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Não há dor, nem fadiga, só há uma mulher a tentar levantar-se

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Bárbara Timo ganhou, no sábado, a medalha de ouro no Grand Slam de Paris, na categoria de -63 quilos. E não era suposto estar tão leve

Bárbara Timo ganhou, no sábado, a medalha de ouro no Grand Slam de Paris, na categoria de -63 quilos. E não era suposto estar tão leve

CHRISTOPHE PETIT TESSON/Getty

Ao quilo ou ao grama, à arroba ou à onça, desconheço como a minúcia controladora do peso afeta quem pisa descalço um tapete mole e cobre o corpo com uma túnica cruzada à frente, de tecido grosso e largo. Por tão pouco justo ao corpo ser, um quimono é uma veste enganadora. Não mostra a tornearia de um corpo obrigatoriamente esculturado a músculo, força e energia para ser capaz de pegar noutro corpo, possivelmente, distinto na forma, mas parecido na resistência feita ao efeito da gravidade.

Como em qualquer outra arte marcial ou modalidade de combate, o peso é a cola das vontades e a forma que se arranjou para emparelhar pessoas a preceito da justiça. Não é assim tão comum um judoca fixar um peso e mudar de ideias: implica trocar de adversários já conhecidos, desabituar o próprio corpo a hábitos ou trocar as voltas à nutrição. Ou, às vezes, fá-lo porque a vida lhe acontece e Bárbara Timo sentiu-a, de novo, a chocar de frente.

Dos Jogos Olímpicos habituámo-nos a ouvir dizer que são o apogeu para qualquer atleta e, no caso da judoca, tiveram algo de cume escorregadio, de pico da montanha que quão mais alto for, mais acentuada será a descida ao sopé. Bárbara Timo teve uma depressão e a ida ao Japão foi "o pico do stress" que somou à ansiedade da pandemia, à perda de um tio para a covid-19 e a tudo o que mora

Feito um período de pausa nos treinos após os Jogos, a portuguesa pesou-se. Estava nos 67 quilos. Bárbara decidiu seguir a deixa de uma das consequências da condição que tão sozinha vive na casa sem janelas que é cabeça de cada um e quis perder mais peso, para competir em -63 quilos, categoria que abandonara antes dos 21 anos. Agora, com 30 e na primeira vez que levou este novo peso a uma prova internacional, regressou com a medalha de ouro — e logo do Grand Slam de Paris, dos torneios mais icónicos que há.

Pouco antes de ir para lá admitiu estar "confortável para falar" do que "não é um estigma", mas continua a ser tratado como se fosse. Bárbara teve uma depressão, que tem o cognome de doença silenciosa também por culpa dos filtros entranhados nos ouvidos de quem deve escutar, mas, primeiro, apenas julga. No desporto de alta competição, cada atleta vive para superar os outros, superar a sua própria pessoa e depois ainda tem de superar o larachismo opinativo de quem liga a televisão e se pronuncia sobre a infimidade de um resultado, que nunca mostra tudo o resto.

Em Tóquio, Bárbara Timo perdeu na segunda ronda da categoria de -70 quilos e agora, em Paris, foi campeã nos -63. É a mesma pessoa que aos 8 anos, por ser já tão alta e pesada, fez o primeiro torneio contra rapazes e ganhou a todos; com 16 perdeu a mãe para um cancro da mama; aos 27 anos decidiu sair do Brasil, vir para Portugal e ser portuguesa para tentar chegar aos Jogos; e, já com 30, ganhou o bronze nos Europeus de Lisboa só sete semanas após uma cirurgia ao cotovelo.

Bárbara Timo é uma mulher que já passou e ainda passa por muito, deu-se o caso de querer desvendar uma nesga dos meandros do que teve lidar mentalmente e mostrou, também, o quão condenada está qualquer pessoa quando fala sobre um desportista que apenas vê a competir — ao reducionismo e ao falatório sobre uma realidade que não conhece por inteiro. Porque, quase sempre, vemos o resultado sem ver o processo e a judoca que agora tornou a tocar na glória é "só uma mulher a tentar levantar-se".

