Antonio Alba, triatleta espanhol, estava a terminar o treino, a caminho de casa, a um ritmo baixo. Foi atropelado e esteve cinco dias em coma. Recuperou, mas depois teve uma surpresa que não estava à espera: foi levado a tribunal para que fosse ele a pagar os danos no carro de quem o tinha abalroado.
Depois de ter passado o rio Ebro, a caminho de casa, Alba tem poucas memórias: “Tenho alguns flashes da clínica em que me atenderam, das luzes das ambulâncias, mas não recordo praticamente nada do acidente. Estava a correr e, de repente, acordei no hospital”.
Depois do tempo em coma, Alba esteve mais 10 dias na UCI do hospital de Tarragona. Sofreu um ataque de ansiedade, ao observar, pela primeira vez, o seu corpo destroçado. Diz “El Mundo” que o diagnóstico era tão longo que não caberia na página de um jornal. Pneumotórax, fratura das clavículas, de quatro costelas, perfuração de um pulmão são apenas alguns exemplos.
Tudo aconteceu a 29 de janeiro de 2020, tinha o triatleta 45 anos e preparava-se para se estrear em Vitória, no País Basco, na distância Ironman. Um monovolume alterou-lhe os planos. Despertou numa sala de operações, onde esteve entre a vida e a morte. Foi no mesmo sítio que lhe colocaram uma prótese de titânio. Disseram então que dificilmente poderia voltar a correr, a andar de bicicleta ou a nadar. Há algumas semanas, dois anos mais tarde do que planeava, Antonio completou o Ironman de Vitória.
Depois de cortar a meta, Alba disse: “Tenho a cabeça muito dura e foi por isso que o fiz, mas todo o processo foi… Tive de fazer a reabilitação por minha conta, em casa, por culpa da pandemia, e o acidente deixou-me muitas sequelas. Por exemplo, não pude fazer exercício intenso porque os meus pulmões não conseguem expandir ao máximo, por isso não posso ultrapassar as 155 pulsações. (…) Tenho vários músculos magoados do lado esquerdo, sou incapaz de completar uma braçada, raramente nado”, recorda o triatleta que, apesar de tudo, completou a prova em menos de 13 horas.
O jornal “El Mundo” perguntou a Antonio Alba se teve medo de voltar à estrada depois do atropelamento. A resposta foi clara: “Muito, muito medo. Não voltei a correr lá [na estrada] de bicicleta. Bem, os primeiros dias foram horríveis. De cada vez que ouvia um carro, virava-me para ver de onde vinha e a que distância estava de mim. No primeiro dia, fiz 10 quilómetros e dei meia volta com uma ansiedade terrível. Custou-me muito recuperar a confiança, precisava de ir acompanhado e ainda hoje sofro. Sempre que saio penso se voltarei a casa”.
A história não se fica pelas dores e pelas lesões no corpo. Em setembro, Antonio Alba vai sentar-se em tribunal, com o estatuto de réu. No relatório, as autoridades locais escreveram que o acidente aconteceu por culpa do triatleta. Alba diz que os Mossos d’Esquadra, a polícia da Catalunha, chegaram ao local quando o carro tinha já mudado de lugar e ele já se encontrava na ambulância. A condutora reclama 850 euros pela reparação do veículo.
“Dizem que eu me balancei em cima do carro. O que é que eu ganhava ao balançar-me em cima de um carro? Já perdi muito dinheiro neste processo judicial para ver como acaba. A condutora é uma idosa de uma localidade próxima. Conheço-a. E surpreende-me que, em nenhum momento, se tenha preocupado com o meu estado”, desabafa Alba.
O triatleta tinha prometido, depois de terminar o Ironman de Amposta, que iria vender a bicicleta e pendurar todo o material que o acompanhara numa carreira feita gradualmente. No dia seguinte, de manhã, foi treinar para o Challenge de Roth, na Alemanha, que acontecerá em junho de 2023.