstenvik - onde se passa a série - para Oslo. Tenho fotos lá e conheço bem as pessoas do clube. Aliás, um treinador de guarda-redes que aprecio muito, da seleção sub-19 feminina da Noruega, antes estava no Hodd. Mas a série tem clubes que existem, como o Alesund, porque o Varg vai ter grandes duelos com o Alesund - não querendo ser spoiler.

Então já viste a série?
É curioso que fales nisso, porque só comecei a ver há pouco tempo, sinceramente. Toda a gente aqui falava da série, e a série é isto e a série é aquilo...

Falou-se muito disso quando se estreou?
Sim, sim, falou-se muito sobre isso e abriu-se uma discussão interessantíssima sobre a inclusão das mulheres naquilo que habitualmente é visto como um mundo de homens. Nós temos treinadoras que são muito competentes, temos, por exemplo, a Monica Knudsen e a Hege Riise, nas equipas femininas do Valerenga e do Lillestrom, respetivamente. Conheço a Monica e ela é espectacular, gostava de trabalhar com ela. Se ainda estivesse no Lillestrom e me dissessem que ia trabalhar com a Monica, esfregava as mãos de contentamento. Ela tem uma postura no jogo consciencializada, ela conhece o masculino e o feminino e sabe que há diferenças do homem para a mulher, não só a nível morfológico, mas também ao nível interpretativo. A mulher é muito mais racional em tudo, o homem é muito mais instintivo. É importante saber diferenciar as coisas. Para fazeres a transição entre ambos não podes fazer com chapa ganha e chapa gasta - eu tentei isso, por isso é que estou a dizer que não podes fazê-lo. Tentei pegar no treino que fazia com homens e levar para as mulheres. Quando comecei a ver que não dava, tive de me adaptar. Ela fez o caminho inverso. Agora está no feminino, mas se quisesse pegava facilmente numa equipa masculina, fosse da 1ª ou da 2ª Liga.

Aqui temos obviamente a ideia de que os países nórdicos são muito mais inclusivos no que diz respeito ao desporto...
E são. Mas também já vi uma treinadora o jogo todo sem dar feedback, por exemplo. Aqui são muito fortes a incluir, mas também é preciso que as pessoas se queiram incluir e queiram estar a um nível diferente. É preciso ter sensibilidade para perceber como se quer fazer, de que forma é que alguém se quer apresentar em determinado mundo. Não podes entrar para ali à caralhada, mas tens de ter saber impor. Da mesma forma que nem todos os homens se sabem impor num plantel de miúdas, há mulheres que se calhar não têm a fibra necessária para se imporem num plantel de homens. Por mim, cada vez mais devemos caminhar no sentido da igualdade. Há duas mulheres em equipas na nossa divisão e quando jogámos agora contra elas disse-lhes para continuarem, para não desistirem do caminho que estão a percorrer.

Há noutras divisões?
Penso que em divisões superiores não há, mas não fiz nenhuma pesquisa aprofundada. Mas foi bom terem feito a série, porque abriu uma conversa e quebrou com um paradigma engraçado: um equipa de homens tem de ser gerida por um homem. Eh pá, isso não existe. De todo. Ou melhor, não devia existir. Até porque eu e tu sabemos bem que há treinadoras por aí que têm muita capacidade e unhas suficientes para pegar em equipas de homens e fazê-las andar bem.

Se calhar aí há mais oportunidades e menos capacidade, e aqui mais capacidade e menos oportunidades.
Se calhar. Mas isto... A cultura não é só de um gajo, a cultura é de muitas pessoas. É uma coisa que é cultural. Aqui se calhar o futebol é demasiado negligenciado em determinados aspetos e às vezes até levado meio a brincar, mas podemos dar-nos ao luxo de dizer que temos equipas masculinas treinadas por mulheres. E bem. Se o processo tem qualidade ou não, eh pá...

A série noruguesa "Jogar em casa" ("Heimebane", no original), que conta com o ex-internacional John Carew, está a ser transmitida em Portugal pela RTP2 (de 2ª a 6ª feira, às 22h10)

A série noruguesa "Jogar em casa" ("Heimebane", no original), que conta com o ex-internacional John Carew, está a ser transmitida em Portugal pela RTP2 (de 2ª a 6ª feira, às 22h10)

DR

Que tal a vida no Lyn?
Olha, estou aqui na sala dos troféus do clube, já agora faço-te aqui uma visita guiada por Facetime. Esta é uma sala especial, porque está aqui toda a história do Lyn. Aqui está um galhardete de quando jogámos contra o Barcelona em 1956, na Liga dos Campeões, estão aqui recordações da seleção olímpica da Noruega, que tinha oito ou nove jogadores do Lyn, está aqui a última camisola usada na 1ª Liga, sei lá, imensas coisas. O clube é grande para caraças. As pessoas não têm noção, mas a Federação Norueguesa foi fundada pelo Lyn. E o estádio nacional, onde joga a seleção nacional, basicamente era do Lyn, até 2007, ano em que teve de ser vendido. É o maior estádio da Noruega.

