Talvez hoje fosse um bom dia para sermos todos um bocadinho alemães - eu, eles e vocês - e há várias razões objetivas para tal, embora eu vos possa revelar apenas uma: a germanificação facilitaria bastante o trabalho de escrever a crónica de jogo na ótica do jornalista português.
Eu, utilitarista, me confesso.
Digamos assim: é complicado escrever um texto com um número digno de carateres sobre o Bayern - Benfica que facilmente se resumiria na expressão bem portuguesa “estava-se mesmo a ver”.
Porquê? Porque apesar do esforço de Rui Vitória em manter a cara de póquer, insistindo no “foco” e na “energia”, nas leituras muito próprias dos jogos em que, alegadamente, os adversários terão sentido o “poderio” da sua equipa, e nas teorizações da sorte e do azar em defesa da honra dos “chefes de família” bons, a verdade é que o Benfica está a jogar mal. Francamente mal, não é de agora e pelos vistos a tendência é piorar.
Neste Bayern-Benfica, as duas únicas coisas realmente interessantes, do ponto de vista encarnado, foram o remate de pé esquerdo de André Almeida, a cinco minutos do intervalo, e o golo de Gedson, no primeiro minuto da segunda-parte a reduzir para 1-3.
Tudo o que se passou antes e depois foi um desastre técnico e também tático: muitos passes protocolares na defesa e no meio-campo e pouquíssimos lá à frente, a agressividade de uma preguiça a meio da sua soneca, e erros defensivos individuais e coletivos deprimentes, de marcação ou de posicionamento ou disparatados, enfim, de tudo, ao nível da terceira divisão europeia - já agora, o Benfica caiu para a segunda, a Liga Europa.
Os exemplos mais concretos? Os dois golos de Arjen Robben e os dois golos de Lewandowski. O holandês ensaiou um par de vezes e pela enésima vez aquela jogada que toda a gente conhece desde 2004 - progressão da direita para o meio e remate de pé esquerdo - e bateu Vlachodimos. E Lewandowski pulou duas vezes ao lado Rúben Dias e de Conti em dois cantos, e nas duas ocasiões cabeceou triunfalmente para a baliza do alemão naturalizado grego.
Em boa verdade, aquilo em que Rui VItória parecia ser realmente capaz - montar o plano A para o adversário X para o resultado Y - deixou de o ser. O Benfica tem entrado impreparado, desmotivado, apático, desorganizado e caótico, e é evidente que a mensagem do treinador não está a chegar aos jogadores. E o facto de esta estar alheada da realidade, pode ser a razão.
“Não me interessa atacar muito, interessa é atacar bem”, pedira ele, e embora tenham dividido mais ou menos a posse de bola, o que o Bayern fez com ela foi sempre muito bem pensado e ainda melhor executado - e para a frente.
Já o Benfica raramente encontrou a profundidade e não me recordo de uma bola recuperada no meio-campo adversário que fosse consequente; e Rafa e Cervi foram inevitavelmente travados e Jonas foi biblicamente engolido pela baleia.
Se quisermos, o Benfica foi uma nulidade durante 88 minutos.
Mas atenção, isto não significa que os alemães tenham feito uma exibição extraordinária - caso não saibam, os bávaros também atravessam uma mini-crise de resultados, com os mesmíssimos problemas do Benfica e é provável que Niko Kovac esteja de saída.
Foram, simplesmente, bons e foi, portanto, o Benfica que desiludiu novamente, somando o segundo resultado humilhante consecutivo em dois anos na Europa: depois do 5-0 em Basileia de 2017, o 5-1 em Munique.
E se isto é o que se chama “saber o que há a fazer em cada momento do jogo”, como diz Rui Vitória, não imagino o que seja estar completamente às cegas num jogo decisivo em que se jogam três pontos, a Liga dos Campeões, a história, o histórico, o nome - e um bónus de 2,7 milhões de euros.
Este não é um bom rácio.