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“Quero agradecer por me terem feito sentir tão especial”: Lakers retiram camisola de Paul Gasol, que se emocionou e lembrou Kobe

O espanhol, que começou e terminou a carreira no Barcelona, chegou à NBA em 2001 e passou por várias equipas, deixando um legado especial nos LA Lakers, onde se cruzou com Kobe Bryant. No centro do pavilhão, onde tantas vezes jogou, agradeceu à família, ex-companheiros e treinadores, e lembrou a pessoa que não estava: o homem por detrás da mamba mentality. "Sinto falta dele, amo-o, adorava que ele estivesse aqui. Creio que estará orgulhoso. Amo-te, irmão"

Hugo Tavares da Silva

Harry How

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A barragem que segurava a água dos olhos foi inútil. Pau Gasol, um catalão que se agigantou no Staples Center, em Los Angeles, voltou ao palco de tantas noites para receber a maior das honras que se podem receber na NBA, esquecendo a memória dos adeptos: o clube reformou a camisola 16, colocando-a lá no alto, ao lado da 24, de Kobe Bryant. As lágrimas seriam sempre inevitáveis.

Cada assento daquele pavilhão estava engolido por uma camisola 16 dos Lakers, homenageando Gasol. Todos aqueles adeptos levaram aquele tesouro para casa. O basquetebolista jogou ali pela última vez em abril de 2014, quando fez nove pontos na derrota contra os Blazers. Foi a derradeira aparição. Quase oito anos depois, o nome e obra do espanhol foram eternizados ao lado de outras lendas como Kareem Abdul Jabbar, Wilt Chamberlain, Jerry West, Shaquille O’Neal, Magic Johnson e Kobe Bryant.

A certa altura da cerimónia, o ex-atleta saltou para dentro do campo e agarrou no microfone. “É um sentimento incrível, que honra incrível", começou por desabafar, momentos antes do início do jogo contra os Grizzlies, porque a vida não pára, mesmo perante gigantes. “É esmagador ver todas estas caras, todos vocês. Só quero agradecer-vos por me terem feito sentir tão especial, é uma grande honra ter usado esta camisola, jogar nesta equipa”, disse intercalando com agradecimentos à família, ex-companheiros e treinadores, como Phil Jackson (“you’re one of a kind”).

Pau Gasol, o terceiro escolhido no draft de 2001, representou durante a carreira Barcelona, Memphis Grizzlies, San Antonio Spurs, Chicago Bulls e os Milwaukee Bucks, terminando onde tudo começou, em casa. Em Los Angeles ficou seis temporadas e meia. Para além dos dois anéis, em 2009 e 2010, foi nomeado seis vezes para as equipas All Star durante aquela jornada norte-americana que começou com singelos 21 anos.

Harry How

As palavras de Gasol foram ao encontro então de Kobe Bryant. “O meu irmão que me elevou, inspirou e desafiou a ser um jogador melhor, no fundo uma pessoa melhor”, admitiu. Uma franja importante do público começou a ecoar “Kobe, Kobe, Kobe”, a emoção era palpável. “Sinto falta dele, amo-o, adorava que ele estivesse aqui. Creio que estará orgulhoso. Amo-te, irmão.” Há alguns anos, Bryant comentou que no futuro os Lakers acabariam por retirar a camisola de Gasol.

Numa entrevista ao “El Mundo”, antes desta cerimónia, o espanhol admitiu que esse episódio profético teve dedo no futuro. “A declaração que fez foi muito importante e impactante, até para que este evento tenha lugar agora. Não sei se teria acontecido de outra maneira se ele não tivesse falado. Do que não há dúvidas é que o papel do Kobe na minha vida e na minha carreira foi determinante.”

Na reta final da declaração, Gasol falou ainda no miúdo que em tempos foi, que sonhava jogar basquetebol e, claro, na NBA. “Nunca num milhão de anos sonhei que um dia destes chegasse. Que honra”, confessou, atirando umas palavras inspiracionais para outros, para que tentem, para que deem o melhor que há dentro deles para tentar algo. No fundo, convidou quem o ouvia a obedecer à “mamba mentality”, convocando mais uma vez a figura de Kobe Bryant.

Harry How

Numa outra entrevista, ao “El País”, Pau Gasol explicou o que significava vislumbrar a sua camisola junto a nomes já referidos, como Magic Johnson e Jabbar. “São jogadores e nomes que marcaram uma época. É um grupo alucinante e dá vertigem entender que o teu nome, a tua família, os teus sonhos e quero pensar que o meu país são parte desse grupo tão excecional. É avassalador”, explicou.

Resumindo, contas feitas entre 2001 e 2019, Pau Gasol jogou 1.226 partidas na época regular da NBA e marcou 20.894 pontos, registando também 11.305 ressaltos e 3.925 assistências. Em playoffs cumpriu 136 jogos e 2.098 pontos, 1.246 ressaltos e 438 assistências.

Na tal entrevista ao “El País” perguntaram-lhe porque encaixou tão bem nos Lakers. “Houve uma série de circunstâncias que fizeram com que o encaixe fosse perfeito, como se jogasse com eles há muito tempo”, refletiu.

E prosseguiu: “Eu era um tipo de jogador que lhes faltava nesse momento, dentro do triângulo do Phil [Jackson]. Isso, para além das ganas que essa equipa tinha de ganhar, especialmente o Kobe. Não creio que houvesse alguém com mais fome para ganhar do que ele depois de anos em que não foi possível conquistar o anel, por isso quando se deu a oportunidade agarrei-a com toda a força. E o impacto foi imediato”.