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Futuro do boxe nos Jogos Olímpicos em xeque após votação que mantém o russo Umar Kremlev na presidência da Associação Internacional de Boxe

O Comité Olímpico Internacional reagiu imediatamente à votação através de um comunicado, revelando estar “extremamente preocupado”. O conselho executivo daquele organismo disse mais: “Depois destes desenvolvimentos perturbadores, o COI terá de rever totalmente a situação na sua próxima reunião”

Hugo Tavares da Silva

SOPA Images

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Há muito, muito tempo, exatamente em 1960, um rapaz norte-americano bem-parecido e ágil tomou conta dos ringues de boxe nos Jogos Olímpicos, em Roma. Cassius Clay, que seria Muhammad Ali e talvez a maior bandeira que aquela modalidade já ergueu, ganhou todos os combates na capital italiana, uma cantiga que manteve na final contra Zbigniew Pietrzykowski, um polaco que era o tricampão europeu. Cassius tinha 18 anos e já voava como uma borboleta e picava como uma abelha.

Em 1996, Ali acendeu a tocha, em Atlanta, na cerimónia de abertura. O boxe, com uma ou outra exceção, tem estado no programa olímpico desde 1904, estando por vezes nas bocas do mundo inteiro como aconteceu há mais de 60 anos. Mas agora tudo pode ser diferente.

Central Press

Este domingo, os delegados do organismo mundial do boxe amador votaram para fechar a porta a novas eleições para o cargo de presidente da Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla inglesa), uma decisão que assim mantém na liderança o russo Umar Kremlev.

Kremlev venceu as últimas eleições para a presidência da IBA em maio, após o rival, o neerlandês Boris van der Vorst, ter sido dado como inapto, uma decisão que já foi dada como errada pelo Tribunal Arbitral do Desporto. Por essa razão aconteceu a votação deste domingo, num congresso extraordinário em Ierevan, na Arménia.

“Agradeço às federações nacionais pela confiança”, declarou Kremlev. “Este é o ponto final em todas as questões quanto à governação da IBA, o Congresso mostrou claramente a sua vontade de uma forma transparente. Respeito a decisão das nossas federações nacionais e farei todos os possíveis para as apoiar, assim como aos nossos atletas e treinadores.”

E acrescentou: “Quero enviar uma mensagem clara: a IBA é uma organização independente e forte. O nosso congresso provou hoje que estamos no caminho certo. Agora vou apresentar um plano de desenvolvimento de quatro anos na reunião do Conselho de Administração. Tenho uma visão clara do que temos de fazer para atingir os nossos objectivo".

A Associação Internacional de Boxe tem estado debaixo dos holofotes também porque, na sexta-feira, suspendeu a federação ucraniana de boxe por interferência governamental, já que os seus responsáveis terão escrito aos membros daquela organização a pedir a Kremlev para renunciar ou para eles mesmos votarem contra a sua continuidade.

O caso é ainda mais bicudo: a IBA não reconhece Kyrylo Shevchenko como presidente da federação ucraniana, o que já acontece com Volodymyr Prodyvus, um aliado de Kremlev que saiu da Ucrânia depois do início da invasão russa no território e que agora é o vice-presidente da IBA, explica a Reuters.

O Comité Olímpico Internacional (COI) reagiu imediatamente através de um comunicado, revelando estar “extremamente preocupado”. O conselho executivo daquele organismo disse mais: “Depois destes desenvolvimentos perturbadores, o COI terá de rever totalmente a situação na sua próxima reunião”.

Em junho foi noticiado que o boxe não constava na primeira lista de desportos para os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A votação deste domingo, que manteve no cargo Kremlev (106 votos contra novas eleições, 36 a favor, 4 abstenções), coloca em xeque a presença da modalidade nos Jogos Olímpicos para lá de Paris 2024, explica a BBC.

“Temos de chegar ao ponto em que o boxe fará parte dos Jogos Olímpicos em 2024, assim como em 2028”, disse Kremlev, nas últimas horas. “Faremos o nosso melhor. Ninguém nos pode excluir de lado nenhum.”