Não sabia que o Lyn tinha chegado à Liga dos Campeões.
Sim. Mais recentemente, salvo erro em 2006/07, estava na Taça UEFA - e passaram aqui nomes como Lucas Pratto, Obi Mikel e Matías Almeyda. O primeiro clube do Obi Mikel na Europa foi o Lyn.

Mas depois o clube foi à falência.
Os primeiros problemas começaram em 2006. Daí a venda do estádio à federação, em 2007. Depois, o clube foi comprado por um investidor de uma empresa chamada Smart Club, que é um supermercado. Só que entretanto essa loja fechou e o investidor teve muitos problemas com empresários - por exemplo, prometeu o Obi Mikel ao Manchester United, recebeu dinheiro para o bolso dele e depois vendeu o jogador ao Chelsea, recebeu e pirou-se. As pessoas tentaram salvar o clube, mas não conseguiram pagar as contas todas e o Lyn foi parar ao fundo, à sexta divisão. Agora estamos no quarto escalão, que se chama 3ª divisão. Eh pá, o clube agora está melhor, já esteve nos play-offs de acesso à 2ª Liga, há uns anos. No ano passado não subimos à 2ª divisão porque devíamos ter ganho em casa e acabámos por empatar, foi um drama do caraças. Este ano estamos bem encaminhados - vamos jogar este fim de semana contra o 2º classificado e estamos em 1º, com mais um ponto. E na próxima semana vamos jogar contra o 3º classificado, que está a dois pontos de nós. Portanto se ganharmos estes dois jogos ficamos tranquilos. Faltam cinco jogos para terminar.

Estás a passar pela altura mais importante da época, então.
Como é óbvio, não vim para cá fazer cicloturismo. O meu primeiro ano foi um um choque. Eh pá, foi um choque porque há muitas coisas aqui na Noruega que em Portugal não são assim nem à lei da bala. Por exemplo, pais a entrar dentro do campo para ver os treinos, os miúdos a pararem quando lhes dá na gana - isto falando de clubes que são "grass root clubs", ao nível da formação, que foi por onde comecei cá, no Bergsoy. Depois há um completo desinteresse por coisas que a ti te importam muito, porque tu és do treino, por isso interessa-te que o guarda-redes perceba as maneiras que tem para sair a jogar a partir de trás e que dinâmicas e sub-dinâmicas são necessárias para isso, mas para eles não lhes interessa, são querem jogar um bocado à bola e divertir-se. Foi um choque cultural grande, entre a minha exigência e a do Hugo [Vicente, então treinador e coordenador da formação do Bergsoy], versus a não exigência dos miúdos e dos seniores com quem trabalhávamos.

Mas melhorou?
Depois foi melhorando e ajudou-me bastante trazer para cá a Rita [namorada], porque foi importante no sentido de sentir que aqui é que é a minha casa e não me posso vergar, tenho de me adaptar porque a minha vida está aqui agora. A partir daí foi muito mais fácil. Em 2016 fui para o Stabaek, trabalhei com uma série de escalões lá, desde os guarda-redes da academia até ao futebol feminino, e cheguei a ser treinador principal da segunda equipa feminina. Fiz uma série de coisas por lá, mas o que queria mesmo era ser treinador de guarda-redes, então acabei por entrar no Lyn, onde me foquei nisso. E aqui tenho a sorte de ter um chefe que, pronto, não é um Fonte Santa [António Fonte Santa, coordenador das escolas de futebol do Benfica] em termos de treino, mas é um Fonte Santa em termos da liberdade que te dá, porque confia em ti e dá-te espaço. As coisas acabam não só por resultar no campo como quem está de fora vê que ali faz-se de facto um trabalho de qualidade. Quando lhe disse que estava sozinho com 47 guarda-redes e perguntei o que podíamos fazer em relação a isso, ele disse que me ia arranjar um pai que gosta de treinar guarda-redes, e arranjou-me um gajo que foi jogador da seleção australiana sub-20. Entrou bem e aliviou-me um terço da carga. Depois entretanto quando saí para o Lillestrom e voltei, deixei aqui um treinador de guarda-redes que conhecia dos cursos. Mas quando voltei, voltei porque o treinador adjunto do Lyn foi para a seleção da Índia e o treinador de guarda-redes passou a ser adjunto dos seniores, mas também ficou com alguns guarda-redes mais novos da formação. Portanto eu tenho os guarda-redes seniores, juniores e juvenis, enquanto que na academia sou coordenador, supervisiono o trabalho.

