Às 13h04 desta quarta-feira, todos vimos Cristiano Ronaldo fazer o que sabe fazer melhor, seja com o pé direito, com o pé esquerdo, de cabeça, no final ou no início do jogo: marcar golo, depois de se desmarcar de forma magistral na área, na sequência de um canto.
Às 16h23 desta quarta-feira, nem todos o vimos, mas Luis Suárez também fez aquilo que sabe fazer melhor: marcar golo, mesmo sem ter de se mexer muito, já que o guarda-redes adversário deixou passar a bola, na sequência de um canto.
Parecendo que não, estes lances têm tudo a ver um com o outro, porque, dos 44 golos que já se marcaram na Rússia até às 17h45 desta quarta-feira, 27 deles surgiram através de bolas paradas, ou seja, 61% dos golos do Mundial 2018 não foram marcados em lances de bola corrida.
Já no final da 1ª jornada, os dados sobre a quantidade de golos não eram propriamente animadores, em comparação com o Mundial anterior: em 2014, no Brasil, tinham sido marcados 49 golos após a 1ª ronda - mais 11 do que agora.
A verdade é que este tem sido, até agora, o Mundial das bolas paradas - ou, em linguagem mais técnico-tática, dos esquemas táticos - e das transições, tanto defensivas, como ofensivas. Ninguém, geralmente falando, quer arriscar muito, nem com bola, nem sem bola, e é por isso que muitos dos jogos têm sido cautelosos, pragmáticos, insossos e sensaborões, acabando decididos apenas por golos de bola parada - como aconteceu com Portugal, às 13h, e como aconteceu com o Uruguai, às 16h.
Já na 1ª jornada, perante o Egito, o Uruguai só se tinha salvado com um golo na sequência de um livre, já nos descontos da partida, e, esta quarta-feira, foi pelo mesmo caminho - só que um bocadinho mais cedo.
Aos 23 minutos, já depois de um primeiro remate de Cavani que saiu por cima, Luis Suárez estava no sítio certo à hora certa para fazer o único golo do jogo. Carlos Sánchez bateu o canto e contou com uma saída disparatada do guardião Moha Al Owais, que falhou a bola e deixou-a rolar para os pés do homem que cumpria a sua 100ª internacionalização e que se tornou o primeiro uruguaio a marcar em três Mundiais (marcou três golos em 2010 e dois em 2014): Luis Suárez.

O golo de Luis Suárez frente à Arábia Saudita
KHALED DESOUKI/GETTY
O Uruguai marcava, mas, estranhamente, era a Arábia Saudita que jogava. Os árabes já tinham demonstrado intenção de dominar perante a Rússia, mas tiveram falhas graves na construção do jogo, perdendo várias bolas à saída da própria área - e acabando goleados por 5-0.
Ainda assim - e apesar de até terem sido criticados pelo ministro dos Desportos da Arábia Saudita, Turki Al-Sheikh: “Pagámos todas as despesas [dos jogadores] e eles vieram para o jogo sem 5% do esforço que era necessário” - os árabes procuraram, de forma bastante corajosa, fazer o mesmo perante os uruguaios, desta vez tendo mais sucesso a chegar lá à frente, de forma coletiva.
O avançado Hattan Babhir quase empatava o jogo, em duas ocasiões, na 1ª parte, mas depois, na 2ª parte, praticamente só deu Uruguai. Suárez quase marcou novamente, de livre direto, mas, desta vez, Moha Al Owais impediu o golo, tal como aconteceu quando Cavani apareceu isolado, nos últimos minutos.
Devagar, devagarinho, o Uruguai somou a sua segunda vitória no Mundial, início auspicioso, tal como em 1930 (quando foi campeão) e em 1954 (quando chegou às meias-finais). Mas, como disse Ronaldo a Fernando Santos, quando saiu para o intervalo, frente a Marrocos: “Jogamos muito pouco, pá”. Nós e eles. Mas enquanto houver vitórias...