Perfil

Portugal

Valeu-nos (outra vez) o nosso G.O.A.T.

Num jogo sofrível e de muito sofrimento, Portugal venceu Marrocos por 1-0, na 2ª jornada deste Mundial. Cristiano Ronaldo voltou a decidir, com um golo aos quatro minutos, e foi mesmo o que nos valeu, porque, de resto, da Seleção Nacional pouco se viu. Lídia Paralta Gomes é a enviada especial da Tribuna Expresso ao Mundial 2018, na Rússia

Cristiano Ronaldo já marcou quatro golos no Mundial 2018

Dean Mouhtaropoulos/Getty

Partilhar

Anda aí muito em voga o termo G.O.A.T., maneira simples que os anglo-saxónico encontraram para resumir a expressão "The Greatest of All Time" (o melhor de todos os tempos, no nosso português). No futebol, já toda a gente sabe que a doutrina diverge, uns são mais Ronaldo, outros mais Messi, outros Maradona e mais alguns Pelé.

Recentemente, a marca desportiva que patrocina Messi colocou o argentino com uma cabrinha ao colo - "goat" em inglês significa cabra - e a desfaçatez talvez não tenha agradado a Ronaldo. Depois de no jogo com a Espanha ter festejado os golos levando a mão ao queixo, no que muitos viram um metafórico cofiar de uma metafórica barbicha, na tarde desta quarta-feira, a metafórica barbicha deu lugar a uma barbicha real: Ronaldo apresentou-se de novo look, com uma pilosidade num queixo até hoje sempre despido de qualquer adereço capilar.

São muitos sinais para ser apenas uma coincidência.

O Ronaldo do jogo com Marrocos não foi o Ronaldo do jogo com a Espanha: não jogou como o G.O.A.T., mas foi o nosso G.O.A.T. E o nosso G.O.A.T salvou-nos outra vez, naquele que terá sido um dos piores jogos da Seleção Nacional na era Fernando Santos, mas que mesmo assim terminou com a vitória de Portugal porque, lá está, quem tem Ronaldo tem tanta coisa.

Num encontro em que Portugal esteve praticamente 90 minutos sem o controlo do jogo, valeu aquela desmarcação de Cristiano, logo aos 4 minutos, quando trocou completamente as voltas a Manuel da Costa para de cabeça responder a um bom cruzamento de João Moutinho. Pareceu um simples remate de cabeça, mas não foi: uma movimentação daquelas só está ao alcance que de um dos G.O.A.T.

Mas depois do golo de Ronaldo, mais nada, tirando mais um oportunidade construída por Ronaldo já perto do intervalo que Gonçalo Guedes não conseguiu transformar em golo, atirando para a luva de El Kajoui.

Porque Portugal, que até tinha entrado meio apático, depois do golo apático ficou. Talvez apático não seja o adjetivo correto: o que aconteceu foi que durante todo o jogo Portugal nunca teve a criatividade e rapidez para se livrar da marcação forte e da pressão constante dos jogadores marroquinos, sempre à procura de forçar o erro e quase sempre a conseguir - raras vezes Portugal foi capaz de engatilhar mais do que três, quatro passes.

Valeu a Portugal a falta de jeito do ataque de Marrocos, que apontou sempre para cima e para o lado, raras vezes para a baliza. E quando acertou na baliza, estava lá Rui Patrício, São Patrício, que para lá do golo certo que tirou a Belhanda aos 57 minutos, esteve sempre seguríssimo na hora de se fazer aos lances aéreos.

Rui Patrício impediu o golo de Marrocos

Rui Patrício impediu o golo de Marrocos

Stu Forster/REMOTE

De resto, não há muito de bom a dizer sobre este jogo da Seleção Nacional. Não será a primeira vez que Portugal não joga bem, mas a desorganização, a falta de intensidade e de objetividade da equipa que esta tarde acabou com o credo na boca num completamente cheio Estádio Luzhniki é quase inexplicável e nem a agressividade que Marrocos colocou durante todo o jogo serve de desculpa.

De positivo, para lá do golo de Ronaldo e de Rui Patrício, talvez só a exibição de João Moutinho, o único que parece ter entendido aquilo que Marrocos iria fazer, o único com níveis de agressividade com e sem a bola ao nível do adversário.

Matthew Ashton - AMA

De resto, o talento de Portugal, a magia que esta quarta-feira teria dado tanto jeito para combater o jogo físico de Marrocos, andou desaparecido em combate: Bernardo Silva teve uma tarde para esquecer, Raphaël foi um verdadeiro passador para o guerreiro Amrabat, os centrais tremeram amiúde, o meio-campo nunca foi capaz de assumir o jogo.

É claro que, em termos práticos, meramente práticos, o que fica para a história é a vitória de Portugal, três pontos que colocam a Seleção Nacional mais perto do objetivo de chegar à fase a eliminar. Mas os próximos dias de estágio terão de ser de reflexão: algo falhou aqui, isso é certo.

E algo terá de mexer.