O que é ser velho?
Partilhar
06.02.2023

Faltam 36 pontos para os 38 anos de LeBron James baterem o recorde de pontos na história da NBA
Michelle Farsi/Getty
“Eu fiz 40 anos ontem e aspiro a cuidar do meu corpo, beber toneladas de água e alongar.” A autoria da frase poderia estar na boca de um qualquer atleta a ruminar o seu próprio ocaso, minucioso no metodismo, maestro de bisturi a precisar ao milímetro a manutenção do seu corpo. Mas não, a frase é de um americano ocasional, um cidadão chamado Larry com quem o “New York Times” trocou uns dedos de conversa em Nova Orleães e perguntou-lhe acerca do tipo prestes a apanhá-lo nos quarentas, pulando atrás da história.
LeBron James nada deve ao seu legado. Monstro com trampolins calçados nos pés, o descabelado que por vezes joga com fita na testa é a única razão para este que vos escreve saber que Akron é uma cidade no estado do Ohio apesar de pouco sapiente ser em basquetebolês. Em causa está o dono de quatro anéis da NBA, igual número de prémios MVP em finais (onde chegou oito temporadas seguidas) e que se elevou ao patamar de desportista total, a uma camada da atmosfera onde as modalidades se fundem e indiferente é o que os visados praticam, porque lá moram devido à excelsitude partilhada.
Com a barba farta e impecavelmente limada à semelhança dos tonificados ombros, LeBron tem duas décadas contadas a fazer por ser falado no mesmo tom concedido a Michael Jordan, a ele endereçam-se como um dos melhores da NBA e para empurrar esta causa há um recorde já ali bem perto, ao qual já sente a fragrância: com os 27 pontos deixados contra os Pelicans, no sábado, James está a 36 de suplantar os 38.387 que Kareem Abdul-Jabbar marcou entre 1969 e 1989. Essa lenda de óculos na cara só parou de jogar aos 42 anos, imaginemos as dores naquelas articulações em tempos sem as maquinetas atuais que apressam a regeneração do corpo.
LeBron, claro, vive com um atrelado de histórias de primor concedido à sua anatomia. Há cinco anos, quando os LA Lakers gastaram um PIB de pequenas nações que livraria bairros inteiros da pobreza para terem na equipa o basquetebolista com fortuna a rondar o milhar de milhão de euros, ele abdicou de ingerir glúten, lactose e o ocasional copo de vinho durante as semanas da pré-época. James ia já nos 33 anos e vivalma lhe apontaria um mindinho se concedesse patavina a este tipo de abstinências invisíveis nos atletas profissionais, mas ele é (mais) uma caminhante prova de como a vontade de laborar pode ser incrível caso se amigue do talento.
Imaginem as descargas de dopamina e serotonina, os recetores no cérebro a piscarem freneticamente destes raros espécimes humanos enquanto praticam desporto e são abusivamente melhores do que os pares ou adversários, o fartote de bem-estar que não lhes deve afagar os ânimos durante esses minutos de levitação; mais além do achar-se, a sensação de ser o melhor, de domar o estado de ser unplayable como os americanos dizem, de não ter de pensar, jogar por instinto e tudo sair imparavelmente. Havendo vontade e beneplácito das lesões, que desportista inquilino da elite não faria de tudo para prolongar a companhia desta sensação?
Acredito que em LeBron James haja resquícios de Michael Jordan ou Kobe Bryant nos lugares e momentos onde os nossos olhos não chegam. Aquela incessante roldana de exigência nos treinos, cobrando aos outros o que cobra a si mesmo, moendo-lhes o juízo em prol do que pensa ser uma boa causa mas arreliando-os com uma pressão que para elas é apenas mais um ingrediente nos seus dias. Olhando-lhe para os números, LeBron está a registar 30.3 pontos por jogo esta época, seria a terceira melhor da sua carreira se terminasse agora e há cinco anos que não passava tanto tempo em campo.
