Rui Patrício
Começou a partida a sair aos pés de um avançado do Irão e a levar um pontapé na cabeça, transportando-o para sensações únicas do tempo passado em Alcochete. Felizmente, tudo não passou de um susto e Rui Patrício continuou apto a não poder fazer nada no penálti e consequente empate, assim como no lance que se seguiu, em que ficámos a escassos centímetros de evitar grandes tubarões do futebol mundial, ao ir parar ao lado menos perigoso dos oitavos de final: o de fora.
Cédric
Não sei se é do hábito, mas estava a começar a ter maiores dificuldades em encontrar momentos desastrosos de Cédric, até aos 87 minutos, quando o único cidadão nacional capaz de jogar naquela posição decidiu finalmente subir na ala, ultrapassar um adversário e cruzar mesmo muito mal. Foi um daqueles lances que não fez mal a ninguém, é verdade, mas que nos deixaria irritados se, por momentos, nos puséssemos a pensar se não haverá mesmo mais ninguém capaz de jogar naquela posição e não fazer este tipo de jogadas tão frequentemente. Enfim, ainda estava eu nestes devaneios quando uma mão do mesmo jogador nos atirou para um sofrimento atroz e um segundo lugar que nos traria adversários bem temíveis, caso nós estivéssemos neste género de competições para vencer, e não para empatar e dar cabo seja de quem for no prolongamento e nos penáltis.
Pepe
A defesa portuguesa continua a não transmitir muita segurança, sobretudo àquelas pessoas que ainda teimam em não acreditar que todos os planetas estão alinhados para nos proteger, mas Pepe permanece a nossa última muralha. Destaque para o difícil e esticado corte, aos 58 minutos, numa altura em que o Irão acreditou mesmo que era possível eliminar a seleção com mais sorte do mundo.
José Fonte
Continua com o ar imperturbável de quem não se deixa afetar por qualquer avançado iraniano, ou de quem ainda não percebeu que é um titular da seleção campeã europeia. Por mim, tem toda a confiança para gerir dessa forma este torneio até ao fim, porque, a não ser que vá parar a um exercício de aquecimento do Senegal, é pouco provável que precisemos dele para fazer coisas divertidas como dançar ou jogar à bola.
Raphaël Guerreiro
Confesso que a posição de lateral-esquerdo era daquelas que me deixava descansada na seleção (porque uma pessoa dá por si a confiar em clubes como o Borussia Dortmund e o Nápoles…), mas os últimos minutos em campo da carreira de Raphaël Guerreiro têm-me mostrado que, afinal, todos estes rapazes têm as capacidades necessárias para nos levarem a grandes feitos, que exigem ultrapassar enormes barreiras, normalmente erguidas por eles próprios.
William Carvalho
Já vai em três jogos de enorme “paciência” e de muito trabalho “na sombra” dos colegas. A paciência e a sombra têm sido tantas que só mesmo Carlos Queiroz foi capaz de se irritar com ele, pedindo penálti na área portuguesa, aos 75 minutos. Suponho que o árbitro ignorou o selecionador iraniano e não foi ao VAR porque se tratava precisamente de William Carvalho, médio até agora muito pouco capaz de travar um adversário, quanto mais em falta. E, enquanto Queiroz gesticulava e Portugal sofria e o mundo não sabia quem ia passar, era capaz de jurar que li algures nas costas de William: “I really don’t care. Do you?”
Adrien
Uma das maiores surpresas no onze titular, já que João Moutinho vinha a parecer o médio mais equilibrado de Portugal. Começou por perder algumas bolas, mas ganhou confiança e partiu para uma exibição segura, no contexto de nenhum de nós saber exatamente o que andamos ali a fazer, fazendo mesmo a assistência para o golo que nos coloca a apenas um sofrido empate dos quartos de final.
João Mário
A exibição apagada contra a Espanha parece ter colocado de parte a hipótese de Bruno Fernandes ser uma lufada de ar fresco na seleção. Para João Mário, isso significa que já vamos em dois jogos de uma previsibilidade bastante controlada e facilmente anulada pelo adversário. Parece que as mulheres iranianas já podem entrar nos estádios (viva!), mas os nossos médios mais ofensivos ainda não.
Ricardo Quaresma
A titularidade de Ricardo Quaresma num jogo em que iríamos enfrentar um adversário fechado explica-se com a necessidade de criar lances surpreendentes. Ora, na ausência de algo relacionado com o coletivo, optámos por arriscar tudo na estratégia que tão bem nos tem corrido até aqui: o jogo individual. Aquele golaço de trivela é a prova de que não temos nada com que nos preocupar!
André Silva
Recuperou a titularidade ao fim de duas pobres exibições de Gonçalo Guedes e, pelo menos, deu mais luta à defesa adversária. Tinha muito mais para dizer sobre o que André Silva fez ou não fez esta noite, mas ainda tenho aqui o som das vuvuzelas a ecoar na minha cabeça e não dá mais.
Ronaldo
Sofreu um penálti. O árbitro não assinalou, mas foi vê-lo ao VAR. O árbitro marcou. Ronaldo falhou. Atingiu um adversário com uma espécie de cotovelada. O árbitro não viu, mas foi ao VAR. O árbitro marcou a falta, mas só deu amarelo. Ronaldo não foi expulso, mas também não fez nada hoje. Mas já fez muito até aqui. Se achavam que só Bruno de Carvalho era capaz de mudar tão rapidamente…
Bernardo Silva
Perdeu a titularidade para o único rapaz com capacidade de acrescentar algo a esta seleção, mas entrou em campo a tempo de contribuir para Portugal sofrer para não perder com o Irão. Na verdade, não tenho grande coisa a dizer sobre este género de opções “táticas”, por isso espero que tenham ouvido atentamente a antevisão e o comentário no final da partida do professor Marcelo Rebelo de Sousa, embora suspeite que, se perderam esses momentos, vão ter oportunidade de ver muitos mais até ao próximo jogo com o Uruguai. E durante. E depois.
João Moutinho
Ouviu indicações de Carlos Queiroz antes de entrar em campo e pareceu-me que as cumpriu à risca, não acrescentando exatamente nada ao que estava a acontecer.
Gonçalo Guedes
Conseguiu dominar a última bola, queimando dois preciosos segundos que nos valeram o justo apuramento, com dois empates e uma vitória bastante tremida, o que só pode querer dizer que estamos em ótima posição de repetir o que aconteceu em 2016.