Ao mesmo tempo que é um exemplo da vontade de afastar o desporto da política, o Irão é a prova do quão necessária é a ligação entre as duas áreas. A 16 de setembro, a iraniana Mahsa Amini morreu na sequência de uma ordem de prisão por ter o hijab mal colocado. O país informou mais tarde que a morte estaria relacionada com uma doença cerebral, mas vários grupos de ativistas defendem que foi por causa do espancamento por parte das forças de segurança.
A mulher de 22 anos tornou-se o símbolo de uma luta que rapidamente invadiu as ruas do país, resultando na prisão de milhares e até na pena de morte para alguns, incluindo o futebolista Amir Nasr-Azadani.
As imagens dos protestos são noticiados todos os dias e um dos responsáveis pelo passa a palavra tem sido o desporto. Foi assim no Mundial 2022 e numa série de outras competições de diversas modalidades. Sarasadat Khademalsharieh, também conhecida como Sara Khadem, é o exemplo mais recente da coragem de quem vai contra o regime extremista. A jogadora de xadrez participou no Campeonato Mundial de Rápido e Blitz, no Cazaquistão, sem o hijab colocado, o que viola as leis iranianas que regem o código de vestuário feminino.
Uma vez que foi isso que levou à prisão de Mahsa Amini, as leis que impõem o uso obrigatório do hijab tornaram-se um dos destaques durante os protestos, com uma série de mulheres a aparecerem em público sem os lenços na cabeça ou até a cortarem o cabelo nas ruas.
A possibilidade, ou quase certeza, de enfrentar represálias no regresso ao Irão levaram a atleta a decidir não voltar para o seu país. Khademalsharieh irá do Cazaquistão diretamente para Espanha, segundo o “El País”. Com ela estão o marido, o popular realizador cinematográfico iraniano Ardeshir Ahmadi, e o filho de ambos, que nasceu no início do ano. Por revelar, por questões de segurança, fica o nome da cidade espanhola onde irão ficar.
Ao que tudo indica, a jogadora de xadrez já é proprietária de um apartamento em Espanha, sendo que não se sabe se tem uma autorização para residir no país por possuir um imóvel ou se, entretanto, pediu asilo político.
Não é a primeira vez que esta situação acontece num torneio de xadrez. Em 2017, Dorsa Berajshani, outra jogadora iraniana muito conhecida, não regressou ao seu país depois de jogar no Gibraltar Open sem o lenço. Na altura, outras compatriotas optaram por usar, mas retiraram-no quando os fotógrafos saíram da sala.
E o xadrez é só uma parte dos protestos. No futebol, os jogadores recusaram cantar o hino do Irão e na escalada Elnaz Rekabi também competiu sem o hijab. As últimas notícias dão conta da destruição da casa que pertencia à atleta e à sua família.
Sarasadat Khademalsharieh, nascida em 1997, está classificada na posição 804 no mundo, de acordo com o site da Federação Internacional de Xadrez. O torneio em questão vai decorrer até ao dia 30 de dezembro e, neste momento, as notícias do seu protesto já chegaram ao Irão através dos noticiários locais.