Os bravos e valentões do teclado
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08.08.2022

Ricardo Esgaio foi ultrapassado no lance que originou o terceiro golo do SC Braga contra o Sporting. E muita gente achou que isso justificava insultá-lo e ameaçá-lo
DeFodi Images
Álvaro Djaló tem fogo no corpo, é um futebolista veloz e de arranque frenético, para o saber é desnecessário conhecê-lo há que tempos porque bastou um lance, uma jogada, uma vez a bola ir ter com ele à esquerda do campo, para o extremo para encarar o adversário, pedalar com a perna que lhe alavanca a mudança de velocidade e, com a outra, mandar a bola para diante. É a meta à qual chegou primeiro por ser, de caras, muito mais rápido do que Ricardo Esgaio, o desafortunado que o defendia diretamente. À falta de dois minutos, o SC Braga empatou, o Sporting não ganhou e o futebol regurgitou a podridão das suas entranhas.
Sendo rigoroso, a culpa não tem morada exatamente no futebol. É nas não sei quantas pessoas e sempre demasiadas que acorreram às redes sociais do jogador do Sporting para o criticar, ameaçar e insultar em várias publicações assim que a bola entrou na baliza, no domingo, ao ponto de o obrigarem a desativar todas as contas para não ter de levar com a gratuitidade do direito que tantos senhorios de tão poucos centímetros quadrados de massa cinzenta nas suas cabeças supõem poder exercer para chamarem nomes a um futebolista.
Porventura, essas mesmas mentes brilhantes também vomitam a sua apoplexia mental nas extensões internéticas de atores cujas interpretações desgostam, de arquitetos desenhadores de um prédio com traços que não lhes apraz e de escritores que ousaram publicar um livro com prosa que não entendem. A Ricardo Esgaio bastou não ser capaz de impedir que um adversário mais rápido do que ele o ultrapassasse para levar com a quadratura de pensamento de quem, pelos vistos, vê futebol, mas é dono de um nariz imitador de Pinóquio se disser que gosta de futebol.
Apreciar o jogo não é isto. Quantas vezes ouvimos das catacumbas das mentes dessas pessoas o absolutismo de frases, ou suas variantes, como “eles têm de ser apertados” ou “com o dinheiro que ganham, têm é de aguentar” para se intitularem a descarregar nos jogadores a sua equívoca perceção do futebol. Porque é um jogo, tão-só um jogo, que pode servir de escape para problemas da vida e há tanta gente que o vive como um ponto de descarregamento de frustrações do dia-a-dia ou até pretexto para trocar pancadaria com quem torce por um clube diferente, comportamento pior ainda do que o insulto e a ameaça.
Ricardo Esgaio é apenas mais um exemplo e, infelizmente, não será o último. Quiçá os futebolistas sejam pitosgas e, nos contratos que assinam com os clubes, haja letrinhas muito pequenas, mirradas para não serem lidas, com uma alínea que os obriga a aturarem nas redes sociais a cobardia de pessoas que nem se identificam. Com um telemóvel na mão e atrás do teclado somos todos valentes, é facílimo atirar o que seja a outra pessoa. Muito mais fácil do que jogar futebol e fazê-lo com este cariz de ruído.
Um jogador ter de criar uma carapaça mental para lidar com assobios em coro no estádio, cânticos para troçarem a equipa rival ou apupos de momento vindos da bancada pode ser descrito como normal, pelo menos expectável será. As almas que pagam para assistir a um jogo estão ali a quente e o ambiente desfavorável a quem visita um recinto alheio faz parte da rivalidade da bola. Ter o trabalho de ir ao telemóvel, abrir uma rede social e escrevinhar impropérios para um jogador ou respetivos familiares, enviando-os diretamente ao visado, mostra o azar do futebol em ter de levar com os basilares males que existem nas pessoas.
Gostava de compreender o que vai na cabeça de quem acorre a teclar insultos para os futebolistas. Será por, genuinamente, pensarem que o jogador erra ou não toma a melhor ação para aquela situação de jogo específica propositadamente? Julgam que as ameaças são o truque para ele ter um momento eureka e já jogar melhor nas partidas seguintes? Ou que o insulto anónimo e sem critério é uma espécie de castigo que os jogadores têm de acatar e baixar as orelhas, simplesmente, por jogarem futebol profissional?