Foi campeão com os Lakers em 2020 e desde então que uma desilusão laranja e saltitante lhes ressalta nas mãos. São os atuais 13.º classificados entre as 15 equipas da Conferência Oeste, quem versa sobre esta equipa mais ganhadora na história da NBA (16 títulos, a par com os Boston Celtics) lamenta a murchidão de Russel Westbrook e a anatomia cristalina de Anthony Davis, tipos de quem se esperava uma progressiva rendição da guarda e não um acentuar da preponderância do quase quarentão que deveriam aliviar. Também vemos LeBron James prevalecer na assim percecionada ‘velhice’ desportiva pela ausência de gente capaz de lhe dar descanso.
É engraçada de tão paradoxal a forma de etiquetarmos atletas como portadores de demasiada idade e, portanto, ultrapassados de valor. É, por isso, tão de salutar os bons ‘velhos’ que o calendário recente nos deu: Novak Djokovic raquetou o 22.º Grand Slam da carreira o mês passado, com 35 anos, e a ansiedade do ténis está agora numa possível colisão entre o sérvio e Rafael Nadal, de 36, na final de Roland Garros; ainda há dias, Kelly Slater e os seus 11 títulos mundiais disseram querer estar nos próximos Jogos Olímpicos, quando terá 52 anos; Tom Brady é dono de sete Super Bowls e só se retirou agora, com 45 verões; quem ganhou a primeira etapa do Mundial de ralis desta temporada foram os 39 anos de Sébastien Ogier; o capitão da seleção vencedora do último Mundial de futebol, eleito melhor jogador do torneio, está com 35 anos; e o futebolista com o salário mais chorudo do planeta comemorou o 38.º aniversário no domingo.
Por mais façanhas que ainda logrem, nenhum dos mencionados fará o suficiente para o arcaico preconceito com a idade seja colocado em perspetiva, caso a caso, em vez de ser aplicado que nem molde pré-fabricado em qualquer atleta quando chega a uma certa idade. Ser velho não é ser velho, é fazer-se algo há tanto tempo que merece a consideração das pessoas que talvez, porventura, só se calhar, deveriam prezar quem é seu sénior.
O que se passou
Leia também
A estreia de Gareth Bale nos grandes palcos do golf terminou com um 16.º lugar. E, no final, foi outro o desportista a brilhar
Leia também
FC Porto - Vizela. E a bola voltou a obedecer a Mehdi
Leia também
O golo histórico de Kane contra o City fez um belo favor aos rivais de Londres
Leia também
“Vão vir charters” de jogadores. E vieram, mas do Japão
Leia também
“Num jogo na Roménia, começaram a chamar macaco ao Sougou. Fomos ter com o árbitro, perguntámos se não ouvia e ele disse que não era nada”
Leia também
E aí está o regresso de McGregor ao UFC: o rival será Chandler
Leia também
Sete meses depois de ser diagnosticado com cancro, Haller voltou a marcar um golo: “Parecia que o estádio todo estava a arder”
Leia também
“Chego ao Estrela e no 1.º dia havia greve, ninguém ia treinar e as conversas são à volta de salários em atraso. ‘Onde é que vim parar?’”
Zona mista
“Será a minha última oportunidade. Terei 55 anos [nos próximos Jogos], não estarei no circuito mundial nessa altura. Porém, disse o mesmo aos 40 quando falava dos 50. Sinto a chama mais ou menos a desvanecer, mas vou surfar até estar totalmente apagada.”
Kelly Slater vai soprar 51 velas no próximo sábado e perguntaram-lhe se tenciona fazer-se aos próximos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, já que não se qualificou para Tóquio, onde o surf se estreou. Caso o venha a conseguir - terá de ser um dos dois melhores americanos no ranking da World Surf League no final desta época, o careca mais popular das ondas e 11 vezes campeão seria, pelos arquivos da “NBC”, o estreante olímpico dos EUA mais velho da história.
O que vem aí
Segunda-feira, 6
⚽ A 19.ª jornada da I Liga encerra com o Portimonense-Paços de Ferreira (19h, Spoert TV2) e o Rio Ave-Sporting (21h15, Sport TV1).
