- Olá, Luís. Tudo bem aí por Chaves?
- Olá, Mariana. Tudo bem por aqui. E que tal a tua equipa?
- Está ótima, obrigada. Olha, estava a ligar-te porque estava aqui a pensar entrevistar o Vítor...
- O Severino?
- Sim, sim. É para uma secção nova que temos, de entrevistas com malta que intervém no treino de uma equipa. O que achas?
- Acho uma ótima ideia. Olha que ele vai dar um grande treinador principal...
Esta conversa com Luís Castro aconteceu mesmo, por telefone, e foi mais ou menos a mesma que surgiu quando a equipa do Expresso chegou a Chaves para a entrevista e encontrou o assessor do clube, Sérgio Mota: "O Vítor vai dar treinador..."
Para já, aos 34 anos, Vítor Severino é feliz com o que faz: é adjunto do Chaves de Luís Castro, tal como foi adjunto do Rio Ave de Luís Castro. Antes, foi adjunto dos juniores e da equipa B do FC Porto e treinador principal dos iniciados, já depois de ter começado a carreira na formação da Académica.
Qual é a tua posição no banco?
Sou o primeiro do banco. Fico no primeiro lugar, depois fica o mister Luís Castro e do outro lado dele fica o Vítor Martins. O mister gosta de nos ter a rodeá-lo, ainda que passe mais tempo em pé durante os jogos.
Qual é a posição de um adjunto numa equipa técnica?
É alguém que tem de contribuir de forma sistemática para aquilo que é o processo, a ideia de jogo que o treinador preconiza para a equipa. Isso acontece sob diversas dimensões. Por exemplo, nós aqui, apesar de sermos quatro assistentes, temos funções distintas. Ou seja, participamos todos no processo de treino e opinamos todos sobre aquilo que é a nossa ideia de jogo, porque todos fazemos essa reflexão e todos estamos envolvidos, mas depois há algumas tarefas particulares. Por exemplo, o Vítor [Martins] tem como responsabilidade receber tudo aquilo que é análise do adversário, e depois transformar isso num relatório e partilhar com a equipa técnica, também em formato imagem e vídeo. O Filipe [Celikkaya] está com a pasta da avaliação e controlo do treino, com tudo o que envolve GPS, relatórios, relação com o departamento médico... O [Carlos] Pires tem uma função específica de treino de guarda-redes e eu não tenho uma tarefa assim tão específica, acabo por estar um bocadinho a ajudar em todas, e também estou mais na parte de condução do treino e do planeamento do treino.
O planeamento é partilhado por todos ou o Luís pensa nisso primeiro e depois é que falam?
Fazemos de diversas formas. A maior parte das vezes é o Luís que faz a proposta e depois ela é discutida e acertamos alguns detalhes. Ah e há bocado disse-te que não tinha uma função específica mas afinal tenho, sou eu que esquematizo a ficha de treino, passo aquilo a limpo [risos]. Fotocopiamos para todos e seguimos para o treino - normalmente é assim. Também há outras vezes em que, depois de sairmos do treino e de fazermos uma reflexão sobre aquilo que foi o nosso dia... E normalmente já temos a semana sempre toda projetada, em termos mais macro, dos objetivos que queremos atingir. Pronto, delineamos logo as coisas após o treino e fica fechada a ficha para o dia seguinte. Noutros casos ainda, o Luís pede-me algo, eu faço uma proposta, envio-lhe a proposta, discutimos via Whatsapp, e depois fecha-se o plano no dia seguinte ou no próprio dia.
Quando dizes no próprio dia, referes-te ao dia em que é dado o treino em questão?
Não, não, nunca no próprio dia do treino. Planeamos no dia anterior. Quando estava a dizer no próprio dia era... Imagina, hoje fazíamos todos, em conjunto, no gabinete, a proposta para o treino de amanhã. Discutíamos, rabiscávamos e depois lá chegávamos a uma conclusão. Normalmente chegamos ao treino 1h30 antes, para podermos olhar para a ficha e ver que ajustes é preciso fazer quando recebemos informações do departamento médico. E ainda há uma outra forma: o Luís faz a proposta, mas às vezes não a faz de forma completa, havendo ainda espaço para alguma coisa que nos interesse fazer. Ele diz: "Pensem bem em algum exercício para isto. Já tenho uma ideia, mas quero que vocês pensem sobre isso e depois casamos as propostas todas e fazemos nascer o que queremos".
Pensando então numa semana normal, em que houve jogo domingo e haverá outro no próximo domingo. Decidem a semana de treinos como? Primeiro analisam o jogo anterior ou interessa mais o próximo jogo?
Então, é assim: nós temos timings para a chegada de relatórios sobre os adversários e também para as reflexões sobre o jogo que fizemos. Tudo é muito mais centrado em nós, sempre. Ou seja, mesmo que não existisse jogo, imagina, o morfociclo iria existir, independentemente de termos tido jogo ou não, em termos de objetivos e de componentes mais macro. Depois, essa reflexão sobre o jogo é feita por todos nós, porque no primeiro dia da semana discutimos o que cada um de nós viu do jogo. O Luís fala, o Vítor fala, o Filipe fala... Vamos trocando ideias. E trocamos ideias nesse dia porquê? Porque após o jogo fazemos logo uma reflexão entre nós, mas depois cada um vai para casa e vai ter uma segunda reflexão. Muitas vezes vamos no autocarro a dizer que o jogo foi assim e foi assado, mas depois de ver o jogo novamente, afinal... Às vezes percebemos que estivemos bem em coisas que achámos que estavam mal e vice-versa. Portanto é importante ver o jogo no dia seguinte e depois partilhar o que achámos.
A perceção do jogo que se tem a partir do banco é muito diferente?
Sim, muito diferente mesmo. A primeira questão é a perspetiva, é uma questão visual, do que é possível ver a partir dali, e depois é essencialmente muito diferente pela questão de estarmos a viver aquilo. Quando vemos de fora, já depois da emoção ter passado, já depois da vitória ou derrota... Muitas vezes o facto de ganharmos vai ancorar-nos a uma série de sentimentos que fazem parecer que umas coisas foram mesmo boas e que outras foram mesmo más. Não somos imunes a isso, temos essa consciência. Por isso, como estava a dizer-te, é que vemos o jogo no dia seguinte, já mais desligados da parte emotiva do jogo, o que cria uma perspetiva bem diferente. Mas nós também temos alguém, durante o jogo, que está mais acima, num plano superior, a ver o que se passa.
Vítor Severino só começou a trabalhar a tempo inteiro como treinador quando foi para o FC Porto, para adjunto da equipa B, em 2013/14, já depois de ter sido coordenador da formação da Académica, assim como treinador principal dos sub-23
Nuno Botelho
E comunica com o banco?
Sim, comunica com o Vítor e depois ele e eu discutimos essa informação, porque o mister [Luís Castro] costuma estar de pé. Tentamos filtrar essa informação para que quando a damos ao Luís aquela seja informação fácil de manusear, que ele não tenha ainda de estar a interpretar o que estamos a dizer, percebes? Coisas mesmo objetivas.
Para lançar lá para dentro?