O que se passou

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Infelizmente, não houve taça

Depois de imaginar o que fariam Sérgio Conceição, Rúben Amorim e Jorge Jesus caso as suas equipas tivessem escorregado na Taça de Portugal, Bruno Vieira Amaral admite que ver o jogo do Benfica contra o Trofense e, no dia seguinte, o massacre do Bayern de Munique em casa do Leverkusen o pôs a ansiolíticos. Da “segunda linha” do Benfica, assim chamada porque deveria estar na segunda liga, a fazer companhia à equipa B, o escritor considera que não se pode dizer que foi desastrosa porque, ao menos, os desastres geram uma curiosidade mórbida

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A Roma de Mourinho atacou, atacou e atacou, mas esbarrou na velha muralha de Bonucci e Chiellini

Na deslocação a Turim, a equipa do técnico português perdeu (1-0) contra a Juventus. A Roma rematou mais, criou perigo e até falhou um penálti, mas foi incapaz de marcar contra um conjunto que continua a ter dois catedráticos da defesa

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“O meu treinador na Polónia chegou a dizer-me que tinha de correr 12 km por jogo. Em Portugal, uma pessoa fica ‘o quê? mas isso interessa?’”

Depois de duas épocas e meia a jogar na Polónia, onde aproveitou para estar mais tempo com a família paterna e melhorar a língua, Tomás Podstawski está agora na Noruega, onde joga numa intensidade elevada, segundo ele, por causa do frio. Amante de viagens e de enologia, nesta II parte da entrevista confessa que a maior extravagância que fez na vida foi abrir uma garrafa de vinho com um amigo que custou entre 400 e 500€. E conta como, para a namorada poder entrar na Polónia durante o confinamento, contratou-a para a sua empresa: "acabei por não lhe pagar o salário e despedi-a passado um mês"

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Aos 15 anos, Roger tornou-se no mais jovem de sempre a marcar pelo SC Braga. Nos festejos, foi abraçar Carvalhal e não conteve as lágrimas

Na goleada (5-0) da equipa minhota frente ao Moitense, o "miúdo", como lhe chamou o seu treinador, marcou e entrou para a história do clube, não escondendo a emoção no seu rosto juvenil

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Uma noite de sofrimento contra os bravos da Trofa

O Benfica derrotou (2-1), após prolongamento, o Trofense, na 3.ª eliminatória da Taça de Portugal. Perante um conjunto da II Liga que deixou uma imagem de qualidade, lutando pela passagem até ao último suspiro, Everton e André Almeida marcaram os golos das "águias", que tiveram de suar muito para evitar uma eliminação precoce

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Há muitos anos que o Sporting não tinha em Daniel Bragança um capitão com o cabelo mais à Sporting possível

Além de comentar a estado capilar de quem capitaneou o Sporting contra o Belenenses, a análise humorística de Diogo Faro também se focou no rácio entre golos e minutos jogados por Tiago Tomás, que "deve ser suficiente para o Paulinho ter passado a noite sentado no chuveiro a pensar longamente na sua vida"

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“No V. Setúbal apanho jogadores que, ao contrário de mim, sabem que já não vão a lado nenhum, já não têm ambições e não treinavam a 100%”

Filho de mãe portuguesa e pai polaco, Tomas Podstawski, de 26 anos, esteve quase uma década no FC Porto sem conseguir um lugar no plantel principal, apesar de ter jogado quatro anos na equipa B. Fez dois europeus, um Mundial e os Jogos Olímpicos de 2016 com a camisola de Portugal, mas nunca foi chamado à seleção A. Do FC Porto rumou ao V. Setúbal, onde encontrou mais dificuldades do que pensava para alcançar os seus objetivos. Acabou por ir jogar para a Polónia, mas disso falamos no domingo, na segunda parte da entrevista.

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Bebé, o campeão que não é profissional para ajudar a mãe: “Disse-me: ‘Não sei ler nem escrever, peço é que possas gerir o restaurante”

O guarda-redes que conquistou o Campeonato do Mundo de futsal com Portugal, já depois de vencer o Europeu, era o único não profissional na seleção nacional porque, todos os dias, vai fazer as compras ao mercado e servir às mesas "do sonho" da mãe: ter um restaurante. Bebé ajudou a concretizá-lo e, em entrevista à <strong>Tribuna Expresso,</strong> conta como "não tem tempo para [se] coçar", mas a mulher diz-lhe que nunca leva queixas para casa. Porque ele não vê obstáculos e prefere concentrar-se nas soluções, daí o selecionador nacional, Jorge Braz, o ter como exemplo de vida

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Paula Badosa "esteve num buraco", sofreu com ansiedade e depressão, mas agora "vive um sonho"

Campeã do torneio Roland Garros júnior em 2015, a espanhola foi, desde nova, comparada a Shaporava, que sempre idolatrou. Mas "as pessoas meteram-lhe muitas coisas na cabeça" quando ainda "era muito jovem" e Badosa não conseguiu lidar com as expectativas, sofrendo uma "crise pessoal". Paula deu a volta por cima e está a ter em 2021 o seu ano de afirmação: entrou no top-30 do ranking, ganhou o seu primeiro título WTA e agora está na final de Indian Wells

Zona mista

Nunca quis ser recordado apenas como um piloto de corridas, não quero ser lembrado só por isso. É bom se me lembraram como um bom piloto, mas o meu tempo aqui é mesmo para impactar e ajudar pessoas.

