O que se passa no tatami, de quatro em quatro anos, cutuca a esperança olímpica dos portugueses e leva-os a esfregarem as mãos com vontade. As feituras de bronze de Nuno Delgado (Sydney, 2000), Telma Monteiro (Rio de Janeiro, 2016) e Jorge Fonseca (Tóquio, 2020) insuflaram essa admiração nacional pelo judo. De acordo com a Pordata, em 1996 havia 6.896 atletas federados, enquanto 2020 já contava com 14.056, um número sovado pela pandemia de covid-19, mas que já estará em recuperação. Apesar de grandes prestações recentes e das medalhas de Patrícia Sampaio, Bárbara Timo e Rochele Nunes no Grand Prix Portugal, nos últimos dias de janeiro, o judo português vive tempos conturbados: o presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), Jorge Fernandes, foi destituído por incompatibilidades, em dezembro, e este domingo haverá novas eleições.
A turbulência foi inaugurada em agosto com uma carta assinada por sete judocas do projeto olímpico — Telma Monteiro, Anri Egutidze, Bárbara Timo, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes e Rodrigo Lopes. Queixavam-se de um “clima insustentável e tóxico”, de “discriminação” e, entre algumas sugestões ou exigências, pediram “respeito”. Jorge Fernandes respondeu no mesmo dia, denunciando que se tratava tudo de uma “mentira” e de “pessoas mentirosas”. Depois das acusações e respostas, a Comissão de Atletas Olímpicos revelou uma grande preocupação com a situação. Afinal, não falta assim tanto para Paris 2024. Telma Monteiro, o rosto mais importante da insatisfação e a mais condecorada judoca da história da modalidade, revelou que Fernandes ameaçou os atletas com tribunal e denunciou que o presidente afastou a selecionadora Ana Hormigo por e-mail, na véspera de uma viagem para uma competição de apuramento olímpico. Jorge Fernandes justificou o afastamento com o teor de uma publicação nas redes sociais de Hormigo e sugeriu que Monteiro se focasse nas provas.