Quem dá um olho à página de Instagram de Luca Brecel vê ali, nas parcas publicações, um trivial jovem de 28 anos. Brecel de férias com amigos no Algarve, os braços tatuados, um desenho gigante e hiper-realista do rapper The Game num deles, t-shirt de Snoop Dogg vestida e omnipresente boné dos New York Yankees numa cabeça que precocemente se viu despojada de seu cabelo.
Fica difícil imaginá-lo a ganhar a vida de fato preto, camisa abotoada até à derradeira casa, sapato clássico e colete, não numa qualquer repartição de finanças mas sim de taco na mão, na verde imensidão de uma mesa de snooker. Na última segunda-feira, este rapaz nascido em Dilsen-Stokkem, cidade belga que já beija a fronteira com os Países Baixos, tornou-se no primeiro jogador da Europa continental a sagrar-se campeão mundial de snooker, depois de quase 100 anos de vitórias britânicas, pintalgadas por ocasionais triunfos de outros falantes de inglês: dois australianos, um irlandês e um canadiano. O preto, amarelo torrado e vermelho da Bélgica aparece agora ali na lista, quase inusitadamente, no fim de um mar de bandeiras que, todas juntas, fazem uma grande Union Jack.
E isso, seja em que modalidade for, muda tudo. O snooker deixa de ser um feudo commonwealthiano, passa a ser uma possibilidade para o mundo. Às mãos de um tipo que começou a jogar aos 9 anos e aos 14 já era campeão da Europa de sub-19, que ganhou fama com vídeos dos seus treinos no YouTube e que foi o mais jovem de sempre a participar num Campeonato do Mundo, com 17 anos, mas que demorou a fazer render um talento fora do corriqueiro, ressalvado por todos os grandes mestres, a começar por the one and only Ronnie O’Sullivan, The Rocket, sete vezes campeão mundial e o nome mais mediático do snooker.