Pode ser para lançar lá para dentro ou só para refletir um pouco. "Não estamos a atacar equilibrados", por exemplo. Então ele dá esse feedback imediatamente e tentamos corrigir. Ou está a acontecer algo que não nos está a deixar sair a jogar bem e então pensamos ali um pouco, vemos ajustes e até substituições possíveis, para depois filtrarmos ao máximo e darmos as coisas ao mister de forma objetiva. Portanto, ter alguém a ver o jogo noutro plano, mais elevado, é muito útil, sem dúvida.
Voltando então atrás...
Sim, estava a falar da preparação semanal. Fazemos então essa reflexão sobre o que se passou e a partir disso há coisas que sobressaem à vista. Por exemplo, aconteceu determinada coisa quando estávamos a ser pressionados por dois avançados e temos de arranjar uns ajustes a isso, independentemente do que vem aí no próximo jogo. É alguma coisa que é nossa e que achamos que correu mal no jogo, e que procuramos corrigir independentemente do adversário que possa aparecer no jogo seguinte.
Então, pegando nesse exemplo: a primeira fase de construção correu mal contra uma pressão alta de dois avançados. Mas no jogo da semana seguinte sabes que o adversário só vai pressionar com um avançado. Vais à mesma corrigir a saída contra aqueles dois?
É uma boa pergunta. A questão é que há coisas mesmo muito nossas e independentemente de nos pressionarem com um ou com dois queremos ter aquela capacidade de conseguir resolver o problema. Porque é um problema que nos vai aparecer mais vezes. E há também a questão contrária: muitas vezes chega-nos antes a informação toda sobre o adversário e há uma alteração no jogo, por isso de repente apanhamos uma equipa que está a jogar com uma linha de cinco ou uma equipa que estrategicamente tenta surpreender e fazer o contrário do que esperávamos. Aconteceu-nos, por exemplo, em Tondela, em que estávamos à espera de uma pressão muito alta, que nos condicionasse muito a nossa construção. Houve coisas que fizemos durante a semana para resolver esse problema, mas depois o que aconteceu no jogo foi mesmo o contrário: eles deixaram-nos construir à vontade e esperaram um bocadinho mais baixos. E era uma equipa que não tinha vindo a fazer aquilo nos últimos jogos. Portanto, já para estarmos preparados para esse tipo de surpresas... Repara, o peso que damos ao adversário também é pequeno, já por causa disso. Porque isso pode também condicionar-nos, porque andamos a dizer aos jogadores a semana toda que vamos sair de determinada maneira porque eles pressionam assim, mas depois chegamos ao jogo e não é isso que acontece. Depois os jogadores percebem isso: "Olha, afinal não vai jogar aquele, vai jogar o outro, já está a aquecer". Por isso é que damos um peso relativamente pequeno ao adversário. Passamos um vídeo de três minutos, mais ou menos.
Quando?
Normalmente no terceiro dia da semana, no dia 'grande', o dia em que treinamos em espaços maiores.
Portanto, quinta-feira, com jogo ao domingo?
Sim, com folga na segunda-feira. Quinta-feira mostramos esse vídeo, mas na quarta-feira também já mostrámos o vídeo das bolas paradas. Esse sim, acompanha-nos sempre. Porque falamos de posicionamentos do adversário e isso normalmente não muda muito.
Só se for com o Sarri, que treinava 30 bolas paradas.
[risos] Exatamente. Temos de estar preparados. Nós damos sempre essa abertura quando falamos aos jogadores: "Atenção, eles à partida vão estar posicionados assim e é provável que tenham estas marcações, mas também podem não ter". Os jogadores gostam de receber informação, mas se não tivermos alguma cuidado na forma como passamos a informação, eles podem ficar muito agarrados a ela, à espera que aquilo aconteça.
E depois se não acontece é um problema.
Exato, é isso mesmo. E os jogadores são todos diferentes. Por exemplo, além desses dois vídeos de que te falei - um da ideia geral do que joga o adversário e outro sobre as bolas paradas - também fazemos vídeos individuais, mas apenas para quem nos pede. Alguns laterais gostam de ter vídeos individuais dos alas adversários e alguns centrais gostam de ter vídeos dos pontas [de lança] adversários. Mas há outros que não querem. A informação pode transformar-se em lixo, não é? Pode ser problemática, por isso só damos informação individual a quem a pede. Tal como há jogadores que acabam o jogo e querem logo ter dados do Instat, para saber quantos passes acertaram, quantos falharam, qual foi o posicionamento médio da equipa, com quem é que interagiram mais... Alguns querem saber isso tudo. Eu digo-lhes: "Assim que chegar o relatório do jogo, eu envio-vos". E alguns, passado uma hora, já estão a perguntar: "Mister, quando chegar mande-me". Quer dizer, é mais um deles.
Quem?
O Stephen [Eustáquio]. É um desses que me está sempre a chatear, entre aspas [risos]. Gosta muito de receber esses dados, por isso assim que chegam, reencaminho para ele.
Vítor Severino chegou a Chaves esta época, como adjunto de Luís Castro, tal como aconteceu em Vila do Conde, no Rio Ave, em 2016/17
Nuno Botelho
Achas que isso é uma característica distintiva da geração mais nova? Se calhar por terem sido formados com mais conhecimento sobre o jogo.
Entendo. Talvez estejam mais preparados para essa realidade, sim. São a geração dos smartphones e dos tablets e das coisas que chegam no momento. Antigamente não era assim. Talvez tenha a ver com isso, mas claro que também tem muito a ver com a pessoa, com a personalidade de cada um. Ele gosta muito de receber esses dados mas também gosta de receber feedback qualitativo. Lá está, é como a questão de analisar o adversário, são dados, são números... O jogador gosta de saber como está em termos de eficácia de passe, por exemplo. Se está com 92% de acerto, se calhar quer ir para os 95%. Não é que isso seja uma questão muito importante para nós. Claro que falhar menos passes é sempre bom, mas o que nos interessa é a parte qualitativa.
Se fizer mais passes para trás se calhar acerta mais, mas são passes de risco menor.
Exato, é por aí. Por isso é que queremos sempre casar a informação quantitativa com a qualitativa, temos esse cuidado. Entregamos os dados e também os discutimos, e vamos falando com a equipa sobre os números, com o devido cuidado. Por exemplo, a nossa equipa, em termos de eficácia de passe, anda ali entre o primeiro e o segundo lugar da Liga, semana sim, semana não. Não é que isso seja, por si só, uma questão importante para nós, porque queremos é marcar golos, como é óbvio, mas interessa fazer perceber aos jogadores que, dentro da nossa equipa, houve determinados parâmetros que fizemos crescer, devido às melhorias de cada um deles. E é óbvio que para jogarmos o jogo que queremos jogar temos de perder poucas vezes a bola, portanto a eficácia de passe até acaba por ser relevante. Começámos ali no oitovo, sétimo, sexto... E com o andar da época estamos a tocar lá em cima, acho que juntamente com o Benfica. Em termos de posse de bola, acho que andamos ali nos cinco ou seis primeiros. Se calhar, no ano passado, no Rio Ave, andávamos mais acima, nos três primeiros, mas também tem a ver com a ideia, com os jogadores, com uma série de coisas. Não é o mais importante, porque, no fundo, não são objetivos, são apenas consequências de uma determinada forma de jogar.
