Era julho e corria uma brisa quente, quase horrível, a sussurrar em cada pescoço. Alguns lutadores do UFC estavam num ginásio, em Las Vegas. A Tribuna Expresso estava num canto com Michael Chandler e tentou confirmar o que os passarinhos cantavam. Queria mesmo lutar contra o Conor McGregor?
“Adoraria lutar contra o Conor”, disse, sem hesitação. “Penso que ele é a melhor luta possível para qualquer um, mas também acho que eu sou a melhor luta para o Conor nesta altura. Estou num bom momento, há tanta eletricidade à minha volta”, explicava, enquanto enumerava os porquês que iam de mão dada com desempenhos em determinados combates.
Este fim de semana Dana White, o presidente do Ultimate Fighting Championship, confirmou as notícias, escreve o “The Independent”. E o desejo de Chandler. O palco será Las Vegas, mas falta marcar data e hora.
O irlandês, de 34 anos, e o norte-americano, de 36, têm uma coisa em comum nesta altura: a última derrota de ambos foi contra Dustin Poirier. No caso de McGregor, que até perdeu nas últimas duas visitas ao octógono, foi mais sensível, já que partiu a perna nesse combate que remonta a julho de 2021.

Mike Roach
O momento de Michael Chandler já não é tão interessante como naquela tarde em Las Vegas, quando o calor ameaçava derreter os ossos. Nessa altura, batendo bolas com a Tribuna Expresso, debateu-se o medo. Chandler diz que nunca o sentiu. Pelo menos não da forma que imaginam os homens vulgares que ficam atormentados com as orelhas couve-flor dos lutadores.
E um dos truques para insuflar a mente e dar coragem aos músculos passa por não ver vídeos de bons momentos ou vitórias do adversário. Afinal, “no final do dia, vestem as calças como tu”. Foi curioso que a frase não se centra nas calças, mas antes da mecânica do gesto de vestir calças, como se fosse algo menor, inútil ou banal. Bom, e é.
“Não tenho medo de ficar KO, de ficar magoado, de nada”, confirmou então. “Só tenho receio de não ter um desempenho ao mais alto nível, é aí que entra o lamento. O meu maior medo é isso e desiludir a minha família.” A ternura com que chegam a falar em nada liga com a trash talk a que o espectáculo obriga. Faz parte do negócio.
E sonho, qual é? É que a bio do Twitter mencionava que o norte-americano andava atrás de qualquer coisa. “O sonho é a constante corrida para o meu melhor eu, para me tornar no homem que Deus criou em mim, ainda não o sou. É uma versão melhor do homem que está aqui agora. Terá mais impacto, será mais feliz, será o melhor pai, melhor marido e melhor lutador que pode ser”, ia respondendo a uma velocidade assombrosa. “E estou constantemente a tentar melhorar, a tentar perseguir isso. Deus deu-me capacidades incríveis, tento ser o melhor indivíduo possível”, e respirou. Melhor do que ontem, então?, questionamos. “Melhor do que ontem, fico feliz que digas isso”, celebrou.
Michael Chandler foi campeão dos leves no Bellator, uma outra organização onde reinam as artes marciais mistas (MMA) e perdeu três dos últimos quatro combates no UFC, onde apenas triunfou na estreia diante de Dan Hooker.
Já McGregor (22 vitórias, 6 derrotas), de andar gingão e hoje em dia mais famoso pelo que acontece fora do octógono, foi duas vezes campeão no UFC, em peso-pena e peso-leve, e estará pela segunda vez de um lado das trincheiras no espectáculo "The Ultimate Fighter 31".
“Bam! Foi finalmente anunciado!”, disse Chandler num vídeo publicado nas últimas horas no Instagram, batucando de seguida na mesa com os indicadores. “A minha equipa contra a dele. A competição começa agora.”