O êxtase de Bernardo Silva foi contagiante no par de sprints que dirigiu à bandeirola de canto à direita da baliza onde, na primeira parte, marcou os seus golos. Um de pé esquerdo, outro vindo da testa da sua cabecinha pensadora, o português abriu caminho à “noite fantástica” para o Manchester City, coroada com quatro golos a sustentaram uma exibição que os jogadores há muito perseguiam. “Conseguimos desde o primeiro minuto fazer aquilo que queríamos, controlar o jogo, tentar metê-los lá atrás sob pressão, criar ocasiões e fazer golos”, resumiu o português, no final do jogo, mais calmo e recomposto da alegria.
Já encasacado, o médio falou ao mesmo microfone da “TNT Sports” que ouviu Rúben Dias após o 4-0 aplicado ao Real Madrid, na segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões, um ano volvido à desilusão época que os espanhóis lhes provocaram na mesma fase de prova. “O ano passado fizemos quatro golos nas mesma e acabámos por sofrer três em lances meio-estranhos, mas tivemos muitas ocasiões para marcar mais. É no foco em que tudo assenta”, argumentou o defesa central, insistente num ponto: “A nossa maior vitória foi, sem dúvida, a maneira como jogámos e o caráter com que todos encararam o jogo. Mais do que tudo, manter a concentração durante todo o jogo foi o fator decisivo.”
À vez, cada internacional português dos novamente finalistas da Champions - perderam a final de há dois anos, em Lisboa, contra o Chelsea - disseram os seus quinhões sobre a eliminação do Real e o reencontro com a possível glória na mais apetecível das provas de clubes na Europa. “Estamos muito felizes por ter mais uma oportunidade”, afiançou Bernardo, assegurando que vão “trabalhar muito para ganhar” as três competições nas quais o City está envolvido e em busca do treble, assim descrito pelos ingleses: além da Liga dos Campeões, estão na final da Taça de Inglaterra e embalados na liderança da Premier League. “Aquilo que temos de garantir é que preparamos da melhor forma esse jogo e estudamos muito bem o Inter, que é uma equipa muito organizada e competitiva”, explicou, focando-se na orelhuda (e sim, ele tem visto os jogos dos italianos).
Nenhum quer saber de favoritismos, o mais pequeno dos dois lembra como “as pessoas disseram” que o City era o favorito e acabaram por perder a final de 2021, e o mais musculado aceitou que “as pessoas podem dizer o que quiserem que só fazendo aquilo que realmente [fazem] melhor” é que vão “conseguir ganhar”. Rúben Dias não escondeu que os cityzens querem “ganhar tudo” desde o início da época e o pensamento foi sempre “ficar dentro e ficar dentro” de cada competição “até ao fim”. E avisou à “TNT Sports” que é preciso cautela: “Apesar de tudo parecer feito, ainda nada está feito. É continuar a jogar cada uma das finais como se fosse o primeiro jogo da temporada.”

Quality Sport Images
Apenas um dos portugueses bisou na partida de quarta-feira e, para ele, Pep Guardiola reservou nova vaga de elogios, como já o fez esta temporada. “Neste tipo de jogos o Bernardo está sempre lá. Como já disse, é um dos melhores jogadores que vi em toda a vida”, disse o treinador, com quem Bernardo Silva atestou a “relação muito boa” que nutrem, valorizando as palavras: “Receber esse tipo de elogios dele, que treinou as melhores equipas do mundo, significa muito e tento devolver com exibições que ajudem o clube a dar alegrias aos adeptos, que merecem tudo e lutaram muito por nós esta época.”
A desejada Champions está, mais uma vez, tão ao alcance do Manchester City, um clube agigantado nos recursos e na exigência pela canalização de dinheiroduto que o Abu Dhabi alimenta desde 2008, quando Sheikh Mansour, vice-presidente e membro da família real do país, comprou o clube. Para Bernardo Silva, “é um motivo de orgulho quando se joga numa equipa de topo”, validando que isso “traz alguma responsabilidade” e expondo que isso não o diminui - pelo contrário.
“Cresci num clube grande em Portugal, no Benfica, e a camisola não joga sozinha, quando jogava no Benfica a camisola não jogava por mim, é o maior clube de Portugal, mas, se queria ganhar jogos e campeonatos, tinha de demonstrar dentro de campo e é isso que fazemos sempre”, começou por trilhar, “independentemente da cor ou do símbolo que se tem ao peito”. Depois, esmiuçou mais um pouco o seu argumento: “Claro que é um motivo de orgulho jogar-se num clube grande, com grande história, eu cresci num clube assim no Benfica e senti o peso dessa camisola, mas também sentia que se não corresse nem trabalhasse muito não importava, porque ia perder os jogos.”
Bernardo Silva falou no perigo de ficar do lado mau do resultado quando, esta época, o Manchester City só regista meia dúzia de derrotas. Mais uma vez, Pep Guardiola moldou os jogadores que tem numa equipa que chega à fase decisiva da temporada com um embalo avassalador. Parecem imparáveis, mas atenção, apelou Rúben Dias: “A sensação de dentro é que ninguém é imparável e para parecermos imparáveis dá muito trabalho.”