Lewis Hamilton é nome e apelido que já foi dito e redito incontáveis vezes por ter sido sete vezes campeão mundial de Fórmula 1 e batido tudo o que são recordes comprovadores da sua lendária qualidade encascado num daqueles monolugares, mas, à rádio da "BBC", garantiu o que tem feito por mostrar nestes últimos anos: quer usar a notoriedade e posição de influência que tem para chamar a atenção para os problemas relacionados com o racismo ou a desigualdade de oportunidades.

O que vem aí

Segunda-feira, 18

🌊 Continua, em Hossegor, France, a etapa masculina e feminina do Challenger Series que vale 10.000 pontos para o circuito mundial de qualificação da World Surf League, onde estão cinco portugueses: Frederico Morais, Vasco Ribeiro, Teresa Bonvalot, Yolanda Sequeira e Carolina Mendes (Fuel TV). O período de espera das provas vai até 24 de outubro.

Terça-feira, 19

⚽ Retorna a bola coberta por estrelas e logo com dois jogos a envolver equipas portuguesas: o Sporting vai a Istambul jogar com o Besiktas (17h45, Eleven Sports 2) e o FC Porto recebe o AC Milan (20h, Eleven Sports 1).

Quarta-feira, 20

🏀 Arranca a nova época da NBA com um Milwaukee Bucks-Brooklyn Nets (00h30, Sport TV1).
⚽ É a vez de o Benfica fechar a primeira volta da fase de grupos da Liga dos Campeões, no Estádio da Luz, contra o Bayern Munique (20h, TVI).

Quinta-feira, 21

⚽ Na Liga Europa, o Sporting de Braga vai à Bulgária para defrontar o Ludogorets Razgrad (17h45, Sport TV1) e, à mesma hora, a AS Roma de José Mourinho e Rui Patrício visita o Bodo/Glimt, a contar para a Conference League.

Sexta-feira, 22

⚽ A 9.ª jornada da I Liga começa com o V. Guimarães-Marítimo (20h15, Sport TV1).

Sábado, 23

⚽ O campeonato nacional prossegue com vários jogos: o Santa Clara-Famalicão (15h30, Sport TV2), o Tondela-FC Porto (18, Sport TV2) e o Sporting-Moreirense (20h30, Sport TV1).

Domingo, 24

🏍️ O Grande Prémio de Itália (dell' Emilia-Romagna) está marcado para as 13h (Sport TV2).
⚽ É dia de clássicos um pouco por toda a Europa. Em Espanha, é dia de Barcelona-Real Madrid (15h15, Eleven Sports 1) e Inglaterra também terá o seu jogo grande Manchester United-Liverpool (16h30, Sport TV3) a acontecer. Nos Países Baixos joga-se o Ajax-PSV (15h45, Sport TV5) e para Itália está reservado o AS Roma-Nápoles (17h, Sport TV4) e o Inter-Juventus (19h45, Sport TV2). Em França, o Marselha recebe o Paris Saint-Germain (19h45, Eleven Sports 2).
⚽ Por estádios portugueses, há um Paços de Ferreira-Arouca (15h30, Sport TV2), um Vizela-Benfica (18h, Sport TV1) e o Portimonense-Estoril Praia (20h30, Sport TV2).
🏎️ O Grande Prémio dos EUA, no circuito das Américas, em Austin, Texas, terá a particularidade de se realizar tarde e a estranhas horas para quem estiver a assistir cá no burgo: a corrida arrancará às 20h (Eleven Sports).

Hoje deu-nos para isto

Em 2000, Nuno Delgado foi à "land down under" ganhar o bronze e dar a primeira medalha olímpica no judo a Portugal

Em 2000, Nuno Delgado foi à "land down under" ganhar o bronze e dar a primeira medalha olímpica no judo a Portugal

Langevin Jacques/Getty

O quimono branco como um algodão imaculado, a sua musculatura férrea a enchê-lo e o cinturão negro da mestria a manter tudo composto antes dos agarrões, das tentativas de projetar o outro e dos bloqueios com o corpo às investidas do outro matulão que se apresentava em preparos semelhantes ao do português, no tapete de Sydney.

Nuno Delgado sairia da Austrália com o peso de um bronze no corpo. Foi a primeira medalha olímpica para o judo português, feito que Telma Monteiro, no Rio de Janeiro (2016), e Jorge Fonseca, em Tóquio (2021), replicariam para confirmar que o judo é modalidade na qual o país é fabricador de capacidades incalculáveis.

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