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Mundial 2022

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Klopp não acha justo que jogadores sejam questionados sobre o Catar: “Vocês, jornalistas, deviam ter enviado a mensagem”

Perante perguntas sobre o Mundial, o Catar e as críticas ao respeito pelos direitos humanos no país, o treinador do Liverpool respondeu que houve “tempo suficiente” para se fazer algum em relação a isso porque “toda a gente sabia” o que estava em causa, culpando os jornalistas por não escreverem artigos críticos com a forma como o torneio foi atribuído ao país

Diogo Pombo

Eurasia Sport Images

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Já foi em 2010 que a FIFA, cheia de pompa, anunciou ao mundo e de uma assentada, onde seriam os dois Mundiais que estavam por atribuir: Rússia e Catar. De lá para cá, muitas foram as notícias, reportagens e artigos de investigação sobre os subornos e corrupção envolvidos no processo de votação nos países-anfitrião dos torneios. Depois, veio a lupa mais incidente na nação do Médio Oriente que, galopando todos nós rumo ao arranque do torneio (a 20 de novembro), aumentou a atenção dada ao contexto de ser o Catar a organizar a prova.

Nos últimos meses, em crescendo, jogadores, treinadores, selecionadores e dirigentes do futebol têm vindo a ser questionados sobre o que envolve o Campeonato do Mundo no país onde morreram mais de seis mil trabalhadores migrantes desde a atribuição da prova e os seus direitos humanos e laborais têm sido desrespeitados segundo vários relatórios de organizações internacionais. Este sábado, e quase como seria previsível, Jürgen Klopp foi questionado sobre o torneio e o Catar.

Por ser treinador do Liverpool, uma das melhores e mais populares equipas europeias, recente campeão inglês e finalista vencido da última Liga dos Campeões, pediram ao alemão para falar, uma vez mais, sobre as críticas dirigidas ao Catar e ao facto de estarmos prestes a assistir a um Mundial na nação onde, por exemplo, a homossexualidade é proibida por lei e as demonstrações públicas de afeto entre pessoas, independentemente do género, não são socialmente aceites. Mas Klopp, desta feita, preferiu conversar mais do que responder; argumentar e problematizar a situação.

O técnico germânico defendeu que houve tempo, em 12 anos, para algo ser feito em relação à forma como o Catar foi votado como anfitrião, à corrupção que se provou existir no processo, às tórridas temperaturas que jamais aconselhariam pessoas a praticar desporto no verão ou a trabalhadores e por aí fora. Klopp alegou, também, que os jornalistas têm culpa com eles e criticou a forma se tem pedido a futebolistas e selecionadores que opinem sobre tópicos para lá do campo de futebol.

Eis a declaração de Jürgen Klopp:

“Vou ver os jogos, de qualquer forma, mas é diferente. Vi um documentário sobre toda a situação. Quando foi anunciado que a Rússia e o Catar eram os anfitriões dos próximos Mundiais - acho que foi a primeira vez -, todos sabemos como aconteceu e, mesmo assim, deixámos. Foi escrito em todo o lado e, mesmo assim, deixaram. Todas as coisas que vieram depois eram claras e toda a gente que esteva envolvida devia ter sabido.

Falamos de direitos humanos porque as pessoas no Catar, para o dizer de forma simpática, têm de trabalhar em circunstâncias condições difíceis. E não podíamos ter lá um Mundial devido às temperaturas no verão e agora também está muito calor; não havia estádios no Catar, ou talvez um, e alguém tinha de os construir, não podia ser puff, como o Aladino com a lâmpada. A situação é essa e isto pode tornar as pessoas zangadas.

“Eu vejo tudo da perspetiva do futebol e não gosto do facto de os jogadores, de tempos a tempos, é que têm de passar a mensagem. Não, vocês, que são todos jornalistas, é que deviam ter enviado a mensagem e escrito artigos críticos sobre isto, sobre as circunstâncias que eram claras. Somos todos culpados. Agora, dizer aos jogadores que têm de usar uma braçadeira, caso contrário estão do lado do Catar. Não, isto é um torneio, os jogadores vão lá jogar e dar o melhor pelos seus países.

É um torneio, todos deixámos que isto acontecesse, ninguém fez nada há 12 anos, agora não podemos mudar e no Catar também há pessoas boas. A atribuição não foi correta, mas, agora, deixem os jogadores jogarem, não ponham, por exemplo, o Gareth Southgate constantemente a ter de falar sobre tudo. Ele é o selecionador de Inglaterra, deixem-no sê-lo. Ele não é um político. Se querem escrever sobre o Catar, façam-no por vocês próprios. Vocês, mais do que eu, deixaram que isto acontecesse.

Como é possível que, nessa altura, quando já era claro o que iria acontecer, que teriam de ser construídos estádios com um calor de 50.º graus, nada ter mudado. Acham mesmo que fizemos o suficiente, ao início? E agora fazemos histórias sobre isto e colocam os jogadores sob pressão com perguntas que não são ok. Tudo estava em cima da cima, todos sabíamos e, de alguma forma, o senhor Blatter apareceu e conseguiram. Aí podíamos ter resolvido a questão.”