O facto de existirem respostas para estas interrogações não significa que sejam aceitáveis. O provável é que saiam disparadas das mesmas grutas onde se formam as pretensões de os futebolistas deverem alguma coisa a quem assiste ao jogo - de fazerem exatamente o que as pessoas esperam deles, caso contrário não servem - ou a ideia de que um só erro de um árbitro é culpado por um resultado quando há 89 minutos e dezenas de segundos de sobra no jogo (sobre isto, a Tribuna terá a partir da próxima terça-feira o podcast ‘A Culpa é do Árbitro’, com Duarte Gomes).
Repetindo, anónimos e atrás de um teclado somos todos a pessoa mais alta, corajosa e brava da nossa aldeia. No fundo, não tem nada a ver com futebol, mas, como isto de depositar 22 corpos num hectare de relva com uma bola virou a modalidade mais popular do planeta, cedo vira também montra para tudo o que de bom e mau há nas pessoas. Neste caso, o que de pior existe nelas.
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Fernando Pimenta já vai com 32 anos e este que vos escreve não tem memória alguma de o ouvir falar de forma distinta a esta: a transbordar de ambição, cheíssimo de motivação e furibundo com ele próprio quando as pagaiadas lhe dão algo que não o máximo que pode conquistar. O nativo de Ponte de Lima saiu dos Mundiais de canoagem, no Canadá, com três das quatro medalhas conquistadas por Portugal e antes de na última prova, os 5.000 metros em K1, ser obrigado a desistir por culpa de um remo partido, já dizia que “tinha de sair [dali] a ouvir A Portuguesa”, que apenas toca se houver um ouro ao pescoço. O canoísta chegou às 118 medalhas conquistadas em provas internacionais. Haverá algum outro atleta português com um registo sequer parecido?
Segunda-feira, 8
🚴♂️ 4.ª etapa da Volta a Portugal (RTP1).
⚽ A primeira jornada da I Liga fecha com o Gil Vicente-Paços de Ferreira (20h15, Sport TV1). Na Turquia, Jorge Jesus estreia-se no campeonato com o Fenerbahçe frente ao Umraniyespor (19h45, Sport TV3).
🎾 Começa o torneio Masters 1000 de Montreal, no Canadá, com final marcada para domingo (a partir das 17h, diariamente, Sport TV2).
Terça-feira, 9
⚽ É dia de o Benfica ir à Dinamarca jogar a segunda mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o Midtjylland (18h45, Sport TV1), após o 4-1 obtido em Lisboa. Pouco depois, o Sturm Graz e o Dynamo de Kiev (19h30, Canal 11) também entram em campo para decidir o possível adversário dos encarnados na ronda seguinte de apuramento.
Quarta-feira, 10
⚽ O Corinthians de Vítor Pereira vai ao Rio de Janeiro discutir a passagem às meias-finais da Copa Libertadores com o Flamengo (1h30, Sport TV1), depois de perder, em São Paulo, na primeira mão por 0-2. E o Vitória recebe o Hajduk Split (17h, Sport TV) após a derrota por 3-1 na Croácia, para a 3.ª pré-eliminatória da Liga Conferência.
🚴♂️ 5.ª etapa da Volta a Portugal (RTP1).
⚽🏃♀️ O Benfica e o SC Braga defrontam-se na final feminina da Supertaça de Portugal (17h30, Canal 11).
⚽🏆 Vai decidir-se quem leva para casa a Supertaça Europeia, em Helsínquia, entre Real Madrid e Eintracht Frankfurt (20h, TVI).
Quinta-feira, 11
🌊 Começa o Outerknown Tahiti Pro, derradeira etapa dos circuitos mundiais masculino e feminino de surf, que decidirá quem são os e as cinco melhores surfistas do ranking que irão depois competir nas WSL Finals, em setembro.
🚴♂️ 6.ª etapa da Volta a Portugal (RTP1).
⚽ Feito o empate a dois golos na primeira mão, o Palmeiras de Abel Ferreira vai a casa do Atlético Mineiro, campeão brasileiro, jogar pela passagem às meias-finais da Copa Libertadores (1h30, Sport TV1). À mesma hora, o Talleres de Pedro Caixinha tem igual objetivo frente ao Vélez Sarsfield (Sport TV5). Mais tarde, o Gil Vicente recebe o Riga (20h, Sport TV1) para a segunda mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga Conferência.
Sexta-feira, 12
🚴♂️ 7.ª etapa da Volta a Portugal (RTP1).
