O Liverpool reagiu com um comunicado contundente ao relatório que avaliou os incidentes na final da Liga dos Campeões de 2021/22, em Paris, em 28 de maio. Ao longo de 649 palavras, o clube congratulou-se pelas conclusões do documento, que responsabiliza a UEFA pela trágica organização do evento.
“O relatório revelou que houve perigo imediato e claro de esmagamento fatal e que a ação dos adeptos do Liverpool salvou vidas”, mencionam os reds, numa alusão à multidão que se sentia enjaulada às portas do Stade de France.
O painel independente liderado por Tiago Brandão Rodrigues, o antigo ministro da Educação de Portugal (que liderava os dossiers do Desporto e Juventude), responsabilizou também a polícia francesa e a autarquia parisiense. O Liverpool, no comunicado, sublinha que o relatório apontou falhas importantes no modelo a que a UEFA recorreu para organizar a final, ignorando a fórmula oferecida pela Convenção do Conselho da Europa. Isto é, segundo o clube, houve uma abordagem securitária que assentou na ideia de que “os adeptos do Liverpool Football Club representavam ameaças significativas à ordem pública”.
O Liverpool, que deu conta de que pediu para atrasar o início daquela final da Champions devido ao que se passava nas imediações do estádio, agradeceu aos autores do relatório e instou a UEFA a implementar as 21 recomendações desse mesmo painel de especialistas, de “forma plena e transparente”, para jogos vindouros organizados por aquela entidade. O clube inglês lamentou ainda as “chocantes” e “falsas” narrativas colocadas a circular imediatamente depois dos incidentes daquela noite. “O relatório independente do Senado francês, publicado em julho de 2022, revelou que os adeptos do Liverpool foram acusados errada e injustamente das cenas caóticas para desviar as atenções das falhas na organização”, pode ler-se ainda.
“É chocante que, mais de 30 anos após o desastre de Hillsborough, qualquer clube e o nosso grupo de adeptos sejam sujeitos a falhas de segurança tão fundamentais que tiveram um impacto tão devastador em tantos”, conclui o comunicado do clube, lembrando ainda que os afetados têm uma equipa disponível para acompanhamento psicológico.
A UEFA e os adeptos europeus
A UEFA destacou “uma série de lições sobre como a organização da final poderia ter sido melhorada”.
Para além de reconhecer que as recomendações do painel independente são “valiosas”, a UEFA informou que está por esta altura “a analisar as conclusões do relatório e a avaliá-las face à sua própria análise da organização do evento e dos factos ocorridos à sua volta”.
Aquele organismo revelou ainda estar a “rever as recomendações do painel de modo a introduzir alterações e disposições adequadas para garantir o mais alto nível de segurança para os adeptos em futuras finais”. A UEFA dará conta ainda, no futuro, de um esquema especial de reembolso para os adeptos visados. Já a despesa com o painel, taxas e custos administrativos levou a UEFA a desembolsar até ao momento 414 mil euros (o orçamento era €617.490).
Já a Football Supporters Europe (FSE), o organismo que representa os interesses dos adeptos de futebol ao nível europeu, celebrou o relatório independente e anunciou que tratará de fazer recomendações à UEFA.
Num comunicado publicado esta terça-feira, a FSE apreciou ainda o pedido de desculpas aos adeptos por parte do organismo que rege o futebol europeu. Sobre os incidentes em Paris, esta organização entende que os adeptos de Real Madrid e Liverpool foram tratados de forma “deplorável” e “perigosa”, mencionando ainda as filas e esperas sem água e debaixo do sol e ainda as investidas da polícia com gás pimenta, “deixando muitos traumatizados”.
“Gostaríamos especialmente de enfatizar a importância de envolver os grupos de adeptos organizados neste trabalho”, elogia a FSE. O relatório não permite a culpabilização dos adeptos, recorda.
“Como prioridade urgente, a FSE vai agora trabalhar com a UEFA para garantir que as recomendações melhoram os preparativos para as finais desta época”, assinala Football Supporters Europe, sublinhando uma das conclusões mais alarmantes do relatório: “É notável que ninguém tenha morrido”. E acrescenta: “Por isso, as recomendações têm de ser implementadas sem reservas”. Afinal, os adeptos têm de poder acompanhar os seus clubes “em paz” e com "total confiança" nos organizadores dos eventos.
A UEFA vai a eleições a 5 de abril e tem apenas Aleksander Čeferin como único candidato.