Voltando um bocadinho atrás: como é que foste parar à Noruega?
Bom, como tu bem sabes, estava a trabalhar na Geração Benfica no Estádio da Luz e estava, se calhar como toda a gente que lá estava, um bocado estagnado, a fazer os treinos que conseguia ir fazendo e cumprindo as minhas funções como técnico auxiliar de coordenação. O Hugo [Vicente] entrou em contacto comigo, para ir para o Bergsoy, e acabei por aceitar. Inicialmente, entre todas as funções que cumpria, o treino de guarda-redes não era a minha responsabilidade primária, foi algo que se foi desenvolvendo com o tempo. Eu era a pessoa encarregada do "children football", dos sete aos 13 anos, e tinha a equipa de 13 anos, a equipa de 14 anos e a equipa de 16 anos. Depois era o que agora se chama de "performance analyst" ou "performance coach", que é o gajo que trata do vídeo e que depois leva essa ideia para o campo. Estava com o Hugo nos treinos no campo e fazia a análise dos jogos ao fim de semana, basicamente. Depois na segunda época deixámos de ter treinador de guarda-redes e eu fiquei com os guarda-redes e começou a ser uma coisa séria. Depois também ajudou conhecer alguém que agora é treinador de guarda-redes da seleção sub-19 feminina da Noruega, que me foi ajudando e aumentado o bichinho dos guarda-redes. Eu já tinha o bichinho antes, porque já tinha estado no treino de guarda-redes na Geração Benfica, por isso foi uma coisa natural. Chegou uma altura em que por todas as razões e mais algumas, até pela progressão de carreira... Chegas a um ponto em que tens de escolher o que queres ser na tua vida. Eu já sabia que queria ser treinador de futebol. Mas treinador de quê? Treino de guarda-redes. Sei que tenho o conhecimento necessário para lá estar, sei que tenho a abertura mental para, se não souber, ir procurar e ouvir toda a gente que fala sobre o assunto e depois utilizar a minha inteligência para escolher o que mais me apraz. Acabou por se tornar uma escolha óbvia.

Pedro Espinha (em baixo, ao centro) com treinadores e guarda-redes de vários escalões do Lyn

Pedro Espinha (em baixo, ao centro) com treinadores e guarda-redes de vários escalões do Lyn

Como joga o Lyn? Há muitas diferenças em relação ao que se costuma ver em Portugal?
Há diferenças em relação ao que se costuma ver em Portugal, claro. Caso contrário, as equipas norueguesas andavam a competir nos mesmos patamares em que as equipas portuguesas competem. Aqui a 3ª divisão é um nível CNS [3º escalão português, agora chamado Campeonato de Portugal], gosto de dizer que é um nível CNS mas em que as melhores equipas são claramente um nível CNS 'mais', que estão sempre lá em cima e têm jogadores de qualidade. Treinamos quatro vezes por semana, só às vezes treinamos cinco, porque todos os jogadores são semiprofissionais, portanto logo aí dificulta um bocado a forma de implementar determinadas ideias. Obviamente que o trabalho que faço com os guarda-redes isola-se daquilo que é a equipa, antes do treino integrado. Lá está, era o que te estava a dizer, tenho autonomia para poder mexer na marioneta como quero.

Por exemplo, há 90 minutos de treino e tens quanto tempo em trabalho específico com os guarda-redes?
Normalmente 40 minutos. Gosto de dizer que o meu trabalho com os guarda-redes é individual e contextualizado durante 35 a 45 minutos e depois entramos na parte integrada - e aí também estou com eles, claro, e páro o treino se for preciso e dou instruções ao guarda-redes e ao bloco defensivo. Quando fui para o Lillestrom, esta era uma das coisas às quais eles não estavam habituados e o treinador ficou logo almariado, porque aqui não é de todo tradicional. Aqui têm o treinador de guarda-redes que só faz os treinos dos guarda-redes. Não gosto disso, porque gosto que os guarda-redes façam parte de uma mecânica maior. Gosto de trabalhar com o setor defensivo também, para trabalhar saídas de bola, cobertura ofensiva, a forma como o guarda-redes se apresenta quando a bola está no setor intermediário...