Essa determinada forma de jogar é trabalhada desde o início da época, com a solução um, a solução dois, a três e por aí fora?
Nós trabalhamos mais em função de problemas do que em função de soluções. Ou seja, em vez de oferecermos essas soluções de que falas, tentamos oferecer problemas que causem constrangimentos e depois vamos vendo as coisas a acontecer e vamos reajustando. Em vez de dizermos assim: "Se eles nos pressionarem com dois, nós baixamos um e construímos a três". Em vez de fazermos isso, arranjamos formas, pela estrutura do exercício, de vermo a equipa ser mais ou menos pressionada, e depois vamos lançando as perguntas e as soluções vão aparecendo. E quando elas aparecem e fazem sentido para eles, passamos então a trabalhá-las de uma forma mais sistemática. As estruturas podem variar, o espaço, o número de jogadores, pode haver zonas de segurança para construir... E depois isso vai fazendo nascer as nossas formas de construirmos por trás, seja com dois, seja com três, seja com mais gente ainda, com os laterais mais baixos e até a sair com cinco... Há uma série de coisas que vão aparecendo. As que fazem sentido, mantemos na nossa ideia de jogo. As que achamos que não fazem tanto sentido para nós, ou porque nos retiram equilíbrio, ou porque nos retiram mais ligações à frente, ou porque chamam mais pressão para um ou outro lado do campo, vamos eliminando. Obviamente depois a ideia de jogo também vai crescendo. É traço da nossa ideia de jogo querermos construir a partir de trás, ligar o nosso jogo, ter variabilidade entre o jogo interior e o exterior, chegar com muita gente à frente, manter a equipa equilibrada, instalar o nosso jogo no meio-campo ofensivo e a partir daí jogar e chegar à baliza adversária. Mas, imagina, nós quando fizemos o nosso primeiro jogo no campeonato...
Não correu bem.
Tínhamos feito uma pré-época fantástica, a equipa jogava, tinha bola, construía bem, não tinha medo de ter pressão, não tinha medo de jogar com o guarda-redes, chegávamos juntos à frente e ganhámos os jogos praticamente todos, acho que só empatámos um. No primeiro jogo da Liga, em Guimarães, perdemos 3-2 - e estivemos a perder 3-0 - e dois dos golos foram depois de erros na construção. O resultado valida a ideia, não é? Aquilo tem de fazer sentido para os jogadores. Não podemos obrigá-los a jogar a partir de trás só porque é a nossa ideia de jogo. Não, eles têm de se apaixonar, eles têm de gostar daquilo. E acho que nesta fase do ano eles gostam mesmo de jogar, não é preciso dizer para construir por trás, porque se alguém de repente começa a chutar para frente ouve logo umas bocas dos colegas: "Joga, mete bola no pé". Eles têm de se ir apaixonando pela forma de jogar, mas é claro que o que valida isso são os resultados, não há como fugir aos resultados. A parte estética do jogo interessa-nos, mas os resultados é que validam essa forma de jogar. Neste momento, posso dizer que a equipa tem essa estabilidade. Outro exemplo: quando chegámos a Vila do Conde, na época passada, a equipa já tinha feito 10 jogos, nós entrámos à 11ª jornada [a equipa técnica liderada por Luís Castro foi contratada depois do afastamento de Nuno Capucho], não jogámos grande coisa - quer dizer, não jogámos nada [risos] -, mas andámos a treinar a nossa ideia durante duas semanas, porque houve paragem na altura. Ganhámos e não jogámos nada, treinámos, ganhámos e não jogámos nada - fizemos isto quatro vezes. Metemos quatro vitórias que serviram para quê? Para meter pontos na tabela, como é óbvio, mas acima de tudo para validar o que começávamos a treinar.
Mas aqui em Chaves, em termos de resultados, começou tudo muito mal.
Nos primeiros cinco jogos, só tínhamos um ponto. Foi horrível.
Aí não tens validação nenhuma.
Aí não tens nada mesmo. Tens um buraco negro à frente [risos].
Os jogadores disseram alguma coisa?
Não, por acaso nunca tivemos isso. Foi um momento realmente muito complicado, mas nós vínhamos de uma pré-época mesmo muito boa - é óbvio que os jogos não valem pontos, mas aquilo pegou bem, digamos assim, eles jogavam e conseguíamos ter algum domínio e ganhar. Chegámos a Guimarães e falhámos e sofremos por erros, essencialmente na nossa construção. Fomos para o segundo jogo, contra o Benfica, e perdemos por 1-0 aos 92 minutos. Não foi o melhor jogo, mas houve coisas boas durante o jogo, conseguimos ter alguma estabilidade, conseguimos chegar à baliza deles, mas, ok, perdemos. Próximo: Setúbal. Na nossa cabeça, o que é que começa a surgir: Guimarães não foi assim tão mau, mas pronto, erros nossos; Benfica é um grande adversário, mas foi um bom jogo; então, se vamos a Setúbal, é agora. Chegamos a Setúbal e fizemos o pior dos piores jogos desta época [risos]. Foi horrível. Não jogámos. O Setúbal fez um jogo fantástico, nós fizemos um jogo horrível e empatámos. Ok, nós somos seres humanos, queremos sempre ir à procura de coisas às quais nos podemos agarrar: fizemos um ponto, já pontuámos, foi fora, foi difícil. O próximo jogo já era em casa, com o Feirense, e perdemos 2-0. E a seguir íamos ao Dragão [risos]. O cenário estava montado. Fomos ao Dragão e perdemos, mas não fizemos um mau jogo. A seguir veio o Moreirense e finalmente conseguimos associar um bom jogo a um bom resultado. Depois voltámos a jogar bem e a ganhar, frente ao Estoril. Depois recebemos o Tondela e voltámos a jogar bem, mas eles jogaram muito baixos e nós não conseguimos marcar mais, apesar de termos criado várias oportunidades. Mas a partir daí já estávamos a sentir que tínhamos agarrado a situação. Mas realmente à 5ª jornada tínhamos algumas dúvidas, os jogadores tinham algumas dúvidas, mas nunca notámos nada em treino, foram sempre muito profissionais e nunca colocaram em causa a forma de jogar.
Vocês continuaram sempre na mesma linha, não mudaram nada na ideia?
Não mudámos. Nunca pedimos para se começar a jogar direto, nunca pedimos para ter a linha defensiva mais baixa. Nós acreditámos sempre e nunca largámos a nossa ideia. Ajustes mais micro, isso sim, fizemos. Nós começámos, a determinada altura, a construir com três, porque achámos que fazia sentido, e no início não estávamos a fazê-lo, também porque achámos que isso exigia uma certa maturidade, uma série de coisas mais coletivas que achávamos que a equipa ainda não estava preparada para fazer. Também alterámos um pouco a nossa forma de pressionar, defendendo com mais linhas e com mais gente a chegar à frente, quando no início tínhamos apenas três linhas a defender: quatro mais quatro mais dois, com um dos médios a saltar à frente. Ou seja, foram ajustes mais micro nesses momentos, mas em termos de ideia, de como ter ou não ter bola, isso nunca mudou. E, felizmente, começámos a ter resultados.
Tenho ideia que a equipa, antes, era menos equilibrada quando estava em organização ofensiva. Não se precavia para a transição defensiva.
