A atleta de tiro espanhola Sonia Franquet encontra-se numa situação difícil: caso queira estar presente no Mundial da modalidade, terá de coincidir com o ex-companheiro, Jorge Llames, também ele atirador. Os dois formavam um casal até 2018, quando o comportamento de Llames terá alegadamente provocado a separação. No entanto, já em 2012 e antes dos Jogos Olímpicos de Londres, o atleta terá sido visto em público a tratar mal a namorada.
O intervalo entre as Olimpíadas britânicas e o divórcio só aconteceu porque Sonia acreditou que pudesse haver uma mudança. “Espiava quem me enviava mensagens e parecia que tinha de pedir-lhe autorização para qualquer coisa quotidiana”, confessou a atleta ao site “El Desmarque”. Após a separação, as coisas não terão melhorado.
“Vigiava-me se eu estivesse em casa e seguia-me no seu carro. (…) Falei com especialistas em problemas de violência de género e avisaram-me de que os seus comportamentos seguiam todos os padrões. (…) A minha resposta foi denunciá-lo”, conta Sonia, que falou com o próprio presidente da Federação Espanhola de Tiro, Miguel Francés, para que este tomasse medidas e, inclusive, falasse com Jorge Llames. Este prometeu mudar de comportamento, mas falhou.
Quando Franquet venceu a prova mista do Campeonato do Mundo de Columbus, nos EUA, voltou a encontrar-se com o presidente da federação, que lhe pediu que retirasse a denúncia contra o ex-companheiro: “O tiro estava mal visto por ser um desporto de armas e aquilo dava uma má imagem”. Também o Conselho Superior de Desporto teve uma atitude pouco consentânea com a nobreza aparente do organismo. “Parecia que era eu a má da história. Se não queriam ajudar-me, ok, mas que não me chateassem”, confessa a atleta catalã.
A abertura do processo judicial impediria Llames de ter uma arma de fogo, ou seja, afastá-lo-ia do desporto. Numa competição nacional, Franquet teve de aguentar a pressão de alguns amigos do ex-marido: “Apareceram com camisolas que diziam ‘Llames Team’”. Sonia diz ter sido acusada de ter afastado Llames da modalidade de forma injusta.
O atirador acabou por ser condenado, em 2021. No entanto, a ordem de permanecer a uma distância de 500 metros da vítima vigoraria durante três anos desde a data da denúncia, ou seja, três meses depois, tudo voltaria ao normal. O porte de arma era também devolvido. Pouco tempo depois, Llames regressou ao clube de tiro que frequentara desde sempre com Sonia. Esta teve de abandonar as instalações por mais do que uma vez.
Em agosto, o assediador conseguiu os mínimos para o Mundial de Tiro, que decorrerá no Egito, em outubro. Sonia Franquet já havia garantido a sua presença no torneio, pelo que irá conviver diariamente com o seu ex-companheiro. “Enviei uma carta à federação pedindo que faça os possíveis para que não estejamos juntos e eles enviaram a carta ao Conselho Superior de Desportos” conta a atleta.
A resposta não tardou: “Para o CSD, Jorge Llames é mais um desportista e nós velamos por todos os desportistas de igual forma”. De acordo com o site noticioso, a federação está à procura de uma alternativa para a estadia no Cairo, mas não está a ser fácil, por questões de segurança e disponibilidade. Nas redes sociais, Sonia recebeu inúmeras mensagens hostis que desistiu de ler.