A grandeza dos futebolistas e o timing de Cristiano
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14.11.2022

Cristiano Ronaldo, de 37 anos, esteve ausente dos dois últimos jogos do Manchester United
Naomi Baker
A quantidade de jogos de futebol durante a semana transformou em domingo quase todos os dias, mas domingo ainda é domingo, então um dia santo para os nostálgicos futeboleiros. Por um acaso, este bendito domingo que passou começou com leituras de crónicas escritas por Sócrates Brasileiro, um futebolista genial dos anos 80 que era também uma “metamorfose ambulante”, um soldado contra a ditadura militar no Brasil. A Democracia Corinthiana deixou rasto. O que pensaria ele de um Campeonato do Mundo no Catar? Enfim, talvez tirasse o chapéu ao que vai fazer a seleção neerlandesa.
A televisão matou a estrela do livro, somente naqueles momentos, graças ao PSG-Auxerre. “Que desinteressante será sem Messi, Neymar e Mbappé…”. Mas, para surpresa do queixo que se separou do resto do rosto, os três artistas jogaram mesmo, assim como Carlos Soler, Achraf Hakimi e os nossos Danilo e Nuno Mendes. Todos eles convocados para o Mundial que começava em meros sete dias. A dignidade do futebolista é realmente uma coisa admirável. Ninguém tirou o pé ou interveio com o travão de mão puxado. Viu-se Lionel, cercado, numa biblioteca de dois metros quadrados a polir espaços. Neymar pegou no berlinde como quem resolve o mundo. Kylian correu desenfreado como habituou as testemunhas do costume, driblando, perdendo bolas e correndo atrás de seguida. Nuno Mendes foi todos os melhores laterais esquerdos da história durante 90 minutos e Danilo, austero e comprometido, andou nas bulhas que lhe diziam respeito. Golearam, 5-0. Admirável.
Estavam, quem sabe, protegidos por um manto de rezas dos compatriotas espalhados pelo mundo, que os pouparam ao fado de jogadores como Diogo Jota, Pedro Neto, Paul Pogba, N’Golo Kante, Ben Chilwell, Reece James, Arthur Melo, Giovani lo Celso, Marco Reus, Timo Werner e tantos outros, que se lesionaram e desfalcam as seleções nacionais no torneio que se jogará entre 20 de novembro e 18 de dezembro. Vendo os vídeos das reações às convocatórias, é impossível não perceber que jogar um Mundial é, para os futebolistas, o que está acima de qualquer céu.