Sim, no início. Sabes que nós também fomos fazendo algumas mudanças em termos da estrutura da própria equipa. Houve alturas em que jogámos com dois médios um pouco mais baixos e um jogador mais à frente a ir buscar o espaço entrelinhas. Andámos assim e até tivemos bons resultados assim, mas depois mudámos, acho que foi a seguir ao jogo de Braga, que perdemos 1-0. Tivemos uma boa série de resultados, mas as coisas não tinham ficado totalmente resolvidas, não era de repente que começávamos a jogar muito e a ganhar. Tínhamos alguns pontos, já não tínhamos aquela pressão dos últimos lugares e decidimos mudar definitivamente a nossa estrutura, passando a jogar com um pivô declarado e com dois interiores. Esses ajustes em termos de estrutura também fizeram com que existissem outros ajustes, principalmente nessa questão dos equilíbrios. Acho que isso que disseste é verdade, mas também é um bocadinho reflexo da confiança que a equipa foi conquistando. Se calhar já perdemos menos vezes a bola, já conseguíamos fazer chegá-la de um lado ao outro sem que houvesse uma quebra pelo meio... Ou seja, acaba por haver mudanças mas não quer dizer que sejam declaradas pela equipa técnica, porque uma equipa tem vida própria, não é? E a nossa foi crescendo para ter maior estabilidade, é essa a minha perceção.
O lado emocional é muito importante no futebol ao mais alto nível? Como dizias, a pré-época correu muito bem, mas aí falta o aspeto competitivo, a pressão dos pontos, os gritos dos adeptos...
Sim, é muito, muito importante. Repara, em casa, em determinados momentos, sempre que havia um passe para trás as pessoas não batiam palmas, estás a perceber? [risos] E alguns jogadores da equipa... por exemplo, o jogador que jogava na posição 'seis', que é um jogador que às vezes tem de fazer passes para trás, as reações mexiam um bocado com ele, porque eles são todos diferentes, não é? Fora de casa, já era ao contrário: se nós passássemos para trás, já havia palmas, mas eram palmas dos adeptos adversários, que gostavam que nós jogássemos para trás [risos]. Fomos desmontando isso, mas a questão emocional é muito importante, ao ponto de nós em alguns momentos termos tomado algumas decisões relativamente à equipa que jogava em casa ou fora, numa ou noutra posição, porque sabíamos que alguns deles iam ficar um bocadinho mais afetados e não iam ter estabilidade no jogo. Numa forma de jogar como a nossa, em que queremos que todos estejam constantemente envolvidos, se houver uma unidade que está mais perturbada, aquilo é um castelo de cartas na equipa. Deixa de haver ligações e começa a cair tudo.
Passas mais tempo a pensar num dos momentos - organização ofensiva, defensiva, transições - ou é tudo igual?
É igual. Gosto de pensar nas coisas todas ao mesmo tempo. Quando digo ao mesmo tempo, não é no sentido da confusão, é no sentido de pensar no jogo todo, sem estar a parti-lo assim em bocadinhos. Não me dá mais prazer pensar em princípios ofensivos ou pequenos ajustes ofensivos para a semana de treinos do que em defensivos. Vou pensando sempre nos dois, acho eu. Vamos pensando nos nossos princípios e vamos tentando transformar isso em exercícios para cada um dos dias. Gosto de pensar no jogo e gosto muito de pensar no treino, isso é a parte que me dá mais prazer, é preparar a semana, preparar a estratégia para jogo e, claro, o dia de jogo. Mas o dia de jogo é muito... é muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, na parte emocional [risos]. Às vezes vejo aqui no relógio [um smart watch] os disparos na pulsação que tenho quando estou no banco, porque realmente aquilo mexe muito connosco. Brincava com isso no outro dia, quando tivemos um jogo aí com o Portimonense, em que estivemos a ganhar 2-0, depois 2-1, e houve ali uma parte final complicada. Essa emoção mexe connosco e essa parte do jogo é fantástica, tu sabes disso também.
Fiz-te essa pergunta porque fica sempre a ideia que o Chaves é mais competente em organização ofensiva do que em organização defensiva.
[risos] Sim, acho que isso talvez seja verdade.
Por exemplo, lembro-me de contra o Boavista e contra o Vitória de Guimarães a equipa estar em organização defensiva, com a bola já dentro da área, e a linha defensiva não alinhou pela bola, sofrendo golos assim.
Sim, sim, claro, nós temos essa consciência e já tivemos essa discussão, como é óbvio. Nós atacamos muito melhor do que aquilo que defendemos. Temos muitas preocupações com o processo defensivo, não temos menos preocupações com o processo defensivo do que com o ofensivo [risos]. A questão da linha é uma questão que nos preocupa e que trabalhamos semanalmente. Andamos sempre a ver o que podemos acrescentar ao nosso morfociclo e também chegámos à conclusão que podíamos fazer algum tipo de trabalho que chamamos "trabalho complementar", ou seja, além daquilo que fazemos numa unidade de treino, ainda ficamos com alguns jogadores, seja com a linha defensiva, seja com os médios, e tentamos treinar alguns dos princípios de forma mais isolada, entre aspas. No fundo, é transformar uma palestra num exercício. Às vezes chamamos os jogadores e falamos: "Ok, alinha por aqui, se a bola está daquele lado, atenção, se está aqui, sais a pressionar..." Ou dizemos que o médio tem de estar mais próximo para a cobertura, ou que o central não deve sair para o corredor lateral... Este tipo de conversas mais pormenorizadas, em vez de serem palestras, passam a ser cinco ou seis minutos ali no campo. Tivemos algumas melhorias, mas é curioso porque, no outro dia falava com o Vítor sobre isto, acho que às vezes nós ficamos tão confortáveis no jogo que alguns jogadores ficam a sentir-se tão confiantes que por vezes se esquecem do que são. Digo isto no sentido positivo, porque eles começam a ver a nossa equipa confortável... Por exemplo, é muito comum no início dos jogos termos uns três minutos com bola. Vai a um lado, vai a outro, vai dentro, vai fora... E o que sinto de fora é que às vezes parece que estamos a dominar tanto que eles ficam tão confortáveis e de repente... Se calhar é o lado negro da nossa ideia de jogo, mas também tem a ver com os jogadores e com o adversário. Ou seja, tens razão no que dizes, mas da nossa parte não existe uma preocupação exacerbada em trabalhar o ataque e não trabalhar a defesa.
Claro que às vezes também há comportamentos micro que é difícil controlar. Por exemplo, contra o Benfica, muitas das vezes em que o guarda-redes era solicitado, não efetuava uma receção aberta, recebia a bola com os apoios fechados, o que o obrigava sempre a jogar no mesmo lado e aumentava a pressão sobre a equipa.
Sim, aconteceu.

A equipa técnica do Chaves no Estádio da Luz
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Claro que na altura sente a pressão, aqui a falar não há pressão nenhuma.