Mas isso que estás a dizer é algo que provém do treinador e da equipa técnica, não apenas do treinador de guarda-redes.
Sim, sim, mas por isso é que o Lyn acaba por ser tão diferente, porque tenho autonomia para fazer isso tudo. Basicamente aqui sou um treinador adjunto que trabalha com os guarda-redes. Também foi algo conquistado a pulso, porque é um salto que exige muita confiança do teu treinador principal, claro. Também ajuda o facto de ele ser treinador UEFA Pro de guarda-redes, além de jogadores de campo, e ter sido guarda-redes da Noruega e daquele grande Rosenborg da década de 90 (Thomas André Odegaard). O método que utilizamos com os guarda-redes já possibilitou ter dois encaixes financeiros no ano passado e já está a dar resultados este ano também, portanto, ele confia em mim e dá-me total liberdade, porque sabe que as coisas resultam. Só que obviamente noutros contextos até haver essa confiança generalizada claro que é complicado. Mas voltando à organização da equipa: o Lyn apresentava-se no início da época em 3-4-3, tal como na época passada, só que por força de muitas das equipas com as quais jogamos este ano, especialmente no norte da Noruega, onde o futebol é tradicionalmente muito físico e à procura do espaço nas costas da defesa, tivemos uma série de derrotas consecutivas fora de casa. Fomos muito apanhados em contrapé devido ao espaço grande que tens entre o médio ala e o central mais próximo dele. Então durante uma semana ou duas estivemos a rever as caraterísticas do plantel e refizemos a nossa forma de abordar o jogo e estamos a jogar agora em 4-3-3, com um médio defensivo e dois médios centro, dois extremos bem pronunciados e um ponta. Assim conseguimos ter sempre muitos equilíbrios na zona da defesa, porque vamos defendendo em 4-1-4-1 ou até mesmo em 5-4-1.

E saem a jogar a partir de trás ou não? E quanta influência tem o treinador de guarda-redes nisso?
O treinador decide, por norma, aquilo que vamos fazer em termos de saídas de bola. A mim cabe-me pôr a comida no prato pronta para ele comer. Peguei em todas as equipas contra as quais iríamos jogar, em casa e fora, e acabei por ver que em casa iam pronunciar-se de determinada forma, por exemplo, bloco baixo e em contra ataque, e então as nossas saídas de bola poderiam ser de determinada maneira. Arranjei sete ou oito saídas de bola diferentes para a nossa equipa, tendo em conta os jogadores que tínhamos, e dependendo da forma como somos pressionados na saída da bola, se somos pressionados na 1ª zona de construção, na 2ª zona de construção, se eles baixam o bloco e nos deixam sair a jogar... Penso e digo: "Thomas, acho que eles nos vão pressionar com dois homens portanto se calhar aí podemos convidar os centrais a abrir mas baixamos o médio defensivo e convidamos os laterais a estarem bem abertos e profundos para sairmos a jogar pelo meio-campo e depois aí seja o que Deus quiser, a partir daí tratas tu". [risos] Portanto a minha função é pensar numa forma para a bola chegar do ponto A, que é o guarda-redes, até à zona intermédia de construção, e a partir daí... é com o treinador. Procuro arranjar-lhe as ferramentas necessárias e depois ele constrói a casa como ele quiser, acaba por ser um bocado assim. Não me interpretes mal, claro que depois dali também é problema meu, sim, porque faz parte da saída de bola depois fechar as portas, digamos assim. É um bocado como nós ensinávamos aos miúdos na Geração Benfica: a bola não está aqui, por isso vamos fechar as portas do castelo. Acaba por ser um bocado isso. Quando a bola sai da zona um, que é a zona de construção do guarda-redes, os centrais fecham um bocado, há aquele cuidado em manter a porta fechada, portanto isso também acaba por fazer parte do meu trabalho, mas é algo que é tema de discussão constante entre a equipa técnica.

