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O meu conselho para esta semana é: abasteça essa despensa de café

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Portugal não quer fazer uma careta ao grande sonho de estar no Mundial 2023. Tudo se decide na quarta-feira, ainda madrugada em Portugal

Portugal não quer fazer uma careta ao grande sonho de estar no Mundial 2023. Tudo se decide na quarta-feira, ainda madrugada em Portugal

Joe Allison - FIFA

Não sei se ainda guarda algum daquele café que transformou em líquido de despertar para ver a medalha de ouro de Pedro Pablo Pichardo ou o bronze de Fernando Pimenta nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando no Japão o sol (nos) brilhava e por cá eram escuras e altas as horas da madrugada. Se sim, está na hora de voltar a dar-lhe uso. Se não, até porque já lá vai um tempinho e não desejamos indisposições a ninguém, abasteça essa despensa. Porque na quarta-feira serão 6h30 da manhã em Portugal Continental (menos uma nos Açores) quando a seleção nacional feminina der os primeiros toques na bola do jogo que pode mudar tudo.

O “mudar tudo” pode muito bem ser algo que nem temos bem noção da magnitude. Estar pela primeira vez num Mundial será um feito absurdo em termos competitivos e de visibilidade para o futebol feminino português, que em dezembro de 2010 tinha pouco mais de 5 mil federadas (e aqui estão também números do futsal). Hoje, os últimos números da FPF dizem-nos que são mais de 12 mil. As jogadoras sabem do peso do momento que têm em mãos. Sabem que há milhares de almas que no verão de 2023 vão colar o nariz à televisão para ver os jogos do Mundial, que vai acontecer de 20 de julho a 20 de agosto, na Austrália e Nova Zelândia. Sabem que estar lá lhes garante desde logo um duelo na fase de grupos com os Estados Unidos, campeãs mundiais em título e equipa mais mediática do futebol feminino, pelo que as suas jogadoras fazem dentro e fora das linhas de jogo, um exemplo de como o desporto pode perfeitamente dar as mãos ao ativismo, dando lições todos os dias às estrelas masculinas, demasiado absortas nos seus contratos milionários e carros de luxo para se lembrarem de direitos humanos e minudências desse campeonato. Por cá, o máximo que temos de fazer por elas é acordar mais cedo. Ou ir dormir mais tarde.

A última barreira entre Portugal e uma história que já se fez de duas participações seguidas em Europeus chama-se Camarões. O ranking diz-nos que a seleção nacional (22.º) é favorita a deitar as mãos ao derradeiro lugar no que seria uma estreia em Campeonatos do Mundo - as adversárias estão no 58.º lugar da lista - mas os Camarões têm a força da experiência de dois Mundiais, os dois últimos, em que passaram sempre a fase de grupos. O jogo será àquelas horas indecentes para qualquer europeu porque se disputa em Hamilton - Kirikiriroa, em maori - quarta cidade mais populosa da Nova Zelândia, a quase 20 mil quilómetros de Lisboa.

O tão perto às vezes é longe como tudo.

Por lá, a seleção nacional já teve de ficar fechada no hotel, sem algumas das suas jogadoras, retidas algures em aeroportos devido ao mau tempo e à passagem do ciclone Gabrielle, nome de mulher, claro está. Na sexta-feira, como que alheias a tudo isso, golearam a equipa da Nova Zelândia, tão próxima de nós no ranking (elas estão no 24.º lugar), por 5-0, obrigando-nos a sonhar.

Porque o longe como tudo às vezes está tão perto.

O que se passou

Para domingo estavam marcadas as eleições para a Federação Portuguesa de Judo, mas as eleições da Federação Portuguesa de Judo acabaram por não acontecer. Em notícias mais agradáveis na modalidade, Patrícia Sampaio conquistou o bronze no Grand Slam de Telavive.

A esperança já era pouca e no sábado o corpo de Christian Atsu, ex-FC Porto e Rio Ave, foi encontrado sem vida nos escombros que resultaram do terrível sismo da Turquia.

Na semana europeia, o Benfica sorriu, o Sporting amargou. O FC Porto, que só joga na Champions na quarta-feira, venceu para o campeonato, deixando os encarnados em alerta.

A V Sports, fundo de dois milionários que detém o Aston Villa, quer comprar 46% da SAD do Vitória SC. Os sócios têm a última palavra.

