A trama que ensombra o mundo do xadrez adensa-se. Depois das acusações de Magnus Carlsen, uma investigação da Chess.com, revista inicialmente pelo “Wall Street Journal”, revela que Hans Niemann “provavelmente” fez batota em mais de 100 ocasiões.
O norte-americano admitira recentemente que fez batota duas vezes, ambas em jogos online, quando tinha 12 e 16 anos. Carlsen, o ainda campeão do mundo que abdicou da possibilidade de revalidar o título por falta de motivação, torceu o nariz depois de ser derrotado por Niemann, no início de setembro. O norueguês não perdia há 53 partidas. Carlsen abandonou então o torneio quando ainda faltavam seis rondas, o que gerou estranheza.
Numa publicação nas redes sociais, recorrendo a uma frase mítica de José Mourinho, Carlsen afirmou através do português que se falasse mais teria problemas. Ou seja, algo se passava e o cenário de batota foi colocado em cima da mesa. Poucos dias depois, a Chess.com – a maior plataforma online daquele jogo que comprou a Chess24 (detida pelo Play Magnus Group, no qual Carlsen é o principal acionista) – anunciou que tinha removido Niemann do seu site.
O assunto tornou-se ainda mais complicado quando, em meados de setembro, Carlsen e Hans voltaram a defrontar-se. O campeão abandonou o jogo depois de mexer a primeira peça, o que foi polémico e sugeria que o xadrezista queria apontar os holofotes para aquela partida e sobretudo para o rival.

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“Creio que o Niemann fez mais batotas – e mais recentes – do que admite”, podia ler-se num comunicado do nórdico. “Gostaria de dizer mais. Infelizmente, estou limitado quanto ao que posso dizer neste momento sem a autorização do Niemann.”
Agora, um relatório de 72 páginas revelou que Niemann “provavelmente recebeu assistência ilegal em mais de 100 jogos online”, conta o “The Guardian”.
Antes do documento da Chess.com ver a luz do dia, Niemann negara tudo, admitindo apenas os tais dois casos com 12 e 16 anos. A investigação foi publicada na terça-feira à noite e desta vez o jovem norte-americano, de 19 anos, terá admitido em privado as falcatruas e será banido por um tempo que não foi anunciado da Chess.com, a maior e mais popular plataforma de xadrez online, um segmento que cresceu muitíssimo durante a pandemia de covid-19.
A investigação e as conclusões devem-se sobretudo ao facto de a Chess.com ter desenvolvido um modelo anti-batota que acumula e trata dados, jogadas e perfis de jogadores, explicou recentemente o executivo da empresa Danny Rensch.
“Construímos aquilo a que eu chamaria análise do ADN da cena do crime para todos os jogadores de xadrez do mundo.” Ou seja, um programa que descasca e vigia o comportamento de milhões graças à análise de milhões de partidas e movimentos, sinalizando alguma anomalia ou padrão de movimentos dignos de uma máquina e não de um homem ou mulher.