Sim, claro, ele num momento em que está constantemente a levar com pressão até tem dificuldade em pensar seja o que for. Obviamente sei isso, porque uma coisa é estar aqui em Chaves com 2500 pessoas e outra coisa é estar sentado no banco da Luz e ter 60 mil pessoas à volta a gritar. Ou estar no Bessa, que apesar de não ter tanta gente é um sítio onde a equipa técnica está ali 90 minutos a levar [risos]. Nós até nos rimos às vezes, porque aquilo são músicas e é filho daqui, a tua mãe isto, a tua mulher aquilo, o teu pai aqueloutro... E sabem os nossos nomes e tudo. Mas eu gosto dessa parte do futebol, sinceramente. Sem levar para a parte da ofensa, claro, que ninguém gosta de ser ofendido, mas o ambiente ali é aquilo mesmo, é genuíno, é intenso. Mas isto a propósito do que estavas a dizer: claro que o envolvimento condiciona coisas que parece que já estavam consolidadas nos jogadores. O guarda-redes sabe perfeitamente o que tem de fazer, a linha defensiva também sabe como se comportar com a bola coberta ou descoberta, com a bola no corredor central ou lateral, mas de repente há ali um que falhou e é um castelo de cartas, depois olhamos e a linha já está toda deformada. Às vezes um erro micro põe em causa um plano mais macro.
E se dá golo adversário pior ainda.
Claro, muito pior. E depois quando dá golo... É como aquela história: quando temos um aluno que é muito bom e ele tem uma nota baixa no teste, é porque lhe correu mal. Ele sabe, mas correu-lhe mal. Pelo contrário, se há um aluno mau que tem boa nota no teste, é porque deve ter copiado por alguém. Aqui é um bocado isso também. Quando as coisas saem bem, quando há um golo como aquele que nós fizemos no Marítimo [os 11 jogadores do Chaves tocaram na bola antes do golo], aí é: "Fantástico, que grande ideia de jogo, espectacular, uma equipa que não é grande a jogar assim, fabuloso". Mas quando sofremos golos como sofremos em Guimarães, quando perdemos bolas na construção: "Ai eles são uns românticos, querem jogar assim como? O futebol não é para isto, o futebol é ganhar". [risos] Pronto, temos de viver aqui entre estes dois pólos.
Ligam muito a isso, aos elogios pela forma de jogar e às criticas exatamente pela mesma forma de jogar, quando o resultado não é bom, especialmente contra os grandes?
"Por que é vão jogar assim com os grandes, são uns românticos". Nós achamos que podemos conquistar mais coisas assim. A probabilidade de se perder um jogo desses já é grande, basta olhar para os números dos últimos 20 anos e ver quem ganhou no Dragão, na Luz. Não vamos abdicar daquilo que nós somos e pôr em causa o que fazemos por causa daquele jogo. Vamos à procura do melhor. Este ano tem sido mais difícil, mas no ano passado, no Rio Ave, fizemos um grande jogo no Dragão, fizemos um grande jogo em casa com o Benfica e conseguimos discutir. Mas estavas a perguntar se lemos o que dizem?
Sim.
O Luís não gosta. Não lê muito e não tem redes sociais.
Pois, lembro-me de me ter dito isso quando o entrevistei [AQUI].
Não tem redes sociais e não sabe bem o que é o Twitter [risos], sabe porque eu lhe digo de vez em quando.
E dizes-lhe que metes no Twitter vídeos da equipa?
Digo, claro. Tento utilizar as redes sociais de uma forma bastante ponderada. Vou partilhando algumas coisas, porque gosto de futebol e sei que há gente que, como eu, vai gostar daquilo, por isso tento partilhar. Até nem uso muito as redes, mas houve uma altura, quando fizemos aquele golo contra o Marítimo, em que quis partilhar aquele golo. Eu nem tinha seguidores quase nenhuns, pouco utilizava o Twitter. Mas pus lá o golo, à noite, e fui dormir. E quando acordei, fui ver e estava cheio de notificações, porque aquilo estava a ser partilhado por centenas de pessoas. Cheguei ao treino e disse: "Mister, aconteceu aqui uma coisa que se calhar não vai gostar. Partilhei o nosso golo contra o Marítimo e aquilo rebentou". Até houve um jornal que pegou, acho que foi "O Jogo". E o mister: "Ok, não há problema". Aquilo foi sendo cada vez mais partilhado e não tinha mesmo noção que aquilo ia ter aquela repercussão. Até houve gente que me mandou e-mails, pessoal que treina no estrangeiro e entretanto até continuamos a falar, vamos trocando ideias sobre o treino, outros vídeos... E pronto, de vez em quando, quando acho que há qualquer coisa que tem a nossa impressão digital, partilho nas redes. Algumas jogadas nem dão golo, para não dizerem que, além de ser um romântico, só ponho as coisas quando correm bem [risos].
Aquele golo contra o Marítimo é o auge para um treinador? Todos a tocarem na bola e dar golo?
Esteticamente agrada-me muito. Se nós gostamos de ter uma ideia de jogo que envolva toda a gente em todos os momentos e se toda a gente toca na bola, inclusive a jogada começa com dois passes para trás - aqueles passes que dão "uuuh" aqui no estádio -, então isso é fantástico. Até porque depois descobrimos gente ali a aparecer por dentro, o terceiro homem livre, passes no pé, passes no espaço... Mas o Luís na altura o que me disse foi: "Eh pá, meteste este golo mas devias ter metido o outro, que eu gosto mais do outro. É mais complexo" [risos].
Foste treinador adjunto no Rio Ave, no FC Porto B e nos juniores do FC Porto. Mas também foste treinador principal nos iniciados do FC Porto e nos sub-23 da Académica. São funções muito distintas umas das outras?
É diferente. Mas acho que é fácil andar entre uma e outra quando as pessoas se sentem realizadas com o que estão a fazer. Se for treinador adjunto e tiver na cabeça um plano de só estar aqui para chegar ali, isso não vai resultar. No meu caso, ser adjunto é fácil, porque gosto muito daquilo que faço e sinto-me muito realizado com as minhas funções, com tudo o que envolve a parte do planeamento, do jogo, da reflexão, da análise, e tenho a sorte de trabalhar com pessoas que também permitem que haja um clima saudável e equilibrado de trabalho. Tal como todos os jogadores da equipa estão envolvidos no jogo, também todos os elementos da equipa técnica estão envolvidos no trabalho - a nossa equipa técnica reflete aquilo que é a ideia de jogo da equipa. Obviamente, tendo o Luís Castro a liderar todo o processo. Um treinador adjunto está sempre mais salvaguardado, mais protegido, porque não sou eu que tenho de falar nas flash interviews, não sou eu que tenho de justificar as coisas... São coisas diferentes mas dá-me um prazer enorme estar aqui, ainda por cima estando a este nível. Antes de estar aqui já era treinador adjunto, estava com o Folha nos juniores do FC Porto, e antes disso tinha treinado sub-15 e sub-14 no FC Porto e já tinha treinado seniores no distrital. Mas a este nível mais alto ainda não tinha estado, só tinha estado na 2ª Liga, enquanto adjunto do José Guilherme, no FC Porto B. É uma função que para mim é fácil, porque me dá prazer desempenhá-la.
Discutem muito, entre treinadores?
Em que sentido?
No sentido de existirem mesmo discussões acaloradas sobre as decisões.
