Subitamente, apetece-me escrever sobre nada
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13.04.2020

Claudio Villa - Inter
Subitamente, apetece-me escrever sobre nada. Não sobre “o nada” metafísico, porque gosto de achar que uma newsletter assim tem de ser mais concreta do que abstrata, por isso isto é rigorosamente sobre nada.
Porque enquanto tentamos prever o futuro confinados, absorvendo dentro de paredes a ideia de estarmos exatamente no meio e a meio do desconhecido, nada acontece a não ser, pois, os exercícios adivinhatórios – probabilísticos, matemáticos, políticos e estatísticos – que pretendem responder a uma dúvida julgávamos impensável surgir: quando é que tudo isto volta ao normal?
Para evitar generalizações, fecho o tema no desporto, já que esta é a Tribuna 12:45.
Não há futebol em parte alguma, minto, não há futebol em parte alguma exceto em Taiwan, no Burundi, na Nicarágua, na Bielorrússia e no Tajiquistão, onde os dérbis se jogam ao trinado de passarinhos a cantar e o nepotismo é socialmente aceite. Digamos que não é nada, mas é apenas um bocadinho menos do que nada.
E dizem que por cá o Nacional da Madeira voltará aos treinos e será a primeira equipa portuguesa a fazê-lo. Na microclimática Choupana, as unidades de treino – é este o termo técnico –contemplam “trabalhos individuais” e “um máximo de dois jogadores por campo”, pelo que pressinto sprints por entre estacas de slalom, pulos, receções de bola, mais corrida e zero meinhos. Será mais ou menos como aquelas imagens de Ronaldo e o filho e os pinos e os marcos e os cones e as bolas sob o olhar e a pose de vistoriador de Rui Alves, o presidente do Nacional. Como “a atividade dos atletas de alto rendimento e seus treinadores, bem como acompanhantes desportivos do desporto adaptado, é equiparada a atividade profissional” – está no ponto 3 do artigo 5.º do decreto n.º2-B/2020 – o que é que os impede? Nada.
Também nada fazia antever um singular momento de convergência que nunca aconteceu entre os principais clubes portugueses na questão dos salários. Ninguém se enganou. O Braga anunciou cativações salariais primeiro e o Sporting foi resolvendo solidariedades e empatias internas até anunciar a redução de 40% nos ordenados. Provavelmente Benfica e FC Porto estudam processos semelhantes, mas estando ambos numa luta desportiva e mediática e todavia ainda separados por um ponto, qualquer coisa que lhes permita ter vantagem um sobre o outro é de aproveitar. Nem que seja o dinheiro que um tem e o outro – é público – tem menos.
Acontece que não há quem projete certezas absolutas, pois falta tempo e faltam informações sobre a covid-19, um vírus jovem e cujas consequências definitivas estamos ainda longe de dominar. É possível que a Liga regresse aos poucos e à porta fechada com jogos disputados numa sequência absurda, tal como é possível que o regresso da Liga se faça em playoff ou ainda que a Liga jamais regresse e o campeonato se anulado, contrariando as exigências da UEFA que fizeram a Bélgica retroceder na decisão de cancelar a sua Jupiter League.
Sabemos nada.
O QUE SE PASSOU
Se julgavam que nada, pois então que estão enganados. A Tribuna Expresso continua a produzir os conteúdos habituais (histórias, artigos, notícias e entrevistas) e novas rubricas ("O Meu Jogo", "O Dia Em Que...") e os nossos leitores continuam connosco. Portanto, entre os feriados de sexta-feira e domingo, e um sábado normal, destacamos isto:
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HOJE DEU-NOS PARA ISTO
Ora então, este é CSKA Pamir contra o Khujand, jogo referente à liga do Tajiquistão, que tentaremos seguir de quando em vez aqui na Tribuna Expresso. Acompanhem este singelo resumo.