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Mundial 2022

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A FIFA, pelos vistos, também não quer “amor” e obrigou a Bélgica a retirar a palavra da gola da sua camisola alternativa

O Mundial começou há pouco mais de 24 horas, tempo suficiente para que, assim como durante os últimos anos, o futebol já tenha passado para segundo plano: o torneio tem sido marcado pelos apelos que as seleções querem fazer e a FIFA insiste em não permitir

Rita Meireles

DeFodi Images

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Um protesto? Não podem. Mensagens políticas? Estão proibidas. E uma palavra que em nada faça referência a um protesto, mas que pode ser entendida com essa intenção? Por via das dúvidas, também não podem. É que depois de uma cerimónia de abertura em que a inclusão e a união foram palavras de ordem, a FIFA está a retirar aos jogadores todas as formas que tenham planeado utilizar para demonstrar as suas posições e passar uma mensagem para o Catar e para o mundo.

Tudo começou com uma proposta da federação neerlandesa: que os capitães das seleções usassem uma braçadeira onde aparece desenhado um coração preenchido com as cores do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQI+, e as palavras “1 Love”. A mesma que Eden Hazard usou no jogo entre a Bélgica e o Egito, mas que nenhuma das sete seleções que concordaram fazê-lo vai usar no Catar.

São elas a Inglaterra, País de Gales, Dinamarca, Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Suíça.

O que os levou a recuar foi a ameaça da FIFA de que iria impor sanções desportivas caso o fizessem. Ou seja, os capitães iriam ver o cartão amarelo logo no início do jogo. A Inglaterra foi a primeira seleção a entrar em campo depois do comunicado da FIFA e Harry Kane não utilizou a braçadeira em questão.

Além da braçadeira, há um outro elemento a causar desconforto no Catar. A seleção da Bélgica pretende jogar com camisolas que têm a palavra “Love” (amor) bordada na zona do colarinho. Seja porque transferem um dos elementos que estaria presente na braçadeira para o equipamento ou apenas porque nem um apelo pelo amor é permitido, a verdade é que também isso foi proibido pelo organismo.

“Com o equipamento, os Diabos Vermelhos belgas e os parceiros envolvidos pretendem fazer uma declaração positiva e divertida de AMOR em tempos de tumulto. Na camisola autêntica, a palavra LOVE é apresentada como um detalhe no interior do colarinho. Na réplica da camisola, ela é apresentada no exterior da camisola. LOVE, com o logótipo do Tomorrowland como letra O, é um subtil alerta para lembrar a todos para celebrarem a vida e se celebrarem uns aos outros”, anunciou a equipa na altura em que os equipamentos foram apresentados.

Peter Bossaert, diretor-executivo da federação belga, considerou “incompreensível” que a equipa seja obrigada a modificar as suas camisolas. “Não temos escolha, porque as sanções são desproporcionais. Não podemos arriscar que o Eden [Hazard] receba um cartão amarelo antes do início do jogo. Estávamos preparados para pagar multas elevadas e também o indicámos nas nossas conversas com a FIFA, mas simplesmente não houve consulta possível. Isso significa que não podemos continuar a nossa ação. A braçadeira não é uma declaração política, é um apelo pela inclusão e um sinal de diversidade", disse ao jornal HLN.