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“Quando se fala em Pimenta só se pensa em ouro. Que os portugueses nos continuem a apoiar, mesmo quando somos segundos ou terceiros”

Após quatro dias em que esteve em quatro finais europeias e garantiu três medalhas, a última das quais o ouro no K1 5000, este domingo, Fernando Pimenta pediu mais reconhecimento das suas medalhas e mais apoios para os jovens atletas

Expresso

NUNO BOTELHO

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Há 50 anos, também em Munique, o nadador Mark Spitz apresentou-se ao Mundo com sete medalhas nos Jogos Olímpicos de 1972, envergando um mítico bigode que entrou na iconografia do desporto. Este domingo, nas pistas da canoagem, o português Fernando Pimenta também entrou em competição com o lábio superior adornado. Não em homenagem ao norte-americano, mas uma forma de criar uma equipa ainda mais forte com João Duarte, com quem formou dupla no K2 500 nestes Europeus.

“O meu colega João Duarte é que usa assim o bigode e eu às vezes também, assim numa de brincadeira. De manhã acordei e disse: ‘Hoje vamos competir os dois de igual’. E ele ‘não tens coragem’”. Pimenta teve a coragem. “Foi giro. Temos praticamente 15 anos de diferença e é sempre bom dar este conforto”, explicou o limiano aos microfones da RTP.

A final do K2 500 foi a primeira final de Fernando Pimenta esta manhã. A dupla acabou em 9.º, mas havia mais motivos para festejar para o campeão português, que à tarde foi ouro no K1 5000, fechando a sua participação nos Campeonatos da Europa com três medalhas, uma de cada metal. Numa espécie de conclusão, o canoísta do Benfica frisou os “quatro dias bastante desgastantes”, numa competição em que participou em quatro finais, quando normalmente o seu calendário se cinge ao K1 1000 e K1 5000.

“Tínhamos isso presente a partir do momento em que assumimos esse compromisso. Queríamos dar experiência europeia ao João Duarte, meu colega de treino esta época, que se tem portado lindamente, e sabíamos que ao fazer isso íamos criar mais desgaste ao meu corpo e passar muito mais tempo em competição”, afirmou.

“Começámos na sexta-feira com um bronze, muito perto das medalhas de prata e ouro. Ontem [sábado] foi aquilo que vimos, ir ao limite do início ao fim e nos metros finais paguei bem caro. Acabei com uma medalha de prata que é um excelente resultado”, disse, agora já mais feliz com o 2.º lugar no olímpico K1 1000. Este domingo veio o ouro esperado, no K1 5000, e que tinha fugido nos Mundiais há duas semanas: “Acabar esta segunda parte da época com um título europeu… se ontem estava triste e de alguma forma revoltado por não ter conseguido ganhar, hoje estou muito contente”.

Para o final, um desabafo e um pedido. “Hoje em dia dá-se pouco valor às medalhas do Fernando Pimenta. Fiquei bastante triste no pós-Mundial, falei com algumas pessoas, porque senti que houve pouco reconhecimento dos dois títulos de vice-campeão mundial e um bronze, um feito inédito”, confessou o duas vezes medalhado em Jogos Olímpicos, que acredita que neste momento “quando se fala em Fernando Pimenta só se pensa em ouro”, mas que do outro lado estão adversários fortes.

“É aquilo para o qual eu luto e trabalho, mas os nossos adversários também treinam todos os dias, muitas vezes com melhores condições que nós, mas não é a isso que nos vamos prender. Já ontem fui vice-campeão da Europa, acho que fiz uma excelente regata e as pessoas dos outros países vieram dar-me os parabéns a mim e ao meu treinador, dizem que nunca viram nada assim, alguém que em todas as provas entra para lutar para os pódios e sempre bem-disposto, sempre a dar o melhor espectáculo desportivo”, reforçou, pedindo o “reconhecimento das entidades”.

“E os portugueses que nos continuem a apoiar, mesmo quando somos segundos e terceiros. Há dias em que as estrelas não estão todas alinhadas”, atirou.

Voltando ao seu colega João Duarte, um jovem de 19 anos que está no seu primeiro ano de sénior, Fernando Pimenta usou o seu exemplo para relembrar a necessidade dos atletas serem apoiados. “É importante apoiar os mais novos não só com palmadinhas nas costas, como disse o nosso presidente da federação há 15 dias, mas com algum retorno. Sabemos que o ser humano não vive a ar e água e o pão também já está caro, por isso é preciso reconhecimento financeiro. Para os mais novos e também para nós”.