🌊 Prossegue o Billabong Pro Pipeline, a primeira etapa do circuito mundial de surf, no Havai (onde Teresa Bonvalot terminou em 9.º na prova feminina). O período de espera vai até sexta-feira (Sport TV).
Terça-feira, 7
⚽ Um duelo entre o campeão sul-americano e o asiátivo: o Flamengo de Vítor Pereira defronta o Al Hilal, da Arábia Saudita, na meia-final do Mundial de Clubes (19h, Sport TV1).
Quarta-feira, 8
🏀 Na NBA, os LA Lakers recebem os Oklahoma City Thunder para manterem as esperanças de alcançarem os play-offs, mas o jogo agora é outro: a LeBron James bastará marcar 36 pontos para superar o recorde absoluto de Kareem Abdul-Jabbar (3h, Sport TV1).
⚽ E, depois, o confronto entre o rei europeu, Real Madrid, e africano, Al-Ahly (19h, Sport TV5).
🏃♀️⚽ Dia para os encontros da 2.ª mão das meias-finais da Taça da Liga feminina: o Famalicão joga com SC Braga (11h, Canal 11) depois de um 0-3 e o Sporting recebe o Benfica (20h, Canal 11) com um 1-4 trazido do primeiro duelo.
🏆 Após a partida na Taça da Liga, um reencontro nos quartos de final da Taça de Portugal entre o Académico de Viseu e o FC Porto (20h45, RTP1). Antes, o Famalicão defronta a B SAD (18h, Sport TV2).
Quinta-feira, 9
⚽ Boavista e Estoril Praia tratam de matérias adiadas e defrontam-se (18h, Sport TV1) num encontro em atraso da 14.ª jornada da I Liga.
🏆 Dois embates relativos aos quartos de final da Taça de Portugal: o Casa Pia-Nacional da Madeira (18h30, Sport TV2) e o SC Braga-Benfica (20h30, RTP1).
Sexta-feira, 10
⚽ Arranca a 20.ª jornada da I Liga com o Vizela-Desportivo de Chaves (20h15, Sport TV1).
Sábado, 11
🏉 Vai para campo a segunda jornada do torneio das Seis Nações com um Irlanda-França (14h15, Sport TV) e um Escócia-País de Gales (16h45, Sport TV).
🏆⚽ Joga-se a final do Mundial de Clubes (19h, Sport TV3).
⚽ Mais I Liga: Arouca-Santa Clara (15h30, Sport TV1), V. Guimarães-Portimonense (20h30, Sport TV1) e
Domingo, 12
🏉 A Inglaterra recebe a Itália no Seis Nações (15h, Sport TV).
⚽ Continua a I Liga: Famalicão-Gil Vicente (15h30, Sport TV1), Sporting-FC Porto (18h, Sport TV1) e Marítimo-SC Braga (20h30, Sport TV2). Lá fora, na Premier League, há um dérbi de Merseyside para ver: o Liverpool recebe o Everton (20h, Eleven Sports).
Hoje deu-nos para isto

Gustavo Ribeiro tem 21 anos e, no domingo, ficou em 2.º no Campeonato do Mundo de skate
Red Bull
Foi por um triz de saltos para corrimões descendentes, pontapés dados a uma tábua com rodas para a amestrar em piruetas e headphones despidos de fios postos nos ouvidos mais para se concentrar do que propriamente lhe entrar música pela cabeça que Gustavo Ribeiro, no domingo, não foi campeão mundial de skate pela segunda vez em três meses: depois de conquistar o circuito internacional, em novembro, só o francês Aurélien Giraud juntou mais pontos do que o português.
Aos 21 anos, acrescenta um 2.º lugar no Campeonato do Mundo à conquista da Street League Skateboarding quem, ainda há semanas e numa conversa que está no forno, repetiu a admissão que não se considera o melhor naquilo que faz - a frase foi “não me considerou mau de tudo” - e concedeu mais faladura à hipótese de inspirar pessoas, novas e velhas. E atenção, porque Gustavo Ribeiro ainda só está a começar.
Tenha uma boa semana, aprecie o desporto sem olhar a idades e obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.