Nápoles, Paris e o sabor da vida
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08.05.2023
Abraços emocionados dos mais velhos aos mais novos, sempre com Diego presente: a espera de 33 anos do Nápoles terminou
Laura Lezza/Getty
Na mesma semana, Itália consagrou um novo campeão e França praticamente decidiu, também, quem levará o título da Ligue 1. O Nápoles selou o triunfo na Série A e o PSG aumentou para seis os pontos de vantagem no topo da tabela, quando só faltam quatro jornadas por disputar. No entanto, o ambiente em Nápoles e em Paris não poderia ser mais diferente.
No sul de Itália há uma festa feita de euforia, uma celebração que mistura o sagrado com o profano, um exagero de emoções retratado com pinturas nas paredes, choros, abraços, Paolo Sorrentino no relvado a celebrar com a equipa, gente que guarda a relva de Udine, onde o scudetto foi conquistado, como se de alguma relíquia divina se tratasse. Um momento pelo qual aquela gente esperou 33 anos, a primeira consagração sem Maradona, a estreia a ganhar sem ser guiado pela canhota do profeta argentino que elevou Nápoles e o Nápoles a patamares inimagináveis.
Enquanto em Itália se grita pelo terceiro scudetto dos azuis do sul, em França o PSG caminha para o nono campeonato nos últimos 11 anos. Até à compra do clube por parte do dinheiro do Catar, em 2011, os parisienses eram um clube triste, desorganizado, longe dos êxitos que se ambicionavam. Agora, mais de uma década depois do momento em que o PSG se tornou um posto avançado das ambições do Catar na geopolítica global, os parisienses são um clube triste, desorganizado, longe dos êxitos que se ambicionavam.
Vamos por partes. Como pode um clube prestes a ganhar o nono campeonato dos últimos 11 e que ergueu 29 troféus nos últimos 12 anos ser triste? Porque, por muito domínio interno que o dinheiro tenha trazido, apesar dos milhões que seduziram Beckham e Ibrahimovic, Mbappé e Neymar, Messi e Sergio Ramos, o clima no PSG é sempre de insatisfação, de insuficiência, de protesto. Na semana em que nova Ligue 1 se tornou, novamente, uma formalidade, houve protestos irados dos adeptos às portas da sede do clube e das casas de Neymar e Verratti, pedindo a demissão da direção do clube. Se tiverem ali no bolso €2,91 mil milhões, valor em que a “Forbes” avalia o PSG, talvez consigam o que pretendem.
Os protestos do PSG, em frente à sede do clube e às casas de Neymar e Verratti, marcaram a última semana
FRANCK FIFE/Getty
Como pode um clube prestes a ganhar o nono campeonato dos últimos 11 e que ergueu 29 troféus nos últimos 12 anos ser desorganizado? Os treinadores sucedem-se ao ritmo a que as eliminações da Liga dos Campeões passam. De Emery para Tuchel, de Pochettino para Galtier. Os diretores desportivos tornam-se, também, alvos fáceis, de Antero Henrique para Leonardo, culminando em Luís Campos. Pega-se no dinheiro do Catar para juntar Mbappé, Messi e Neymar, qual criança a jogar um videojogo, e chega-se a Munique, ao jogo mais importante da época, e do banco saem El Chadaile Bitshiabu (17 anos, estreia absoluta na Champions), Zaire-Emery (17 anos, terceira partida na Champions) e Hugo Ekitiké (20 anos, quarto duelo na Champions).
Como pode um clube prestes a ganhar o nono campeonato dos últimos 11 e que ergueu 29 troféus nos últimos 12 anos andar longe dos êxitos que se ambicionavam? Há várias temporadas que o êxito em Paris se mede pela Liga dos Campeões. E a Liga dos Campeões passa longe de Paris. Não é só que o PSG nunca tenha vencido a competição — é que só passou dos quartos-de-final da prova em duas ocasiões.
