A dança e o futebol estão ligados há muito. Em 1990, por exemplo, Roger Milla dançou depois de marcar um golo pelos Camarões no Mundial de Itália. Seleções como o Senegal ou a África do Sul também recorrem frequentemente à dança para festejar as bolas que entram na baliza dos outros. Na Europa, Antoine Griezmann já festejou golos através dos movimentos popularizados pelas canções de Drake.
Mas quando se fala da celebração de golos ou vitórias, há um país que não pode ficar de fora: o Brasil e o seu samba no pé. Ronaldinho, Neymar, Vinicius Jr, Raphinha, Richarlison. A lista de jogadores brasileiros que festejam ou festejaram os seus golos a dançar é enorme, tem anos e anos de história. Apesar de não ser uma novidade, agora começou a ser motivo de crítica.
O Brasil entrou com o pé direito no jogo frente à Coreia do Sul, na segunda-feira, e ao fim de 30 minutos já estava a ganhar por 3-0. Quando marcou o terceiro golo, Richarlison e a equipa juntaram-se ao treinador e dançaram. Roy Keane, ex-jogador irlandês, estava a comentar o jogo no canal “ITV” e acabou por compará-lo a um episódio do programa ‘Strictly Come Dancing’, uma competição de dança.
“Não acredito no que estou a ver, é como ver Strictly. Não gosto disto. As pessoas dizem que é a cultura no Brasil, mas penso que isso é realmente desrespeitar o adversário. São quatro golos e eles fazem-no sempre”, comentou.
E ainda envolveu Tite, o treinador brasileiro: “Não me faz muita confusão a dança no primeiro golo, mas a outra a seguir, e o facto de até o treinador se envolver. Não estou contente com isto, não acho que seja bom”.
Um dos primeiros a responder a estas declarações foi exatamente o treinador da equipa, que defendeu os seus jogadores e a “linguagem” que eles escolhem para celebrar os golos.
“Não há outra interpretação além da felicidade no golo, felicidade pela equipa, pela performance”, afirmou no final da partida. “Não houve desrespeito pelo adversário nem pelo Paulo Bento, por quem tenho muito respeito. Tentamos adaptar-nos às características dos jogadores. Eles são muito jovens e eu tento adaptar-me um pouco à sua linguagem, e parte da sua linguagem é dançar”.
Após o jogo, a opinião de Keane acabou por ecoar nas redes sociais, onde algumas pessoas concordaram e outras saíram em defesa dos festejos. Ao segundo grupo pertence Alexi Lalas, ex-jogador da seleção dos Estados Unidos.
“Sinto muito por vocês, sinto muito pela vida que levam, que não tem alegria, nem amor, nem paixão. Existem aqueles que olharam para o Brasil hoje, depois de dançarem com coreografias que estavam planeadas há algum tempo e torceram o nariz ou olharam para o outro lado. E eu digo que estão perdidos, não têm coração, não têm nada. Tu danças sempre que fazes um golo. É a coisa mais difícil de se fazer no nosso jogo e quando acontece, comemora. Se queres dançar, cantar, correr como um louco, faz o que quiseres para comemorar o melhor momento do nosso lindo jogo”, disse no seu podcast.
Luís Castro, treinador português do Botafogo, também não gostou das declarações de Keane e respondeu, durante um programa da “Sport TV”: “O Roy Keane não percebe a cultura do futebol brasileiro. Não percebe a seleção brasileira. Pronuncia-se de forma deselegante em função daquilo que aconteceu hoje. Todos sabemos que aquilo não é desrespeito para ninguém. O que se vê é uma grande união entre treinador e jogadores”.
Esta não é a primeira vez este ano em que a dança dos jogadores brasileiros incomoda. Em Espanha, várias vozes se levantaram contra as comemorações de Vinicius Jr., jogador do Real Madrid, o que levou até a alguns episódios racistas que o jogador sofreu. “Baila, Vini Jr.” acabou por se tornar um movimento nas redes sociais em defesa do jogador e contra a discriminação.
Para um palco como o Mundial, se o tema do momento é a dança dos jogadores brasileiros então resta apenas uma certeza: o futebol espetáculo está garantido. Aliás, os jogadores já avisaram que trazem muitas outras danças preparadas para cada partida.