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Aursnes, o anti-homem do jogo, o exibicionista discreto

Bruno Vieira Amaral escreve sobre o médio norueguês, o tipo de jogador que dá nas vistas por não dar nas vistas, cuja maneira de jogar é tão pouco vistosa que se torna ostensiva, extravagante. A sua missão é passar despercebido e é nessa missão que, paradoxalmente, se destaca

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Pepa: “Um dia entrei pelo balneário adentro para agarrar o Cancelo pelos colarinhos. O Bernardo dizia-me: ‘Vou ser presidente do Benfica'”

Na segunda parte da conversa com a <strong>Tribuna Expresso</strong>, o treinador fala sobre um percurso que, como jogador, o levou a ir de adolescente candidato a prodígio que marcou na estreia pelo Benfica a terminar a carreira sem dinheiro e ter de ir bater à porta do Sacavanense para começar a treinar. Dos conselhos a Cancelo ou Bernardo ao “fenómeno” Edwards, o técnico assegura que não é de “papar grupos” e que, neste momento, em Portugal só aceitaria convites para assumir o banco de um clube “se fosse Benfica, FC Porto ou Sporting”

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“No FC Porto, o Paulo Fonseca batia à porta para entrar no balneário, não abriam e diziam-lhe: ‘O treino é só às 10h30’. Eram muitos egos”

Tiago Rodrigues começou a jogar futebol aos sete anos com o cartão de jogadores mais velhos. Aos 14 anos saiu de Vila Real para a Academia do Sporting, mas a adaptação não foi fácil, como nos conta na primeira parte do Casa às Costas. Acabou dispensado, pensou em desistir da carreira, mas assinou pelo V. Guimarães e conquistou a Taça de Portugal. Foi comprado pelo FC Porto e, sem paciência para esperar, preferiu sair emprestado para a ilha da Madeira, primeiro no Nacional, depois no Marítimo e de novo Nacional, antes de voar para o CSKA, da Bulgária

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Homem mais rico do Reino Unido e filho de um ex-primeiro-ministro do Catar formalizam propostas para comprar o Manchester United

Jim Ratcliffe, fundador da INEOS, que também detém o Nice ou uma equipa de ciclismo, e Sheikh Jassim bin Hamad al-Thani, presidente de um dos principais bancos do Catar, são candidatos a serem os novos donos do clube inglês, cuja venda se pode tornar na maior da história do desporto

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Jordan faz 60 anos. “Fui ao balneário dos Bulls. Estavam lá 50 jornalistas, todos em cima do Michael Jordan, só via a careca dele a brilhar”

Ainda enquanto comentador televisivo, Carlos Barroca narrou as três despedidas de Michael Jordan do basquetebol. Hoje vice-presidente das operações da NBA na Ásia, está agora em Portugal, a trabalhar com fusos horários de Nova Iorque e Xangai, mas arranjou tempo para assistir à série documental "The Last Dance", que conta a carreira e a última época do ex-jogador com os Chicago Bulls, cujos últimos episódios estrearam esta semana. O português achou-a "fabulosa", explicou os porquês à <strong>Tribuna Expresso</strong> e resumiu a admiração que tem pela "excelência" de Michael Jordan: "Numa altura em que não havia redes sociais, se alguém vendeu a NBA para o mundo inteiro, foi claramente ele". <i>No dia em que Michael Jordan completa 60 anos, recordamos esta entrevista publicada em maio de 2020, após a estreia do documentário “The Last Dance”</i>

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Matija Pecotic, o diretor de mercado de capitais que aos 33 anos passou pela primeira vez à 2.ª ronda de um torneio do circuito profissional

O trintão croata foi um exímio jogador do circuito universitário de ténis, mas vários azares não lhe permitiram manter uma carreira profissional. Graduou-se em Harvard, arranjou emprego na área do imobiliário e vai tentando aqui e ali participar em alguns torneios. Esta semana, em Delray Beach, passou o qualifying, apurando-se pela primeira vez para o quadro principal de um ATP. E venceu na 1.ª ronda, frente a um ex-top 10

Zona mista

É incrível que ninguém tenha morrido

É uma das frases lapidares que se podem ler no relatório da comissão independente que investigou os acontecimentos caóticos que antecederam a final da Champions em Paris na última primavera. O grupo, liderado por Tiago Brandão Rodrigues, deixou clara a culpa da UEFA e das autoridades policiais francesas que, na altura, prontamente apontaram dedos aos adeptos do Liverpool, num vergonhoso sacudir de água do capote que diz bem da impunidade que certas instituições parecem sentir. Quanto à polícia francesa, só lembrar que falta pouco mais de um ano para os Jogos Olímpicos de Paris

