O momento mais feliz no meio da maior tragédia
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31.10.2022
Filipe Martins é o homem que trouxe o Casa Pia da II Liga. Está agora em 4.º na divisão principal
Gualter Fatia/Getty
Olhamos para a tabela e só três equipas piam acima do Casa Pia, o mesmo Casa Pia que chegou à I Liga esta temporada 83 longínquos anos depois. Só Benfica, Braga e FC Porto têm mais pontos que a equipa de Pina Manique, que encarou o regresso aos grandes com a cabeça fria dos projetos fortes: não desesperando à procura de reforços, na ânsia do tudo e agora - mesmo tendo por trás um investidor norte-americano, Robert Platek -, optando por solidificar aquilo que os trouxe até aqui.
Tal como na II Liga na última temporada, o Casa Pia continua a ser um coletivo consistente, que sofre poucos golos (só o Benfica tem menos golos encaixados), uma mescla de jogadores experientes e contratações cirúrgicas. Fugiu à tentação fácil das hordas de emprestados, ao entreposto de jogadores que descaracterizam um escudo. A base da equipa que subiu, essa, está lá e, mantendo a sua ideia, o Casa Pia vai fazendo um campeonato tranquilo, perdendo poucos pontos contra adversários diretos, caindo apenas contra quem se esperaria que caísse - das três derrotas no campeonato, uma é com o Benfica e outra com o Sporting.
Tudo isto já valeria loas e palavrosos encómios ao Casa Pia, mas estou aqui por outra razão. Porque, não menos importante, o Casa Pia trouxe a este campeonato que se ergue numa montanha de ar rarefeito uma brisa gentil de fair play que fazia falta. Viu-se no duelo com o Vizela, em que uma iniciativa do clube promoveu um encontro entre os treinadores antes do jogo, convívio entre os adeptos durante o mesmo e uma conferência de imprensa conjunta no final - e Filipe Martins estava lá, mesmo que essa tenha sido uma das únicas derrotas do Casa Pia esta época. E viu-se também na já famigerada flash de Vasco Fernandes após a derrota com o Sporting, que vale a pena sublinhar por ser tão rara no nosso futebol.
O bem e a violência têm uma coisa em comum: são contagiantes. O Casa Pia, ao contrário de tanta gente com responsabilidade, está a optar pelo bem. E o bem chama o bem, dos adeptos, dos rivais, coisa que quem se passeia pelos corredores dos estádios dos nossos três grandes não há maneira de aprender.
Serve por isso este texto para deixar um abraço solidário a Filipe Martins, o treinador do Casa Pia, que no domingo levou a sua equipa a mais uma vitória apesar de estar a viver uma das maiores tragédias pessoais que se pode imaginar: a perda de um pai. No meio daquele que será um dos momentos mais felizes da história dos lisboetas e do seu técnico, veio este baque imenso à qual a equipa respondeu com a solidez do costume e um golo salvador do grande destaque individual da época, que tem sido o nigeriano Saviour Godwin. E no final, porque o bem é contagioso, os adversários estavam lá para abraçar o treinador.
A fotografia que dá cor a esta newsletter mostra-nos Filipe Martins a sorrir porque esperamos que o possa fazer em breve. E, além disso, o 4.º lugar fica-lhes bem.
O que se passou
Na I Liga, jornada feliz para o Benfica, que goleou e viu FC Porto e Sporting perderem pontos.
A meio da semana, boas notícias para Portugal na Champions, com Benfica e FC Porto a garantirem já a presença nos oitavos de final e o Sporting a ficar a depender de si para tal. Tudo para definir já esta terça-feira. Seria histórico.
