Até 13 de março de 2015, Mariona Boix tinha uma vida que não seria normal, uma vez que era atleta de elite. Desde que o joelho esquerdo cedeu, com uma rotura do ligamento cruzado anterior, do menisco interno e do ligamento lateral interno, a espanhola passou por 12 operações e começa a faltar-lhe a esperança. “Não sei se voltarei a andar”, admite, em entrevista ao “El Mundo”.
Aos 18 anos, Mariona era campeã espanhola de slalom. Um ano mais tarde, na expetativa de representar o país nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pyeongchang, tudo foi pela montanha abaixo. A atleta estava talhada para chegar bem alto e descer a toda a velocidade para cortar a meta e não para ficar presa a uma cama. Boix vivia num centro de alto rendimento desde os 13 anos, tendo feito a estreia no circuito internacional aos 15.
Foi uma queda, em Andorra, que lhe destruiu o joelho e as ambições. Mariona ainda pensou que pudesse ser algo mais simples: “Até à sexta ou à sétima operação, continuava a esquiar, tentando voltar a treinar, porque me ajudava psicologicamente. Calçava as botas e coxeava, mas deslizava na neve”. Todavia, as dores foram se intensificando. “A partir de então, não podia esquiar, nem subir escadas, nem tão pouco andar. E continuo assim”, confessa.
“O meu único objetivo é voltar a andar, sem dores, tranquila. Sinto-me muito mal e isso seria fantástico”, confessa ao mesmo jornal a antiga campeã, que apenas consegue dobrar a perna, tem problemas em manter-se de pé e move-se com dificuldade. Mas Boix nunca se esqueceu de alimentar o cérebro, enquanto o corpo lhe dá luta. Estudou Educação Básica na Universidade de Vic, mesmo que dificilmente consiga dar aulas no estado atual.
Em julho passado, a espanhola iniciou um tratamento com células-mãe numa clínica privada que procura regenerar-lhe a rótula. A ideia é que, dentro de um ano – ou menos – possa recuperar movimentos, esquecer a dor e pôr de lado a canadiana. Mariona é cautelosa: “Dir-te-ia que já noto uma pequena melhoria, mas não me atrevo a explicá-lo. Não o disse a ninguém, não posso. Na realidade, ninguém me assegurou que vá voltar a andar, a fazer uma vida normal”.
Para dar início a este novo tratamento, Boix viu-se obrigada a criar um crowdfunding. Precisava de 16 mil euros e conseguiu-os em 24 dias. “O apoio de tanta gente, conhecidos e desconhecidos, animou-me muito. Também [o facto de] poder voltar a trabalhar”, confessa a jovem, que desabafa: “Passei muito tempo em casa, de baixa, encadeando operações e tudo isso mata-te psicologicamente. Mas não resta outra coisa senão seguir em frente”.
Da clínica, Boix recusa-se a deixar a mente voar demasiado alto: “Seria um sonho voltar a calçar os esquis, mas não quero sonhar”. “Estou centrada em voltar a andar”, reforça a antiga campeã de Espanha.