Não. Discutimos pouco. Claro que temos momentos de discórdia, mas nada de especial. Obviamente a decisão final é sempre do treinador, mas não deixo de partilhar a minha visão, não de uma forma que me faça parecer teimoso, mas a tentar mostrar que acho que o meu contributo é importante. Acho que o treinador adjunto deve ser alguém que contribui para o equilíbrio do sistema. Se o treinador estiver muito confiante relativamente a uma decisão, não vou acender uma fogueira, mas se calhar posso dizer uma outra coisa para deixá-lo alerta. E se eu o sentir demasiado alerta, se calhar faço ao contrário, apago a fogueira e tento dar-lhe algum conforto. Não é obviamente inventar coisas que não existem, mas é contribuir para não cairmos no erro de só abanarmos a cabeça. "Eu acho que é por aqui", então "sim, mister, tem razão". Mas afinal "agora acho que é por aqui" e depois "sim, mister, tem razão". Percebes? Dizer que sim a tudo não faz de alguém um bom adjunto.
Quando falei com o Rui Quinta (AQUI), ele dizia que quando se tornou adjunto do Vítor Pereira, tinha apenas um objetivo: deixá-lo o mais confortável possível com tudo. Podia discordar e dizê-lo, mas depois de haver uma decisão 'X', todos remavam para a decisão 'X'.
Claro, nós também funcionamos assim, vamos falando e vendo. Nós também gostamos muito de ver tendências, por exemplo. Vamos vendo outras equipas a jogar e vamos discutindo: "Ontem vi esta equipa a construir de determinada forma". O Borussia Dortmund, por exemplo. Depois faço uns cortes em vídeo para os outros verem. E depois podemos utilizar ou não, mas vamos discutindo aquilo. O Luís chega e tem uma ideia, mas eu tinha pensado de forma diferente - falamos e depois ele diz que é por ali: então é por ali. Pegamos na ideia e operacionalizamos por ali. Não é uma questão de discordar, é meter em cima da mesa visões diferentes.
Acabam apenas por ser opções.
Sim, por ali ou por ali. Nunca chega ao ponto de discutirmos, se calhar também tem a ver com as nossas personalidades.
E também porque têm uma forma semelhante de abordar o jogo. Se te emparelhassem, enquanto adjunto, com um treinador principal que não vê o jogo e o treino como tu...
Sim, também tem a ver com isso, claro. Há maneiras de ver as coisas que não são compatíveis. Eu tive essa sorte até agora. Tu se passaste por uma situação difícil como essa provavelmente cresceste e aprendeste algo, apesar de não ter sido a melhor experiência.
Achas que as pessoas têm noção da quantidade de trabalho e de pessoas que são necessárias numa equipa técnica? Porque normalmente só se fala no treinador principal.
Acho que não têm noção disso. Lá está, tem aspetos bons e maus, porque tantos os aplausos como as balas são direcionadas para o treinador principal. E pode haver uma semana em que a equipa técnica até nem esteve ao seu melhor nível, mas as balas vão sempre para o mesmo. É óbvio que as pessoas não têm noção, porque não tem acesso a essa dinâmica, provavelmente não sabem como é que uma equipa técnica funciona, quantas pessoas são necessárias, o que fazem... E não é só a parte técnica da coisa, porque nós somos todos pessoas e temos os nossos dias maus. Já aconteceu o treinador ligar-me e dizer: "Olha, tive uma questão familiar, difícil, e preciso que amanhã dês o treino que eu não vou". Não é tão simples assim, não é, não é só dar o treino porque o treinador não está, temos de saber estar lá, temos de saber que se calhar é uma semana difícil e que tem de haver ajustes. Isto para dizer que somos o treinador, o adjunto e por aí fora, mas também temos família e filhos e amigos e problemas e tudo isso. Por isso é que no início te falei no equilíbrio: nós todos temos de contribuir para o equilíbrio da equipa técnica. Não só naquilo que tem a ver com o jogo, mas também na nossa forma de estar na vida.
Vítor Severino tem 34 anos e começou a carreira de treinador em 2005/06, na Académica
Nuno Botelho
Normalmente quando pergunto aos treinadores quem gostam de ver jogar em Portugal, dizem-me o Chaves e o Rio Ave. E tu?
Gosto de ver, claro que sim, mas, sinceramente, gosto de ver todos os jogos da 1ª Liga.
Todos?
Todos. Tanto vejo o Aves-Estoril como o FC Porto-Sporting. Não é tanto a questão de ver uma ou outra equipa a jogar, é mesmo ver a nossa Liga, conhecer bem o contexto em que estou. Se houver jogos de 1ª Liga, quero ver. Se estiver de folga nesse dia, se calhar vou ter de saltar um ou outro, porque tenho uma filha com três anos e uma mulher, portanto tenho de compreender que não pode ser sempre futebol. Gosto genuinamente de ver os jogos todos. E, na 2ª Liga, gosto de ver o FC Porto B. Essa sim, gosto de seguir. Não é por ter estado lá nem por conhecer as pessoas, é pela ideia que se tem ali do jogo, acho que é uma equipa que joga bem. Lá fora, gosto de ver o Barcelona, o City, o Liverpool, o Nápoles, a Juventus... Basicamente, é isso. Não vejo muita Liga francesa nem muita Liga alemã. E algumas delas têm formas de jogar distintas, mas tanto me dá prazer ver o Liverpool como o City. Claro que me identifico mais com a forma de jogar de uma, mas também gosto muito de ver a outra jogar.
E conseguias ser adjunto numa dessas equipas que não tivesse uma ideia com que te identificasses?
[risos] Não sei.
Quando falei com o Pepa (AQUI), ele disse-me que a certa altura decidiu mudar um bocado a ideia de jogo que tinha no Tondela, para algo mais pragmático, digamos assim.
Sim, eu li isso. Compreendo, mas não sei que resposta posso dar. Acho que quem lidera o processo é que tem de decidir por onde quer ir e os adjuntos têm de ir também.
Se fosses treinador principal, mudavas a tua ideia?
Mantinha a minha ideia em termos do que são os pilares, como te disse, mas podia modificar algumas coisas que têm a ver com o contexto. Mas acredito genuinamente nisto. Ou seja, esta não é a ideia de jogo que eu acho que deve ser jogada, é uma ideia de jogo que pode ser jogada. Em qualquer contexto. Como gosto dela, não vou largá-la. Até porque não saberia treinar de outra forma. Imagina que tinha de abdicar da minha ideia. Não estou preparado para pensar no jogo dessa forma. Porque todos os nossos exercícios, dos mais micro até aos mais macro, refletem aquilo que é nossa ideia. Às vezes temos essa discussão na equipa técnica: "Se jogássemos de outra maneira, com um bloco baixo e de forma direta, como é que íamos treinar? Que exercícios fazíamos?"
Se calhar era mais fácil.
Achas que era? Não sei.
Se queres construir a partir de trás tens de trabalhar isso, ter várias soluções para os problemas que te aparecem, mas chutar para a frente é só chutar para a frente.
Mas também tens de fazer exercícios. Fazes o quê? Nós fazemos imensos jogos posicionais, de posse, pequenos, maiores, sei lá, alternamos muito entre o grande e o pequno, também para haver ali um bocadinho de caos organizado. Portanto, não sei o que faríamos [risos]. Não estou a dizer que é mau, atenção, estou é a dizer que para nós seria difícil. Teríamos de instalar um software novo e logo se via. A verdade é que a minha profissão é treinador de futebol, não é treinador de futebol com a ideia de jogo 'A'.