⚽ Arranca a segunda jornada da I Liga com o Famalicão-SC Braga (20h15, Sport TV1).
Sábado, 13
🚴♂️ 8.ª etapa da Volta a Portugal (RTP1).
🏉 Joga-se a segunda jornada do Rugby Championship, torneio que reúne as quatro melhores nações ovais do hemisfério sul. Repetem-se os duelos da primeira ronda: África do Sul-Nova Zelândia (16h05) e Argentina-Austrália (20h10).
⚽ Mais I Liga: Casa Pia-Benfica (18h, Sport TV2) e o Sporting-Rio Ave (20h30, Sport TV1). É fim de semana de arranque da Série A e o campeão AC Milan de Rafael Leão, eleito o MVP da época passada, recebe a Udinese (17h30, Sport TV3). Na Premier League, o Manchester City de Bernardo Silva e João Cancelo recebe o Bournemouth (15h, Eleven Sports).
Domingo, 14
🚴♂️ 9.ª etapa da Volta a Portugal, que termina no dia seguinte (RTP1).
🎾 Tem início o Masters 1000 de Cincinnati.
⚽ I Liga: Boavista-Santa Clara (15h30, Sport TV2), Vizela-FC Porto (18h, Sport TV1) e V. Guimarães-Estoril Praia (20h30, Sport TV1). Na Premier League, o Chelsea e o Tottenham têm um dérbi londrino (16h30, Eleven Sports), o Manchester United recebe o Brendtford à mesma hora e, antes, o Arsenal é anfitrião do Leicester.
Hoje deu-nos para isto

Yup, Roger Federer já tem 41 anos.
Cameron Spencer/Getty
Sempre me acontece e o motivo é indiferente, como se fosse uma caixa de preenchimento obrigatório quando apenas queremos despachar uma tarefa trivial na internet. Quando há assunto pelo qual puxar em Roger Federer - e se não fôssemos tão picuinhas a perscrutar a relevância dos tópicos, teríamos uma secção dedicada só a ele -, ganho minutos que facilmente cortejam horas a vasculhar os motores de busca das agências de fotografia a que temos direito no Expresso com pesquisas como “Roger Federer backhand” e “Roger Federer best shots” e lá vou eu perdido num estranho transe de admiração a como é possível um tenista ter cada centímetro seu captado tão graciosamente, frame atrás de frame atrás de frame.
Escrevi que ganho tempo porque existem afazeres na vida em que nos sentimos vencedores apesar de o tempo nos fazer perder nesta inevitável viagem que finda para todos, mas não, no desporto, se formos sortudos, lá aparecem os fenómenos geracionais que definem uma era e Roger Federer, que esta segunda-feira cumpre 41 anos, ainda tenta ser um desfazedor de tempo, virar um ganhador na luta com derrota certa. Há mais de um ano que não o vemos jogar (foi na versão 2021 de Wimbledon) e ele, de vez em quando, diz que trabalha na recuperação, que espera regressar, que se sentiu bem a bater umas bolas, que as sensações foram boas a dar uma corrida não sei onde.
Um dos joelhos do suíço deu o mais recente baque no seu físico, é essa mazela que lhe tem cravado uma recuperação e nós, gentes amantes de ténis ou até nem por isso, aguardamos pelo dia que cada vez mais parece ser só um dia cerimonial, de exultação pelo já feito por Federer e não pelo que seja que ainda poderá fazer nos courts. Disse o suíço que participará na Laver Cup, o torneio de exibição que a sua empresa criou, com início a 23 de setembro, e que jogará em Basileia, a sua cidade, no mês seguinte, para alimentar as ansiosas expetativas de tante gente.
O aniversário de uma das pontas do tridente à volta do qual rodarão as conversações inúteis sobre quem é o melhor tenista da história mantém-nos confinados a um casebre da nostalgia, recordando-lhe a souplesse de incontáveis pancadas e o quão distinguível é dos restantes em tudo o que a estética aprimora no ténis. O fim de Roger Federer com uma raquete em punho está cada vez mais próximo e estas até são as primeiras velas que sopra, desde a adolescência, sem ter o nome a aparecer no ranking ATP. Infelizmente, os sinais estão aí para quem os quiser ver.
A Tribuna Expresso está de regresso à sua casa, onde poderá continuar a acompanhar como sempre não só a atualidade desportiva como as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter. Obrigado por nos ler, tenha uma boa semana e boas férias se for caso disso.