O termómetro junto à pista assusta. São 10 da manhã e estão 38 graus. Depois 39. E à hora do início da final do lançamento do peso feminino já estão 40. Auriol Dongmo não gosta de calor, já sabemos. Na primeira aparição na pista do Estádio Olímpico de Tóquio mete uma toalha na cabeça, tenta resguardar-se junto ao guarda-sol que até pode afastar os raios de sol cortantes, mas não faz a temperatura ficar mais tolerável ao ser humano, por mais comum ou atleta olímpico que seja.
Mas, como diz o lugar-comum, o sol, que neste caso nem figurativamente nem literalmente é uma coisa boa, quando nasce em Tóquio, não só nasce primeiro que em boa parte da terra como nasce cheio de força para todos os atletas.
Ao longe é difícil perceber o semblante de Dongmo, mas aqui e ali ela aproxima-se da bancada para falar com Paulo Reis, o seu treinador, o homem que a recebeu em Leiria e fez dela recordista nacional. O homem que lhe disse um dia que ela, para ser portuguesa, mais do que um papel passado precisava de saber o hino. E ela, como se viu nos Europeus indoor de Torun, não só o aprendeu rápido como o cantou com toda a emoção quando se tornou na primeira portuguesa a ganhar uma medalha em lançamentos numa grande competição.
Dongmo passou à final com tranquilidade, fez a marca de qualificação na sexta-feira à primeira e foi descansar. Disse que pensava no ouro e no lançamento de 20 metros.
No final da primeira série de lançamentos é terceira, com 19.29. Mas é quase certo que não é marca suficiente para ficar no pódio. Logo de seguida, a campeoníssima Valerie Adams, duas vezes campeã olímpica e prata no Rio 2016, faz 19.49, depois 19.62 e passa para a posição de bronze. Lá na frente já está a chinesa Lijiao Gong, faz 19.95 ao primeiro ensaio e parece que o ouro já tem dona. Só a extravagante norte-americana Raven Saunders, cabelo pintado de duas cores, máscara berrante, parece ter braço para lá chegar.