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Sarasadat, xadrezista iraniana, competiu sem hijab porque “não pareceu correto” e para não ser “infiel às pessoas”

Sarasadat Khademalsharieh marcou presença num torneio de xadrez sem hijab há cerca de um mês, mas só agora falou sobre as suas motivações. A viver em Espanha, para onde se mudou por questões de segurança, a jogadora iraniana ainda espera pelo regresso ao seu país

Rita Meireles

Instagram de Sarasadat Khademalsharieh

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A iraniana Sarasadat Khademalsharieh, também conhecida como Sara Khadem, já tinha marcado presença em torneios de xadrez sem o hijab, mas nunca em frente a uma câmara. Antes, sempre que viajava para um evento fora do Irão, prestava atenção aos fotógrafos presentes na sala e, quando eles saíam ou paravam de captar imagens, a jogadora retirava o lenço.

No mês passado, enquanto competia no Campeonato Mundial de Rápidas e Blitz, no Cazaquistão, a situação foi diferente. Khademalsharieh estava certa de que não queria colocar o hijab em qualquer momento do torneio. “Senti-me, digamos, infiel às pessoas se eu tivesse mantido o lenço na cabeça. Não me pareceu correto”, contou, em entrevista ao “The Guardian”.

O Irão assistia a uma enorme onda de protestos em defesa dos direitos e liberdade das mulheres na altura em que a jogadora participou no campeonato. Tudo começou após a morte de Mahsa Amini enquanto estava à guarda da polícia por ter o hijab mal colocado. O governo do país informou mais tarde que a morte estaria relacionada com uma doença cerebral, mas vários grupos de ativistas defendem que se deveu a um espancamento por parte das forças de segurança.

Khademalsharieh é mãe e casada com o cineasta Ardeshir Ahmadi. A ideia de mudar de país já estava presente na vida do casal desde o nascimento do filho, exatamente por questões de segurança. Desde que a jogadora de xadrez tomou esta decisão, a mudança foi inevitável e hoje vivem em Espanha.

“Ela disse-me: ‘Adoraria ir ao torneio, mas não vou usar o hijab’”, revelou Ahmadi ao mesmo jornal. “Eu disse: ‘Ok, se é essa a tua decisão, eu apoio-te e podemos ir para Espanha’”.

Quando a mudança para o país europeu se tornou pública, surgiram algumas dúvidas sobre a forma como a jogadora e a família tinham conseguido a residência. Alguns especularam que foi através de asilo político, por Khademalsharieh já ser proprietária de uma casa em Espanha, o que facilitou o processo.

“Ouvi rumores de que fizemos isto para obter asilo ou algo assim, para que pudéssemos fazer a mudança para Espanha”, defendeu, acrescentando: “Só quero que fique claro que não utilizamos quaisquer razões políticas para nos mudarmos porque não precisávamos disso”.

Mesmo com a mudança, as preocupações persistem. A jogadora continua sem revelar em que cidade espanhola está a viver por segurança e os seus familiares, que ainda permanecem no Irão e têm sido vítimas da política do país. “Se eu tivesse de responder a alguém sobre isto, penso que deveria ser eu e não a minha família”, considerou.

Por agora, o foco de Sarasadat Khademalsharieh passa por relançar a sua carreira, que esteve um pouco parada nos últimos anos devido à pandemia e ao nascimento do filho. E mesmo com tudo o que se passou e continua a passar, quer continuar a representar o Irão em torneios internacionais.

“A decisão que tomei em Almati foi uma decisão pessoal. Quando voltar ao Irão, e tenho a certeza que voltarei, responderei àqueles que me perguntarem o que sentia”, concluiu.