Pedro Espinha vive na Noruega desde 2015

Pedro Espinha vive na Noruega desde 2015

Falavas do futebol físico da Noruega e obviamente o estereótipo é que aí não há tanta apetência pelas saídas curtas e trabalhadas...
Isso já está a mudar bastante e comecei a ter essa noção quando estava no Stabaek. Deves ter visto o campeonato da Europa sub-19, em que a Noruega, com os jogadores que vinham dessa fornada do Stabaek, já não batiam a bola à maluca para a frente, mesmo o guarda-redes tenta sair a jogar. E mesmo que bata a bola longa há um cuidado para onde vai enviá-la. Nisso, o treinador de guarda-redes tem todo o crédito, o Jonas é muito bom. Ele viu que Portugal tinha dois médios no meio-campo, deixava os extremos bem abertos para pressionar imediatamente a saída da bola, então a opção foi pôr a bola imediatamente na zona intermédia. Portanto, há esse cuidado. O futebol norueguês de há 15, 20 anos, do gajo que batia a bola na frente para um pinheiro já não é tão assim. Em divisões mais baixas, é assim, também porque existe muito resultadismo. As equipas querem subir, por causa dos incentivos financeiros e preocupam-se muito com isso. Nós tentamos fazer as coisas de uma maneira muito diferente. Às vezes sai, às vezes não sai, mas nunca vais ver o meu guarda-redes e bater uma bola imediatamente para o ponta, porque não lhe vou permitir isso, e já tive essa conversa com o Thomas: no momento em que o guarda-redes bater uma bola para o ponta, mando o suplente aquecer, porque não é isso que quero.

E o treinador tem abertura mental suficiente para isso?
Tem, tem, porque ele sabe que o mais importante para mim é valorizar o guarda-redes e a função do treinador é obviamente valorizar os seus jogadores. Ri-me bastante quando vi o Sérgio Conceição a usar a expressão "futebol champanhe", porque essa é uma expressão que se usa muito aqui. Nós gostamos que a bola ande no chão, que haja linhas de passe, muita movimentação, muita corrida para o sítio certo na hora certa. O Thomas gosta desse tipo de jogo e gosta de replicá-lo.

Pensei que o teu trabalho aí fosse mais focado na defesa da baliza e pouco mais.
Também acontece às vezes, quando jogamos com equipas que são um inferno. A bola vai sempre para o mesmo gajo lá atrás e ele em dez ações tem oito que são a mesma: meter a bola nos extremos na profundidade e depois aí começa tudo a correr para a frente que nem cães. Atenção, estamos a falar da 3ª divisão. Uma das razões que me fizeram sair do Lillestrom foi esta: incentivo os meus guarda-redes a descobrirem lá na frente os extremos abertos, se tivermos uma situação de um para zero, que é extremamente vantajosa, mas o meu treinador queria a bola sempre para o duelo. Imagina, se a bola viesse do lado direito e tínhamos uma situação de seis para quatro favorável ao adversário, ele preferia a bola para ali, para o duelo. Isso para mim não faz sentido, quando tens o extremo esquerdo aberto, com os apoios orientados para dentro e pronto para receber a bola. Isto aconteceu num jogo treino contra o Molde: o meu guarda-redes, o Marko Maric, que tem um pé fantástico, mete a bola diretamente no peito do extremo esquerdo, ele recebe, acelera e marca golo. Ou seja, fiquei felicíssimo porque o meu guarda-redes fez uma assistência. O treinador vira-se para trás aos berros a dizer que não, que jogamos em "established attack", porque ali há uma aglomeração de jogadores e é ali que temos de ganhar a segunda bola... Eh pá, se a minha avó tivesse colhões era o meu avô. Ele ficou fodido comigo, eu aceito, tudo bem, ali joga-se à Noruega em 1995. Pronto. Marquei uma reunião e disse adeus, porque não era aquele futebol que queria para mim. Tenho 33 anos, quero valorizar-me enquanto treinador e isto não me vai valorizar. Então estás na 1ª e vais voltar para a 3ª divisão? Eh pá, vou.

O Lillestrom é da 1ª Liga e o Lyn é da 3ª divisão.
Exatamente. Portanto sou aquele gajo maluco que faz o percurso que toda a gente gostava de fazer: vou da 3ª divisão para a 1ª Liga, fico lá dois meses, aperto a mão ao diretor desportivo e ao treinador e digo que não é aquilo que quero e volto para a 3ª divisão. Devo ser o gajo que conheces que tem mais colhões para fazer isso [risos]. Mas é importante que as pessoas percebam isto: na pressa de chegar lá acima perde-se muita coisa. Tenho noção que tenho 33 anos e ainda hei-de lá chegar outra vez. Agora, a forma como vou lá chegar é que vai ditar a forma como me vou estabelecer por lá. Não vale a pena estar com grandes alaridos. Quando as pessoas me perguntaram o tinha acontecido, disse que trabalhava de determinada maneira e imediatamente as pessoas ficaram com essa noção. Entretanto o treinador foi despedido e já tive chamadas, mas a questão não é voltar lá. A questão é deixar aqui um trabalho tão impactante que as pessoas depois lá em cima digam que realmente vale a pena, que os guarda-redes têm categoria, têm as ferramentas todas, são inteligentes a jogar e que realmente achem que estou a fazer um trabalho muito bom. É por isso que quero ser contratado. Não quero ser contratado porque dá na cabeça de um gajo da 1ª Liga querer revolucionar tudo, porque as revoluções normalmente não acabam bem. As coisas têm de ser feitas com calma e passo a passo. Ali, ao fim de dois meses, senti que ia ter mais guerras do que outra coisa, portanto, eh pá, fui-me embora.