O que aí vem

Segunda-feira, 20
⚽ I Liga: Chaves - Sporting (19h, Sport TV1) e Benfica - Boavista (21h15, BTV)
🎾 WTA 1000 Dubai (8h, Eleven 1), ATP 500 Rio (19h30, Sport TV2), ATP 250 Catar (11h30, Sport TV3) e ATP 250 Marselha (15h, Sport TV5)

Terça-feira, 21
⚽ Dia de oitavos de final da Champions: Liverpool - Real Madrid (20h, Eleven 1) e Eintracht Frankfurt - Napoli (20h, Eleven 2)
⚽ Recopa sul-americana, 1.ª mão: Independiente del Valle frente ao Flamengo de Vítor Pereira (0h30, Sport TV1)

Quarta-feira, 22
⚽ O dia que pode mudar tudo: a seleção feminina joga com os Camarões para garantir o derradeiro lugar no Mundial de 2023 (6h30, RTP1/Sport TV1)
⚽ Liga dos Campeões, oitavos de final: Inter - FC Porto (20h, TVI/Eleven 1) e RB Leipzig - Manchester City (20h, Eleven 2)

Quinta-feira, 23
⚽ Liga Europa: Midtjylland - Sporting (17h45, SIC/Sport TV1). Veja também o Man. United - Barcelona (20h, Sport TV2) e o Roma - Salzburg (20h, Sport TV3)
⚽ Liga Conferência: Fiorentina - SC Braga (20h, Sport TV1)

Sexta-feira, 24
⚽ I Liga: Famalicão - Portimonense (20h, Sport TV1)
⚽ Premier League: Fulham - Wolverhampton (20h, Eleven 1)

Sábado, 25
⚽ I Liga: Arouca - Casa Pia (15h30, Sport TV1), Marítimo - Santa Clara (18h, Sport TV2) e Vizela - Benfica (20h30, Sport TV1)
⚽ Premier League: Leicester - Arsenal (15h, Eleven 1) e Bournemouth - Man. City (17h30, Eleven 1)
⚽ La Liga: Real Madrid - At. Madrid (17h30, Eleven 2)
⚽ Liga saudita: Damac - Al-Nassr (15h30, Sport TV3)
🎾 WTA 1000 Dubai, final (15h, Eleven 6)
🏀 NBA: Detroit Pistons - Toronto Raptors (17h, Sport TV5)

Domingo, 26
⚽ I Liga: Rio Ave - Chaves (15h30, Sport TV1), Paços de Ferreira - Boavista (18h, Sport TV3), FC Porto - Gil Vicente (20h30, Sport TV1)
⚽ Final da Taça da Liga inglesa: Manchester United - Newcastle (16h30, Sport TV2)
⚽ Premier League: Tottenham - Chelsea (13h30, Eleven 1)
⚽ Bundesliga: Bayern Munique - Union Berlin (16h30, Eleven 1)
⚽ Ligue 1: Marselha - PSG (19h45, Eleven 1)
🎾 ATP 500 Rio, final (20h30, Sport TV6)
🏀 NBA: Dallas Mavericks - LA Lakers (20h30, Sport TV3)

Hoje deu-nos para isto

Será notícia enquanto for importante ser notícia, com a esperança que um dia já não tenha de ser notícia. Jakub Jankto é checo, tem 27 anos e quer viver em liberdade, sem medos. É o primeiro jogador internacional pelo seu país e a atuar numa primeira divisão na Europa a assumir abertamente a homossexualidade, seguindo os passos de Josh Cavallo e Jake Daniels.

É possível que, pela sua coragem, Jankto seja penalizado com alguns dos mais abjetos insultos. Quando entrou em campo, no domingo, para os primeiros minutos com a camisola do Sparta de Praga desde o poderoso anúncio, o médio foi aplaudido pelos adeptos. Alturas haverá, quando as coisas correrem mal, em que provavelmente não será poupado. Mas o seu passo em frente significa tudo, significa que o próximo jogador vai fazê-lo num ambiente de maior normalidade, até ao dia em que não será notícia.

Até lá, bravo!


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