Provavelmente quando estavas na Académica era uma ideia diferente.
Era, claro. Porque depois vais convivendo com pessoas diferentes, competições diferentes, treinadores diferentes, vais lendo, vais crescendo como pessoa... E se tu mudas, tudo muda também. Vês jogos, vês filmes, tens filhos, essa mudança pessoal também te faz caminhar para sítios diferentes.
Crês que a forma de jogar do Chaves é possível com qualquer equipa do mundo?
Acho que sim.
Normalmente ouvimos "ah mas com estes jogadores não dá para fazer isso".
"Não vai dar", não é assim? Curiosamente, eu conheci o Luís Castro numa conferência da UEFA, em Madrid, quando ele estava no FC Porto e eu na Académica. Passámos ali quatro dias juntos e...
Foi o destino.
[risos] Se calhar. Depois ainda se passou algum tempo, até que ele me ligou a perguntar se eu queria ir para o FC Porto e entrei na equipa B, com o José Guilherme como treinador principal. Mas isto para te dizer que nessa tal conferência estava uma pessoa que conheci e que depois me deu possibilidade de ir fazer um estágio no Barcelona, que era o Victor Sánchez, que agora é adjunto do Paulo Sousa. Na altura, ele era coordenador do gabinete de metodologia do Barcelona e foi lá falar na conferência, e aquilo era na altura em que o Guardiola ia para o Bayern de Munique. E eu posso dizer-te que nós éramos oito portugueses, oito búlgaros, oito suíços e muitos espanhóis, e a discussão que se gerou na sala foi: será que ele vai conseguir meter o Bayern a jogar daquela forma? E, na altura, o Victor disse: "Tenho a certeza que vai". Mas, do outro lado, mais ninguém concordava, estavam todos de pé atrás. Lembro-me perfeitamente dessa discussão. "Na Liga alemã? Ah, não vai dar". E depois quando foi para o City? "Ah, na Liga inglesa não vai dar". E afinal... Agora, vai resultar exatamente da mesma forma? Não, mas os pilares podem perfeitamente ser os mesmos. Queremos construir a partir de trás, queremos ter a equipa equilibrada a atacar, queremos montar triângulos no corredores, queremos ter variabilidade entre jogo interior e exterior, queremos andar à procura de profundidades pelo chão, curtas ou largas... Há uma série de coisas que podemos procurar, mas depois a forma como aquilo evolui depende.
Por absurdo, se agora fossem para o Real Madrid, a proposta seria a mesma ou teriam de adaptá-la?
Provavelmente teríamos de adaptá-la um pouco. Existe um património histórico e cultural de um clube e depois tem também a ver com os jogadores que lá estão.
Num nível de rendimento tão elevado, se dizes a um jogador para fazer 'X', ele irá fazer 'X' mesmo estando habituado há anos a fazer 'Y'?
Entendo perfeitamente o que estás a dizer. Provavelmente teria de haver alguns ajustes, mas é como te digo: os pilares podem sempre ser os mesmos, depois o resto da 'casa' é que pode ser construído de forma diferente. Nós já o fizemos, por exemplo, no ano passado, no Rio Ave: tínhamos, por exemplo, o Gil Dias e o Rúben Ribeiro a jogar por fora. E o Rúben era um jogador de procurar muito mais espaços interiores - e o Rafa andava por fora - e o Gil não, porque o Gil era um jogador de pouco toque e pouco envolvimento, e nós respeitávamos essas características, porque também trazia coisas boas à nossa ideia. Agora, este ano, já jogamos com dois alas que são mesmo alas.
Mas o Matheus, jogando à direita, vem várias vezes para dentro, sendo canhoto.
Vem, vem, exatamente. Ele gosta de jogar na direita precisamente por isso e nós também gostamos de vê-lo ali a aproveitar aquele espaço. Mas depois vês a equipa a conquistar coisas à direita, com o Matheus, por exemplo, e depois dás por ti e vês, do outro lado, um jogador como o Davi [Davidson], que não tinha tantas características para isso, mas já o faz. Mas não vamos castrar ninguém, porque gostamos da variabilidade, gostamos que os jogadores sejam diferentes. Jogando no ano passado o Heldon e o Gil já era diferente do que se fosse o Rúben e o Heldon, ou com o Krovi [Krovinovic] por fora, como também chegou a jogar. Isto para dizer que os pilares eram sempre os mesmos, mas umas vezes íamos mais por dentro, outras mais por fora.
Sentiste muitas diferenças quando saltaste da formação para o profissional?
É diferente, mas lembro-me de... Estás a falar de profissional, na 1ª Liga?
Na 1ª Liga, sim.
Comecei a trabalhar a full time quando fui para o FC Porto B. Trabalhei oito anos na Académica e aí no FC Porto foi mais aquela coisa quando me equipei e me olhei ao espelho. Senti aquilo. "Uau, cheguei aqui". Confesso que nesse dia estava um bocadinho perdido, tinha tudo muito à flor da pele. Depois, na 1ª Liga, no Rio Ave... Depois de ter passado pela formação, de ter sido coordenador, de ter sido adjunto, de ter sido principal, no distrital, no FC Porto, nos juniores, nos iniciados, na equipa B... O sentimento foi mesmo: ok, estou preparado para isto. Era mesmo aqui que queria estar, cheguei e estou preparado. Não tremi nada, senti-me mesmo muito confiante. E é diferente, porque é mais fácil.
Em que sentido?
É tudo muito mais fácil. Quando trabalhas com profissionais, é mais fácil. Não te sei explicar bem... Não tens de chamar a atenção, eles estão prontos. Quando trabalhas com miúdos ou com mesmo juniores, é diferente. Se calhar também tive a sorte de apanhar um grande grupo no Rio Ave. É mais fácil porque estão mais predispostos para aquilo. O profissional chega ao treino para treinar, para fazer o que tem de fazer, ponto. Nós apresentamos e eles fazem.
O Rui Quinta disse-me que notava a diferença entre os grandes jogadores e os bons jogadores num pormenor: os grandes jogadores apenas queriam saber o que é que o treinador queria que eles fizessem e eles faziam; os outros faziam, mas torciam o nariz ou tinham sempre uma opinião diferente sobre aquilo, "eu acho que devíamos era fazer isto".
Concordo completamente com essa visão. Se pensar nos grandes jogadores, de grande nível técnico, as coisas são mesmo assim. Podem também ter opinião, mas fazem o melhor possível. Mas também acho que não gostam de fazer por fazer, querem perceber o significado do que estão a fazer - e é para isso que estamos no campo também. Às vezes vamos partilhando e eles próprios vão sugerindo coisas, porque sentiram isto aqui e ali, é uma boa interação. Mas é muito fácil trabalhar com profissionais e é muito fácil trabalhar com jogadores top. Estão no treino para treinar. Eles não vão ao treino, eles vão treinar. Claro que há coisas que lhes agradam menos e coisas que lhes agradam mais, em termos de exercícios de treino, mas nós também temos de ter essa perceção deste lado, as coisas têm de fazer sentido para eles do ponto de vista emocional. Não podemos fazer exercícios para obrigá-los a fazer determinadas coisas. Aquilo tem de fazer sentido para eles. Concluindo, acho que é muito mais fácil trabalhar com profissionais do que com qualquer outro escalão ou divisão.