Pedro Espinha ao serviço do Lillestrom, clube da 1ª divisão norueguesa

Pedro Espinha ao serviço do Lillestrom, clube da 1ª divisão norueguesa

DR

Um treinador de guarda-redes também tem um espaço mais difícil, porque pode incluir-se em diferentes equipas técnicas sem as conhecer. Se calhar se estivesses com uma equipa técnica que partilhasse as tuas ideias, já não te separavas deles. Ou separavas?
Não sei. Eu acredito na mudança, sabes? O povo norueguês gosta muito de ver o que se passa lá fora, são completamente viciados na Premier League inglesa. Mas completamente. Antigamente eles tinham dois jogos da Premier League na televisão e só um da liga norueguesa. Qualquer miúdo aqui diz-te que é adepto de um Manchester, do Arsenal, do Liverpool... Quando o Liverpool foi à final da Liga dos Campeões, nem imaginas a azáfama que foi aqui neste país. Agora o Klopp contratou um gajo para os lançamentos de linha lateral e toda a gente presta atenção a isso e às bolas paradas. O Guardiola na época passada faz uma época assombrosa no City e também começaram a prestar atenção a isso. Mas isto para te dizer: tudo na vida pode mudar. Os paradigmas estão a mudar, a forma como se vê o treino de guarda-redes está a mudar e estou sempre atento à mudança porque quero estar sempre um passo à frente. O facto de ir para os cursos de guarda-redes mostrar exercícios que fazíamos na Geração Benfica com os putos, aquelas coisas integradas que eles nem imaginam que conseguem fazer, com bolas de praia, para treinar a reação, por exemplo... Para eles é tudo muito mecânico e analítico, como há 20 anos. Mas quando começo a usar aquilo e começam a ver que resulta, depois já me começam a pedir aquelas bolas emprestadas. Eu como sou um gajo que partilha tudo, não tenho problema nenhum - só não partilho a minha mulher. Falo, digo, mostro - as pessoas gostam disso. Agora estou aqui a começar um projeto giro com a federação nos cursos de guarda-redes, o que também é bom para influenciar algumas ideias, porque ainda há quem pense que o treinador de guarda-redes é só o gajo que aquece os guarda-redes e pouco mais. Acho que aqui na Noruega já há treinadores fantásticos: o problema é que estão rodeados por pessoas que ainda pensam de forma demasiado estagnada. Mas isso também há-de mudar.

Adaptaste-te facilmente à vida na Noruega?
Sim, sim. Lá está, ajudou-me muito ter cá a Rita, porque ela tem o trabalho dela, trabalha na área dela, e também ajuda bastante ela ter feito logo amigos, não só noruegueses, mas de outras nacionalidades, porque ela tem essa sorte de trabalhar em espaços multiculturais. Eu também tenho os meus amigos aqui do clube, também tenho ex-jogadores meus do Lillestrom com quem falo quase todos os dias... O povo latino tem muita facilidade em criar amizades. O povo norueguês ao início é um bocado fechado, são tímidos, mas depois passa. Acredita que não é muito difícil. As pessoas acham que o povo escandinavo é muito frio e fechado, mas é o oposto. Então no fim de semana é uma coisa estúpida, bebem até cair [risos]. É cada bebedeira... E tu sabes que eu não bebo, mas rio-me muito com estes gajos.

O que foi mais difícil então, o clima?
Não sei... O clima é um bocado irrelevante, metes mais roupa e pronto.

Mas a falta de sol...
Não é grave. Trabalha-se bem. E quem trabalha no futebol sabe que o futebol não é um trabalho normal. É importante que as pessoas aqui percebam isso, porque muitas vezes não percebem. O futebol não é um emprego das nove às cinco, é um emprego das nove às nove e muitas vezes acordas a pensar em bola e adormeces a pensar em bola. Isso foi o que mais me custou aqui: a importância que o futebol tem para mim não é a importância que o futebol tem para eles. O problema não é deles, é meu, porque eu é que não estou no meu país, portanto tenho de me adaptar e isso foi difícil, porque, sem baixar a ambição que tenho, tive de me adaptar à falta de ambição de muitos deles. Como também tive de evitar guerras por achar que a minha forma de trabalhar resulta melhor, porque já a vi resultar noutra realidade, mas pronto, agora estou noutra realidade. Isso é extremamente complexo. Quando saio daqui e volto a Lisboa, ou por exemplo quando fui ao Porto ouvir o congresso de guarda-redes da NGA, identifiquei-me com muitas das coisas que ali foram faladas, só que noutros contextos às vezes é difícil implementá-las. Essa é a chave do sucesso e da adaptação quando trabalhas em futebol. Trabalhas com pessoas e com a cultura em que elas se inserem. É complicado, por isso é que se começa a questionar o que é afinal o sucesso, também olhando para treinadores como o Bielsa e o Lillo. Eu acho que sucesso é quando tens uma ideia e essa ideia resulta na cultura A e depois, aos poucos, na cultura B e na C. Isso é sucesso, não são só os títulos.