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Zona mista
Não tenho problema algum em olhar para o banco e ver um Diogo Santos a entrar no meu lugar, um [Tomás] Paçó a jogar mais minutos do que eu, o Erick [Mendonça] a jogar 40’ ou o João Matos a jogar um minuto…
João Matos, o epítome de um grande capitão de equipa, o homem que leva a braçadeira com as cores da seleção nacional e do Sporting, com os quais ganhou tudo, sabendo do seu papel, das suas forças e limitações. Em entrevista aqui à Tribuna Expresso
O que aí vem
Segunda-feira, 31
⚽ O Vitória - Famalicão fecha a 11.ª jornada (20h15, Sport TV1)
🎾 Masters 1000 de Paris (10h, Sport TV3)
Terça-feira, 1
⚽ É feriado em Portugal mas há 🎶 CHAAAAAAAPIONS 🎶 com o Sporting a decidir o seu futuro com o Eintracht Frankfurt (20h, Eleven 1). Antes, o FC Porto, já apurado, recebe o Atl. Madrid (17h45, Eleven 1)
Quarta-feira, 2
⚽ Para fechar a fase de grupos da Champions, o Benfica tenta o 1.º lugar frente ao Maccabi Haifa (20h, TVI/Eleven 1)
Quinta-feira, 3
⚽ Na Liga Europa, o SC Braga joga o seu futuro com o Malmo (20h, Sport TV1)
Sexta-feira, 4
⚽ Arranca mais uma jornada da I Liga com o Gil Vicente - Portimonense (20h15, Sport TV1)
Sábado, 5
⚽ Liga feminina: Sporting - Benfica (15h, 11)
⚽ I Liga: Vizela - Arouca (15h, Sport TV1), FC Porto - Paços Ferreira (18h, Sport TV2) e Sporting - Vitória (20h30, Sport TV1)
⚽ Premier League: Manchester City - Fulham (15h, Eleven 1)
🏁 MotoGP: qualificação GP Valencia (14h10, Sport TV4)
Domingo, 6
⚽ I Liga: Rio Ave - Boavista (15h30, Sport TV1), SC Braga - Casa Pia (18h, Sport TV2), Marítimo - Famalicão (18h, Sport TV6) e Estoril - Benfica (20h30, Sport TV1)
⚽ Premier League: Chelsea - Arsenal (12h, Eleven 1), Aston Villa - Manchester United (14h, Eleven 1) e Tottenham - Liverpool (16h30, Eleven 1)
⚽ Serie A: Roma - Lazio (17h, Sport TV3) e Juventus - Inter (19h45, Sport TV3)
🏁 MotoGP: GP Valencia, que vai decidir o título (13h, Sport TV4)
Hoje deu-nos para isto
O apoio de vários jogadores brasileiros de alto perfil à reeleição de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil não terá sido exatamente uma surpresa, mas fazendo fé nas palavras de Lula da Silva, Neymar terá dado cara e corpo à campanha do candidato derrotado não (ou não só) por uma ligação cósmica de ideias e convicções para o futuro do país, mas como um toma-lá-dá-cá depois de Bolsonaro ter, alegadamente, perdoado dívidas fiscais ao futebolista do PSG.
A ser verdade, é só mais um exemplo da alienação à qual as super-estrelas se vetam, olhando para si e só para si, amarradas na sua redoma de riqueza e fausto, esquecendo-se que tantas vezes lá no país onde nasceram há quem se mate por um prato de comida. Pior ainda quando muitos desses futebolistas também cresceram na dificuldade, saindo dela desumanizando-se no processo, perdendo em empatia o que ganharam em contratos chorudos.
Mas daqui a menos de um mês a bola começa a rolar no Catar, esse país onde também todos são iguais mas uns são mais iguais do que outros, e já ninguém se vai lembrar. Ainda bem que, pelo menos, o Brasil é uma democracia. Que o mundo seja, a partir desta segunda-feira, pelo menos um pouquinho mais humano.

Alexandre Schneider
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E já agora, se ainda não escutou, o podcast chamado A Culpa é do Árbitro, com Duarte Gomes, terá novo episódio, esta semana excepcionalmente à segunda-feira, já que na terça-feira é feriado.