No meio deste caos milionário, desta tristeza com sabor a notas, há uma lenda viva a viver a fase final da sua carreira. Lionel Messi foi à Arábia Saudita sem autorização do clube, foi suspenso e pediu desculpa. Já voltou aos treinos , mas é sintomático do que é o futebol em 2023 que o astro argentino se veja no meio desta guerra entre estados que o querem utilizar para promoverem a sua imagem, qual cartaz publicitário de legitimação internacional com 1,70 metros de altura.
O PSG vai, tal como o Nápoles, ser campeão. Será o nono título em 11 anos, o triplo das vezes que o Nápoles venceu a Serie A em toda a sua história. Mas, olhando para as caras dos adeptos de um lado e de outro, vendo como uns choram de alegria e outros se juntam em protestos irados, como uns sentem que fazem parte de um povo em comunhão em torno de um clube e outros são meros espectadores passivos de estratégias geopolíticas, fica claro que o mesmo título sabe a coisas tão diferentes quando se está em estados mentais opostos.
Em Nápoles, a vida sabe, por estes dias, a algo de único. Em Paris, a receita repetida dada a provar pelo cozinhado feito à base de milhões sabe a nada, desfazendo-se na boca como cinzas.
O que se passou
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Zona mista
Isto é uma equipa ambiciosa. Queremos fazer muito mais, estar entre as melhores, é o objetivo desta equipa. Não queremos só ir à Liga dos Campeões, queremos mostrar que temos uma grande equipa. Tem de ser um Benfica a fazer mais e melhor e bater-se com as melhores equipas
Jéssica Silva foi a voz da ambição do Benfica, logo depois da conquista do tricampeonato. Sem surpresa face ao domínio recente das águias e à superior profundidade de opções face às adversárias — expressa num plantel que obriga a que, a cada partida, jogadoras de seleção sejam suplentes —, o Benfica venceu 19 das 20 rondas da liga. Para o futuro, Jéssica Silva apela à subida de fasquia na Liga dos Campeões, onde a equipa foi eliminada nas duas últimas épocas na fase de grupos.
O que aí vem
Segunda-feira, 8
⚽ I Liga: Famalicão - Chaves (19h, Sport TV2) e Arouca - FC Porto (21h15, Sport TV1)
⚽ Na Premier League, o Fulham de Marco Silva e Palhinha recebe o Leicester de Ricardo Pereira (15h, Eleven 1) e na Arábia Saudita o Al Nassr de Cristiano Ronaldo joga com o Al Khaleej, de Pedro Emanuel, Fábio Martins e Pedro Amaral
🏀 NBA, playoffs: Miami Heat - NY Knicks (0h30, Sport TV1)
🥋 Mundiais de judo: finais dos -52kg e -66kg (16h, Sport TV3)
Terça-feira, 9
⚽ Aí estão as meias-finais da Champions, com o Real Madrid a receber o Manchester City (20h, Eleven 1)
🥋 Mundiais de judo: Telma Monteiro tenta chegar às medalhas nos -57kg (8h30, Sport TV3). Bloco das finais arranca às 16h
🏀 NBA, playoffs: Boston Celtics - Philadelphia 76ers (0h30, Sport TV1)
Quarta-feira, 10
⚽ Há dérbi de Milão na segunda meia-final da Liga dos Campeões: Milan - Inter (20h, TVI/Eleven 1)
🥋 Mundiais de judo: Bárbara Timo (-63kg) e João Fernando e Anri Egutidze (-81kg) entram em ação (8h, Sport TV3)
🎾 Masters 1000 de Roma (10h, Sport TV2)
Quinta-feira, 11
⚽ Primeira mão das meias-finais da Liga Europa: Roma - Bayer Leverkusen (20h, SIC/Sport TV1) e Juventus - Sevilla (20h, Sport TV2)
⚽ Meias-finais também na Liga Conferência: West Ham - AZ Alkmaar (20h, Sport TV3) e Fiorentina - Basileia (20h, Sport TV6)
🥋 Mundiais de judo: Joana Crisóstomo (-70kg) tenta a passagem às finais (8h, Sport TV2)
🏁 Arranca o Rali de Portugal (8h30, Sport TV4)
Sexta-feira, 12
⚽ Arranca a jornada 32 da I Liga, com o Gil Vicente - Boavista (20h15, Sport TV1)