Se bem que, estando no FC Porto, mesmo na formação, sendo um nível bastante alto, facilita. Ainda que na equipa B tenha de haver sempre muitos ajustes, por haver jovens e seniores misturados.
Sim, sem dúvida. Quando estive na equipa B, numa semana podíamos ter 20 a treinar, mas depois vinha o Kelvin e vinha o Fucile e vinha o Rolando, por exemplo. E aí já é diferente. E depois no dia seguinte já há quatro nossos que vão à equipa A e nós temos de ir buscar outros abaixo. Houve uma altura em que não tínhamos convocatória completa e fomos buscar um jogador, porque na altura não tínhamos muitos médios, e o Guilherme disse: "Não sei se vai ser possível, mas eu queria ir buscar um...". Era o Rúben [Neves], que era sub-16, salvo erro. E lá foi ele, foi convocado. Aquilo é de facto um contexto que está sempre a mexer, que muda muito. Mas claro que acaba por ser fácil, porque é um grande clube e não falta nada: grandes relvados, grandes condições... O treinador só tem de treinar. Quando cheguei ao FC Porto B, no primeiro treino, fizemos uma parte inicial, uma ativação rápida, e depois eu fiquei numa rabia e o Simão Freitas, que era o outro adjunto, ficou na outra. Eu estava ali a meter bolas e a dar feedback e de repente uma bola foi para fora da rabia, uns cinco ou seis metros. Meti outra a jogar e desloquei-me para ir buscar a bola que tinha saído da zona, mas o técnico de equipamentos apareceu e disse: "Ó mister, o que é que vai fazer? Fique aí, nós é que vamos buscar as bolas. Não saia daí". Portanto, ele é que me deu uma dura a mim, ele é que me explicou que eu não precisava de ir buscar bolas. E eu percebi ali, ok, cheguei a um sítio onde não me vai faltar nada. Eles dão todas as condições possíveis. Essa é a organização de um grande clube. Há coisas que não custam dinheiro, que são mesmo da organização do clube.
E é um sítio onde se aprende muito com os restantes? Por exemplo, o Folha também começou lá como adjunto e depois pegou nos juniores e agora é treinador da equipa B. Ou o Paulinho Santos, que também tem sido adjunto de várias equipas.
Também trabalhei com o Paulinho e ficámos com uma grande amizade. Ele é muito importante ali. Realmente foi ali, no FC Porto, que dei um grande salto qualitativo. Por tudo isso: pelas condições de trabalho, pelos jogadores e pela forma como a estrutura está toda organizada: os treinadores só têm de chegar, treinar e ir embora, de resto está tudo preparado. E, depois, pela possibilidade de temos de conviver com essas pessoas do clube. Trabalhei com o Paulinho Santos, com o Folha, o Semedo chegou a ser meu team manager, ao meu lado tinha o Bino, tinha o Mário Silva, o Areias, que foi meu adjunto nos sub-15... Portanto, conviver com essas pessoas que jogaram a um nível top é óbvio que nos faz crescer muito e com alguns deles guardei amizades para a vida, como com o Folha e com o Paulinho Santos. Trabalhámos lado a lado e às vezes quem está de fora tem uma ideia perfeitamente errada daquilo que os ex-jogadores são enquanto pessoas.
O Paulinho Santos tinha uma reputação pouco simpática enquanto jogador.
As pessoas têm essa ideia mas claro que não conhecem aquilo que ele é e os contributos que ele dá aos jogadores. É uma pessoa que tem uma ligação muito forte com os jogadores e também com o Folha, têm uma amizade e em termos profissionais complementam-se muito bem. Aliás, acho que o Folha é um treinador que daqui a muito pouco tempo vai estar a treinar na 1ª Liga ou noutro contexto semelhante, porque tem qualidade suficiente para isso. Mas lembro-me que no dia em que o conheci também fiquei com uma ideia errada dele. Fui ao Olival para me apresentar e o Luís disse-me que o team manager'me ia buscar à porta. Abriram-me os portões do Olival e eu entrei. O Luís, naquela altura em que eu entrei, tinha passado da equipa B para a equipa A, e o Guilherme tinha passado para a B, porque era preciso uma nova equipa técnica para a B, e foi aí que eu vim da Académica. Eu entro e estava lá o Folha, que era alguém que eu estava habituado a ver jogar, não o conhecia de lado nenhum, e para mim era fantástico estar a entrar ali, não é? Então fui falar com o Folha e ele estendeu-me a mão mas olhou assim um bocado para o lado. E eu pensei: "Onde é que eu estou metido? Vou ter dificuldades" [risos] Mas depois de conhecê-lo melhor e de trabalharmos juntos, é como digo, é uma amizade para a vida, é um dos meus grandes amigos do futebol. Mas pronto, isto para te dizer que fiquei com a ideia de uma pessoa fechada e antipática, mas afinal não era nada daquilo, era o contrário.
É engraçado que fazes parte da nova vaga de treinadores que não foram jogadores
[risos] Só joguei a um nível baixo.
Ou seja, eras mau.
[risos] Não tinha nível suficiente para prosseguir. Sou de Peniche, de uma aldeia que se chama Ferrel, ali perto da praia do Baleal, e o único clube que havia para jogar era o Grupo Desportivo de Peniche, não é como hoje, em que se paga para jogar por todo o lado. Fui lá às captações, no primeiro ano de infantis, e não fiquei. Mas depois havia a questão da maturação, sabes? E eu era muito rápido, na altura, se calhar porque tinha maturado mais cedo, e por isso no segundo ano em que lá fui, fiquei. Depois ainda joguei lá o Campeonato Nacional de iniciados e andei por ali. Quando entrei na universidade, acabou.
Quando soubeste que querias ser treinador?
Quando é que eu soube... Não posso dizer que tenha tido um momento...
Pensaste só em ser professor de educação física?
Foi um bocado por aí. Estava ali no secundário, jogava nos juniores e já andava em desporto, porque já tinha na ideia ir tirar Ciências do Desporto. E tive um treinador que pedia à malta de desporto para dar o aquecimento. E lembro-me de ter uma sensação boa quando fazia aquilo. Gostei de estar no outro lado, sabes? Então, depois, quando entrei na faculdade, já sabia para onde queria ir. Não sabia se lá chegaria, mas sabia que iria fazer tudo o que pudesse para ser treinador.
E queres ser treinador principal, então?
[risos] Acho que... Sinceramente, não é para fugir à questão, sinto-me mesmo muito realizado a fazer aquilo que faço. Se vivesse neste momento com um plano desses na minha cabeça, acho que não conseguiria ser o melhor adjunto possível. A acontecer, acho que é algo que pode acontecer naturalmente, mas é algo me que agora não penso.
Antes de falar contigo, liguei ao Luís e a primeira coisa que ele me disse foi que achava ias ser um grande treinador principal.
[risos] É assim, só se o mister Luís entretanto se reformar... [risos] Até lá, sinceramente não penso nisso. Levo a minha vida assim, vou vivendo.