Passando isto para um exemplo prático: para ti sucesso seria pôr os guarda-redes aí a jogar como o Ederson?
Bom, não só. O Ederson é um caso raro porque tem todas as ferramentas e mais algumas que um guarda-redes pode ter. Há tempos escrevi para o Lateral Esquerdo um texto intitulado "o guarda-redes na era da estratégia" e aqui, por exemplo, não tenho dois guarda-redes iguais, porque eles têm características diferentes, mas têm de ter bem presentes os nossos princípios. Obviamente todos os treinadores de guarda-redes querem que eles apanhem as bolas, não só para defendê-las, mas para que possa haver uma reposição rápida para lançarmos contra ataques. Essa é uma prioridade número um na nossa academia, nas crianças: recuperar a posse da bola. Porquê? Porque somos o Lyn, somos uma equipa de posse, e isso estende-se aos guarda-redes. O guarda-redes, sem bola, tem o '1' nas costas, com bola, tem o '10' nas costas. Ponto final. Com bola, organiza os colegas e o jogo, sem bola, é o número um, organiza a defesa. Tem de haver aquela lengalenga que ouvíamos na Geração: uma hierarquização de princípios bem definida.

Quem é melhor guarda-redes do mundo, para ti?
Olha, gosto do Ederson, como te estava a dizer. Gosto muito do Ter Stegen. Mas o melhor jogador de todos os tempos para mim é Maradona. E depois há o Riquelme. Ou seja, eu sou um romântico. O que quer dizer que o meu guarda-redes favorito há-de ser sempre o Buffon, até ele arrumar as luvas. E quando ele arrumar as luvas, hei-de procurar alguém que defenda assim há tanto tempo também. A longevidade e consistência do trabalho são muito importantes. Longevidade versus performance. Também gosto do Oblak, mas, tal como os outros, ainda tem de provar que consegue manter o nível no resto da carreira. Temos de balançar longevidade com performance.

Falando em performance, imagino que tenhas visto o livre em que Vlachodimos é batido no Chaves-Benfica.
Eh pá, não me faças falar sobre o livre. Tive uma discussão enorme num grupo de Whatsapp que tenho com treinadores de guarda-redes por causa disso. A questão é: cada vez mais, damos uma importância desmesurada às bolas paradas. Quer dizer, não é desmesurada, porque elas realmente podem virar um jogo em que podes estar a dominar todos os aspetos. O que posso dizer é que em livres a 30 metros da baliza, não meto barreira. Sabes o que faço? Peço ao meu guarda-redes que posicione os extremos bem abertos e o avançado perto da bola. No treino preparo o meu guarda-redes para receber remates de 10 metros, 15 metros, 20 metros, 30 metros e às vezes no final do treino até meto os nossos melhores rematadores a rematarem a 35 metros da baliza. Achas que conseguem marcar?