🥋 Mundiais de judo: Patrícia Sampaio (-78kg) representa Portugal em Doha (9h, Sport TV2)
Sábado, 13
⚽ Segue a jornada 32 da I Liga: Vizela - Famalicão (15h30, Sport TV2), Chaves - Paços de Ferreira (15h30, Sport TV3), Portimonense - Benfica (18h, Sport TV1) e Sporting - Marítimo (20h30, Sport TV2)
⚽ Na Premier League há Manchester United - Wolverhampton (15h, Eleven 1) e na Ligue 1, o PSG recebe o Ajaccio (20h, Eleven 2)
🏍️ MotoGP: GP França, corrida de sprint (14h, Sport TV5)
Domingo, 14
⚽ I Liga: Rio Ave - Vitória (15h30, Sport TV1), SC Braga - Santa Clara (18h, Sport TV2) e FC Porto - Casa Pia (20h30, Sport TV1)
⚽ Na La Liga há dérbi catalão: Espanyol - Barcelona (20h, Eleven 1). Na Premier League, o Man. City joga em casa do Everton (14h, Eleven 1) e o Arsenal recebe o Brighton (16h30, Eleven 1)
🏁 Último dia do Rali de Portugal (7h, Sport TV4)
🏍️ MotoGP: GP França, corrida (13h, Sport TV5)
Hoje deu-nos para isto
De bigode e com a camisola de campeão nacional, eis João Almeida no Giro
SOPA Images/Getty
No chão à frente da porta da casa de João Almeida, na pacatez de A-dos-Francos, há uma bicicleta cor-de-rosa pintada, gravada na pedra, qual sinalização para o viajante distraído, pista sobre quem mora ali, como se fosse a marca que Gandalf colocou na casa de Bilbo Baggins para servir de referência para os anões. Tal como a companhia de Thorin na história de Tolkien, também o habitante daquele lar perto das Caldas da Rainha partiu numa viagem, numa aventura, numa demanda em busca de algo.
A exploração que João Almeida começou a fazer no sábado é-lhe familiar. Foi no Giro que se deu a conhecer, na edição de 2020, quando andou com o rosa da liderança e terminou em quarto; lá voltou em 2021, para ser sexto, e em 2022, para andar a lutar pelo pódio até ter de abandonar a quatro etapas do final devido a um positivo a covid-19. Agora, em 2023, está de novo na corsa rosa, perseguindo um objetivo claro, um anel precioso em forma de lugar no pódio: ser o primeiro português a acabar entre os três primeiros de uma grande volta desde Joaquim Agostinho, terceiro no Tour de 1979.
A preparação para a Volta a Itália deu sinais positivos, com o segundo lugar no Tirreno-Adriático e o terceiro na Volta à Catalunha, duas das principais corridas de uma semana do calendário. E, no contra-relógio do primeiro dia, as boas indicações foram confirmadas, com um tempo apenas atrás de Remco Evenepoel, o fenómeno campeão do mundo que é o favorito a vencer a segunda grande volta seguida, após a Vuelta de 2022, e Ganna, craque da especialidade. Primoz Roglic, em teoria o maior rival de Remco, ficou atrás de Almeida, tal como outros candidatos ao pódio como Geraint Thomas, Tao Geoghegan Hart ou Aleksandr Vlasov.
Durante muito tempo, Portugal suspirou por um homem capaz de lutar pelas mais importantes provas. Esse homem, agora, existe. Aos 24 anos, já foi quarto e sexto no Giro e quinto na Vuelta. Em 2023, parece mais preparado que nunca para dar outro salto de qualidade, continuando a desbravar terrenos que eram pouco familiares para o ciclismo nacional em tempos recentes, qual hobbit que, como Bilbo Baggins, explora novos caminhos para as gentes do Shire. Nas ruas onde está pintada um bicicleta cor-de-rosa já é uma tradição passar as tardes de maio a ver a corsa rosa, que termina em Roma, a 28 de maio.
Tenha uma boa semana, a primeira completa do Giro e de disputa da primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões. Obrigado por nos ler e acompanhar no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.