Não sei se já estiveram no Brasil; aquilo é lindo e é leve e embora Portugal seja igualmente bonito, tenho muitas dúvidas quanto à nossa leveza. É que a saudade não é de todo ligeira e a modos que somos um povo de um país bem-apessoado, mas depressivo e fatalista.
É por isso que me surpreendem aqueles que nos preferem, porque é sempre uma prova de amor extraordinária deixar a pele do colonizado e vestir a do colonizador, mas é maior ainda no caso do brasileiro que escolhe ser português, por não haver nenhuma razão objetiva para tal – a não ser o proverbial salto de fé.
A 21 de novembro de 2007, um rapaz alto, esguio e de cabelo rapado, natural de Maceió e de nome Kleper e petit nom Pepe, tornou-se luso-brasileiro e foi ao Euro2008 jogar pela seleção nacional. Começou assim a carreira do melhor português de sempre, com características únicas que o destacam da costumeira fauna indígena: um central magro, seco, rápido, ágil, agressivo, temerário e, por vezes, louco.
Com o tempo, a loucura foi temperada pela experiência e julgo não estar aqui a cometer um erro hiperbólico ao dizer que Pepe é um dos melhores do planeta - e que se exibiu como o melhor do mundo no Euro2016, sobretudo na final contra os franceses em que vomitou o sofrimento.
Nesta segunda-feira, contra o Irão, Pepe foi o Pepe de sempre ainda que tenha – atente – 35 anos. Fez cinco intercepções de bola, ganhou quatro ressaltos e recuperou cinco bolas e se isto fosse a NBA ele era o nosso Dennis Rodman.
Não. Passa. Nada.
Esteve também em 16 duelos aéreos, somou dois desarmes e driblou bem um iraniano quando precisou de subir no campo. Mais do que isso, berrou como uma vuvuzela aos ouvidos de Cédric por causa daquele penálti que pôs toda a gente de coração nas mãos.
E quando tudo parecia estupidamente tremelicar perante o Irão, lá foi Pepe fazer o corte da Providência no último instante para resolver um apuro desnecessário que aparece a lembrar-nos que somos portugueses, e então propensos a sofrimentos, e que no corpo dele ainda mexe, felizmente, uma anca brasileira.
Também é possível que estejamos apenas a ser contagiados por aquela passada larga e pela exuberância dos gestos ou simplesmente pela eterna gratidão. Seja como for, Pepe foi para a Tribuna Expresso o melhor jogador português em campo.
P.S. Este título é surrupiado à Lídia Paralta Gomes, a enviada da Tribuna ao Mundial2018