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Mais uma bola parada a decidir um jogo parado

O Uruguai conseguiu a sua segunda vitória no Mundial 2018, ao derrotar a Arábia Saudita, que já foi eliminada, com um golo de Luis Suárez, na sequência de um canto

Mariana Cabral

Esta bolinha já vai comigo para casa, parece dizer Luis Suárez, que marcou o 52º golo pela seleção uruguaia na sua 100ª internacionalização

Ryan Pierse/Getty

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Às 13h04 desta quarta-feira, todos vimos Cristiano Ronaldo fazer o que sabe fazer melhor, seja com o pé direito, com o pé esquerdo, de cabeça, no final ou no início do jogo: marcar golo, depois de se desmarcar de forma magistral na área, na sequência de um canto.

Às 16h23 desta quarta-feira, nem todos o vimos, mas Luis Suárez também fez aquilo que sabe fazer melhor: marcar golo, mesmo sem ter de se mexer muito, já que o guarda-redes adversário deixou passar a bola, na sequência de um canto.

Parecendo que não, estes lances têm tudo a ver um com o outro, porque, dos 44 golos que já se marcaram na Rússia até às 17h45 desta quarta-feira, 27 deles surgiram através de bolas paradas, ou seja, 61% dos golos do Mundial 2018 não foram marcados em lances de bola corrida.

Já no final da 1ª jornada, os dados sobre a quantidade de golos não eram propriamente animadores, em comparação com o Mundial anterior: em 2014, no Brasil, tinham sido marcados 49 golos após a 1ª ronda - mais 11 do que agora.

A verdade é que este tem sido, até agora, o Mundial das bolas paradas - ou, em linguagem mais técnico-tática, dos esquemas táticos - e das transições, tanto defensivas, como ofensivas. Ninguém, geralmente falando, quer arriscar muito, nem com bola, nem sem bola, e é por isso que muitos dos jogos têm sido cautelosos, pragmáticos, insossos e sensaborões, acabando decididos apenas por golos de bola parada - como aconteceu com Portugal, às 13h, e como aconteceu com o Uruguai, às 16h.

Já na 1ª jornada, perante o Egito, o Uruguai só se tinha salvado com um golo na sequência de um livre, já nos descontos da partida, e, esta quarta-feira, foi pelo mesmo caminho - só que um bocadinho mais cedo.

Aos 23 minutos, já depois de um primeiro remate de Cavani que saiu por cima, Luis Suárez estava no sítio certo à hora certa para fazer o único golo do jogo. Carlos Sánchez bateu o canto e contou com uma saída disparatada do guardião Moha Al Owais, que falhou a bola e deixou-a rolar para os pés do homem que cumpria a sua 100ª internacionalização e que se tornou o primeiro uruguaio a marcar em três Mundiais (marcou três golos em 2010 e dois em 2014): Luis Suárez.

O golo de Luis Suárez frente à Arábia Saudita

O golo de Luis Suárez frente à Arábia Saudita

KHALED DESOUKI/GETTY

O Uruguai marcava, mas, estranhamente, era a Arábia Saudita que jogava. Os árabes já tinham demonstrado intenção de dominar perante a Rússia, mas tiveram falhas graves na construção do jogo, perdendo várias bolas à saída da própria área - e acabando goleados por 5-0.

Ainda assim - e apesar de até terem sido criticados pelo ministro dos Desportos da Arábia Saudita, Turki Al-Sheikh: “Pagámos todas as despesas [dos jogadores] e eles vieram para o jogo sem 5% do esforço que era necessário” - os árabes procuraram, de forma bastante corajosa, fazer o mesmo perante os uruguaios, desta vez tendo mais sucesso a chegar lá à frente, de forma coletiva.

O avançado Hattan Babhir quase empatava o jogo, em duas ocasiões, na 1ª parte, mas depois, na 2ª parte, praticamente só deu Uruguai. Suárez quase marcou novamente, de livre direto, mas, desta vez, Moha Al Owais impediu o golo, tal como aconteceu quando Cavani apareceu isolado, nos últimos minutos.

Devagar, devagarinho, o Uruguai somou a sua segunda vitória no Mundial, início auspicioso, tal como em 1930 (quando foi campeão) e em 1954 (quando chegou às meias-finais). Mas, como disse Ronaldo a Fernando Santos, quando saiu para o intervalo, frente a Marrocos: “Jogamos muito pouco, pá”. Nós e eles. Mas enquanto houver vitórias...

  • Uma vida rocambolesca no Campeonato do Mundo, por Arábia Saudita
    Arábia Saudita

    O avião que levaria a seleção saudita a Rostov, onde esta quinta-feira defronta o Uruguai (16h, RTP1), foi forçado a aterrar de emergência devido ao incêndio num dos motores. Antes, a sua atitude durante a derrota por 5-0 contra a Rússia foi, supostamente, criticada pelo ministro dos Desportos. E antes, muito antes disso, os sauditas já eram a equipa que troca de selecionador como o vento muda de direção e talvez ainda não seja desta que jogam um Mundial sem problemas de travessia