Eurasia Sport Images
Parece que os 26 convocados de Portugal, escolhidos por um vago e pouco dado a explicações Fernando Santos, passaram pelos pingos da chuva neste derradeiro e aflitivo fim de semana. Os eleitos reúnem-se esta segunda-feira e, na quinta-feira (18h45, RTP1), têm mais um teste à carapaça e resistência física, castigadíssimas pelo comprimir do calendário, num jogo contra a Nigéria, em Alvalade. O avião para Doha, no Catar, levanta voo na sexta-feira. Tudo certo, então, certo? Não.
Cristiano Ronaldo, o capitão da seleção portuguesa, decidiu dar uma entrevista a Piers Morgan, na “TalkTV”, onde arrasou Manchester United, treinador e ex-treinador. É o assunto do momento no mundo inteiro, pelo menos nos lugares em que se olha para o futebol como a coisa mais importante entre as coisas menos importantes. A entrevista estava há muito prometida e é publicada num momento em que o 7 não terá de se deparar com ninguém do clube, agora que começam os trabalhos na seleção, talvez piscando o olho ao mercado de inverno. Tresanda a improvável o regresso ao outrora Teatro dos Sonhos.
Como escreve o Diogo Pombo na Tribuna Expresso, “dito o que foi dito por Cristiano Ronaldo na véspera de o futebol carregar no botão de pause para as atenções se centrarem no Mundial, é provável que os holofotes se mantenham focados nele, ainda mais do que o costume”. Ou seja, “com conferências de imprensa quase diárias e face ao aparecimento pouco frequente do jogador nesses momentos de pergunta-resposta, os jogadores da seleção nacional que forem surgindo serão, porventura, questionados sobre o tema Ronaldo face ao timing das palavras do capitão”. É uma distração, é ruído. Teme-se, assim, que o Mundial seja uma coisa pessoal para o futebolista, uma espécie de ego trip. E isto sem falar de como encaixaram as críticas os colegas de clube Diogo Dalot e Bruno Fernandes, o primeiro jogador da seleção a abrir decentemente a boca contra o Catar 2022: “Sabemos o que tem surgido sobre pessoas que morreram nos estádios. Não estamos felizes”.
O timing de Ronaldo é doloroso. Por tudo, pelo tom, por colocar tanto em causa num momento em que o clube até ganhou nove dos últimos 12 jogos e sobretudo porque vem aí um Campeonato do Mundo, o último dele supostamente. Soa tudo a uma penosa e triste solidão. Mais que isso, o que custa mesmo testemunhar é a forma como alguém que, para muitos, se senta na mesa dos maiores futebolistas de todos os tempos se está a despedir do futebol. Afinal, foi esperança e o que pertence ao inevitável e fabuloso durante um tempo que parecia eterno. Cristiano ajudou-nos a todos a sonhar um bocadinho mais. Agora, mais do que nunca, o futebolista tem nas mãos e nos pés a maneira como nos vamos recordar dele, ou pelo menos de como se despediu de nós.
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Zona mista
O progresso foi zero. Desde que Sir Alex foi embora que não houve evolução no clube, nada mudou
Uma das frases de Cristiano Ronaldo na entrevista dada a Piers Morgan, que será transmitida durante esta semana. O capitão da seleção portuguesa arrasou Manchester United, treinador e ex-treinador
Segunda-feira, 14
⚽ Santa Clara-Estoril (20h15, SportTv1)
🎾 ATP WORLD finals, em Turim (a partir das 13h00, SportTv2)
🏀 Miami Heat-Phoenix Suns (00h30, SportTv1)
Terça-feira, 15
⚽ FA Cup: Derby County-Torquay United
🏒 NHL: Florida-Washington (00h00, SportTv6)
🏀 New Orleans Pelicans-Memphis Grizzlies (00h30, Sport Tv1)
Quarta-feira, 16
⚽ Futebol: Polónia-Chile (17h00, Sport Tv1), Turquia-Escócia (17h00, Sport Tv2), Albânia-Itália (19h45, Sport Tv2)
🏀 Milwaukee Bucks- Cleveland Cavaliers (01h00, Sport Tv2)
🏐 Voleibol: Ziraat Ankara-Perugia (17h00, Sport Tv3)
Quinta-feira, 17
⚽ Futebol: Portugal-Nigéria (18h45, RTP)
⚽ Futebol: Roménia-Eslovénia (16h30, Sport Tv2), Irlanda-Noruega (19h45, Sport Tv5)
🏌🏻 DP World Tour Championship, no Dubai (07h00, Sport Tv3)
🏈 Packers-Titans (01h15, Eleven Sports1)
Sexta-feira, 18
🏉 Râguebi: Portugal-Estados Unidos, qualificação para o Campeonato do Mundo (15h30, Sport Tv3)
🎾 World Padel Tour, em Buenos Aires: quartos-de-final (final joga-se domingo)
🏀 Cleveland Cavaliers-Charlotte Hornets (00h30, Sport Tv2)
Sábado, 19
🏎️ Qualificação de Fórmula 1 no GP de Abu Dhabi (14h00, Sport Tv4)
⚽ Futsal: Quinta dos Lombos-Sporting (17h00, Sport Tv3)
⚽ Futebol: Turquia-República Checa (17h00, Sport Tv2)
🤼♂️ UFC: Lewis vs. Spivac & André Fialho vs. Muslim Salikhov
Domingo, 20
🏎️ GP de Abu Dhabi (13h00, Sport Tv4)
⚽ Mundial: cerimónia de abertura (14h45, Sport Tv1)
⚽ Mundial II: Catar-Equador (16h00, Sport Tv1)
⚽ Taça da Liga: Estrela Amadora-Benfica (19h00, Sport Tv2)
🏈 Vikings-Cowboys (21h25, Eleven Sports3)
Hoje deu-nos para isto

Matthew Ashton - AMA
O Canadá só disputou um Campeonato do Mundo na sua história. Foi em 1986, naquele mês em que o mundo inteiro se enfiou dentro das bolas conduzidas por Diego Armando Maradona. Alphonso Davies nasceu em novembro de 2000, já depois de Luís Figo, Rui Costa e companhia espalharem magia no Europeu. Mas isso é tão menor quando damos conta de que Davies nasceu num campo de refugiados, no Gana, depois de os seus pais fugirem da angústia, pólvora e violência da guerra na Libéria.
“Um miúdo nascido num campo de refugiados não deveria estar aqui”, escreveu o canhoto do Bayern de Munique, nas redes sociais. “Mas vamos ao Campeonato do Mundo. Não deixem que alguém vos diga que os vossos sonhos são irreais. Continuem a sonhar, continuem a alcançar.” Porque os Mundiais também são sobre isto, sobre histórias improváveis e de superação, Alphonso Davies, que terá Steven Vitória e Stephen Eustáquio por perto, será uma das inspirações do torneio.
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