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Já há uma Associação de Filosofia em Portugal e não vem “inventar a ronda”. Quer é resgatar o Desporto do “canibalismo” e “tribalismo”

A Associação de Filosofia do Desporto em Língua Portuguesa, criada por 30 membros fundadores (entre eles, Manuel Sérgio), surge numa “era em que o mundo do desporto se encontra permanentemente manchado pela violência, pela viciação de resultados, pela corrupção, pelo doping”. À Tribuna Expresso, uma das idealizadoras, Maria Luísa Ávila Da Costa, explica como um dos objetivos é “resgatar o discurso” desses fatores que impedem que se fale saudável e aprofundadamente sobre desporto em Portugal

Diogo Pombo

AFDLP

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O dicionário é rápido a devolver uma descrição quando lhe perguntamos o que é filosofia. Simplista por defeito, a primeira resposta é tratar-se do “amor pelo saber, e, particularmente, pela investigação das causas e dos efeitos”. Mais do que isso, é simplicíssima essa definição sobre a prática, a área de estudo, a costela da vida ou como quer que classifiquemos a filosofia. A terceira entrada é uma ajuda maior: “Elevação do espírito, razão, resignação, que nos coloca acima dos acidentes da vida, dos falsos preconceitos, do amor das riquezas, etc.” Tão pouco será exatamente o que uma nova “comunidade de pessoas” se propõe a fazer.

Querem “resgatar o discurso” sobre desporto em Portugal. Pretendem puxá-lo bem para longe dos resquícios da Idade das Trevas, basta premir uns botões no comando da televisão ou roçar os dedos pelo ecrã dos telemóveis espertos com algoritmos esfomeados de polémica de modo a detetá-los: a violência nos estádios e recintos; os árbitros mauzões por fazerem isto ou aquilo; o praticante que só pode ter sido subornado por fulano se errou contra o beltrano a quem não nos basta rivalizar saudavelmente, mas temos de diabolizar.

A Associação de Filosofia do Desporto em Língua Portuguesa (AFDLP) não aponta, em concreto e com todas as letras, algum destes traços de personalidade da vida desportiva que é mediatizada no país. Mas, desvendada oficialmente esta quinta-feira, a nova entidade quer laborar para o Desporto deixar de estar “refém” do “nacionalismo, tribalismo e canibalismo”, fatores que “inibem o seu aprofundamento e desenvolvimento”, defende Maria Luísa Ávila da Costa, um de três membros idealizadores do projeto, ao trilhar os objetivos aos quais fazem mira.

À Tribuna Expresso, a professora e integrante do Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto da Universidade do Porto escalpeliza os três fatores, desenhando as respetivas maleficências: “Nacionalismo como perigo absoluto de um olhar totalmente umbilical sobre a diversidade que compõe o mundo; tribalismo enquanto expressão fanática e hegemónica que impede o desportivismo; e canibalismo no qual o espetáculo mediático se devora a ele mesmo no fascínio pela decadência.” Depois, a associação quer ser um megafone regrado dos “inúmeros académicos, praticantes e investigadores” que, ao contrário do plano académico internacional, muito recheio dão ao “pensamento filosófico do desporto em língua portuguesa”.

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