É difícil.
É muito difícil, a não ser que haja mesmo umas grandes batatas, remates do outro mundo. Nos últimos 15 anos, a fazer disso, tinhas o Recoba, o Ronaldo e o Roberto Carlos. Ou seja, no Chaves-Benfica, o que eu fazia era tirar a barreira. Acho que até era o Cervi que estava na barreira. Tira o extremo, abre bem os extremos e define-os bem lá em cima, define bem o ponta perto do marcador do livre, pronuncia bem os alas - ou seja, prepara a tua equipa para atacar. Que efeito é que isto vai ter? Quem vai para marcar o livre normalmente sente a pressão. Porque normalmente há tantas variáveis entre a bola e a baliza... Assim tiras logo metade das variáveis daí. E passa a ser um duelo entre o guarda-redes e o marcador do livre. E ele começa a sentir pressão, porque o guarda-redes está mais do que preparado para receber remates a 30 metros. Naquela situação específica, também acho que o Odysseas está muito dentro da baliza, porque é muito difícil apanhar a bola ali, tinha de estar mais à frente. Realmente o livre é bem batido para o canto inferior direito do guarda-redes, mas, lá está, se o Vlachodimos estivesse um metro mais à frente, com o tempo que ele tinha para ler a bola, facilmente a apanhava. O problema surge aqui: quem trabalha bolas paradas, em qualquer clube, deve trabalhar várias estruturas para as bolas paradas, várias opções. Quem está a defender bolas paradas deve lembrar-se que uma bola parada não é o fim do mundo: é uma oportunidade para reconquistar a posse da bola. Olha o México contra a Alemanha, no Mundial. Há um canto para a Alemanha e o Ochoa manda os extremos abertos lá para a frente, o ponta também, e o que é que os alemães fazem, começam a olhar para trás e pensam melhor. Está um a marcar o canto e outro no canto curto, portanto já só restam oito, depois saem da área mais três para irem marcar os outros três lá para trás, ou seja, já só restam cinco para atacar. Acho que nisso o Ochoa - ou quem pensou nas bolas paradas do México - foi brilhante. Temos de tentar dominar o caos e a inverter a tendência. Há alguém que vai tentar aumentar o caos e outro que vai fazer o oposto. O que aconteceu no Chaves-Benfica foi uma conjugação entre o mau posicionamento do Odysseas com uma barreira que não está ali a fazer nada.

Ele dá um passo para a esquerda que depois não o deixa chegar a tempo quando quer ir para a direita.
Sim, sim, deu um passo para onde estava a barreira. Não percebi o que ele quis fazer, mas não estou a criticar nada, atenção. Nas minha quinta e nas minhas galinhas mando eu. Em Portugal assume-se logo tudo como uma crítica direta. Pronto, foi um erro, na minha ótica. Aquela barreira não está a condicionar nada, está só ali. Já experimentei fazer livres de diversas maneiras aqui, mas pronto, as pessoas depois dizem "ah mas isso é a 3ª divisão norueguesa". Ok, mas podemos fazer. Eu disse ao meu guarda-redes para fazer exatamente isso que estava a dizer antes. Sabes qual foi a reação do gajo que ia marcar o livre? Primeiro, demorou muito mais tempo a marcar o livre, porque não estava a perceber, e depois pôs-se a olhar para o banco de suplentes, como que a perguntar o que fazia. Ele bateu direto à baliza, o meu guarda-redes apanhou a bola, lançou o contra ataque e foi golo. Eu estou sentado no banco e o meu treinador vem ter comigo e diz: "A partir de agora tratas tu das bolas paradas" [risos]. O mesmo nos cantos defensivos: prefiro tirar aquela malta toda da área e deixar que haja espaço para o meu guarda-redes. Mas pronto, a mim ninguém me ouve, que eu estou na 3ª divisão da Noruega [risos]. Mas se estou neste nível, é porque tenho de estar aqui. Se acho que tenho capacidade para outros níveis, acho. Mas tenho muita paciência também. Perde-se muito quando se quer subir depressa. Recordo-me que no Benfica, no final do meu primeiro ano, dizia assim ao Fonte Santa: "Arranje-me lá uma equipa de competição". E ele lá me mandou para a escola de Odivelas. Sabes qual foi o resultado? Aquilo acabou por fechar e eu voltei para onde estava antes. Pronto, era onde tinha de estar. Perdi tanto tempo a querer ir para a competição que nem degustei bem onde estava. E agora, muitos anos depois, cada vez que vou a Lisboa vou ali à geração ver treinos, porque passam-se ali coisas maravilhosas.

Não estás a pensar voltar a Portugal?
Não, não penso em voltar, porque estou aqui a fazer um trabalho. Quero acabá-lo ou pelo menos deixá-lo de forma a que haja continuidade. Por exemplo, quando fui para o Lillestrom, vinha cá duas vezes por semana para dar formação ao gajo que me substituiu. Não fecho a porta a nada neste momento, mas sei que em Portugal é sempre extremamente complicado. Quero é valorizar-me e logo se vê. Por exemplo, o trabalho que o César Gomes, que está agora no Nantes com o Miguel Cardoso, fez no Rio Ave com o Cássio, guarda-redes de 37 anos, perguntando-lhe: "Queres continuar a fazer a mesma merda ou queres aprender uma coisa nova?" É isso que eu quero. Não quero ir para uma equipa e fazer a mesma merda. Vamos fazer arroz outra vez? Não, tragam outra coisa para a mesa. Valorizem o jogo. Acrescentem coisas novas. É isso que eu quero para mim.