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“Qualquer pessoa com telemóvel arrisca-se a ser o melhor jogador do mundo. É doping tecnológico”: Carlsen, a batota e o xadrez no século XXI

Magnus Carlsen, o ainda campeão do mundo de xadrez, acusou o norte-americano Hans Niemann, de 19 anos, de fazer batota. Em conversa com a Tribuna Expresso, o presidente da Federação Portuguesa de Xadrez, Dominic Cross, explicou o caso Carlsen-Niemann e refletiu sobre a batota e o combate contra a mesma neste “jogo de cavalheiros”

Hugo Tavares da Silva

KOEN VAN WEEL/Getty

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O xadrez é sobretudo sobre o vagaroso movimento das peças no tabuleiro e os pensamentos densos. Na final do Campeonato do Mundo de 1978, em Baguio, nas Filipinas, uma embalagem de iogurte de mirtilo intrometeu-se nessa equação quase divina. Olhavam-se nos olhos Anatoly Karpov e Viktor Korchnoi, campeão e desafiante (que a certa altura abandonou a União Soviética). Após a acusação de que o iogurte seria um código da equipa de Karpov – quem sabe para este propor um empate –, a Federação Internacional de Xadrez (FIDE, na sigla internacional) tentou impor regras sobre comida em cima da mesa.

Cada jogador, ditou a FIDE, poderia ter um frigorífico e um prato quente no seu espaço privado nos bastidores, a que se juntava a possibilidade de, durante a partida, encomendar comida de um restaurante. A delegação soviética rejeitou este cenário, contava então o “Washington Post”, em julho de 1978. O campeão em título não receberia comida congelada e qualquer outra preparada por um cidadão que não pertencesse à URSS, fez saber a sua equipa. A história do iogurte de mirtilo, que o árbitro principal considerou “uma piada”, mas que os russos levaram muito a sério, marcou um dos mais bizarros duelos da história do xadrez.

Karpov revalidaria o título contra Korchnoi, que jogava com óculos escuros porque o rival contava com um hipnotizador na primeira fila a olhar para ele.

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