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Não faltam tenistas incríveis à Suíça. Faltava-lhe Belinda Bencic

Já jogou pares com Roger Federer e foi treinada pela mãe de Martina Hingis, a mais nova de sempre a ganhar um Grand Slam, mas nenhum dos grandes tenistas da Suíça logrou o que Belinda Bencic, de 24 anos, conseguiu à primeira participação em Jogos Olímpicos: levar a ouro para casa. E, no domingo, a tenista pode também ganhar a mais preciosa das medalhas no torneio de pares

Diogo Pombo

Clive Brunskill/Getty

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A culpa não está com Belinda Bencic, nasce e morre sozinha em tema de coordenadas e latitudes, vivalma é consultada sobre se tem palavra a sinal do lugar onde vem a este mundo e o primeiro berro da bebé Belinda ecoou em Flawil, de onde a família se mudou para Wollerau, pequena cidade empoleirada no lago de Zurique, há 24 anos, no país já barrigudo em talento tenístico.

A Suíça onde brotou, em 1997, já tinha Roger Federer, embora ainda a embalar para o endeusado estado todo-vencedor a que não tardaria a chegar, com 20 torneios do Grand Slam debaixo da raquete; e tinha igualmente Martina Hingis, ganhadora nesse ano de três dos sete majors da sua carreira e contador de muitas das 209 semanas que passou na liderança do ranking feminino. Ambos os conquistadores, contudo, falhariam numa coisa.

Nenhum teria uma devolução dourada das bolas batidas para o lado de lá da rede em torneios olímpicos de ténis. Em Atlanta 1996, Hingis perderia logo na segunda ronda contra a japonesa Ai Sugiyama, pior prestação do que a de Federer em Londres 2012, onde só seria derrotado por Andy Murray na final e regressou à Suíça com a medalha de prata. Provavelmente, retornou para Wollerau, onde tinha a casa que supostamente vendeu cinco anos mais tarde.

Nenhum logrou na única vez que participou em Jogos o que Belinda Bencic conseguiu à primeira participação, levar o ouro olímpico de volta para o país que forja grandes tenistas.

Abbie Parr/Getty

Aos 24 anos, ganhou por 7-5, 2-6 e 6-3 a Marketa Vondrousova e repetiu o feito de Monica Puig, a dourada medalhista de há cinco anos, no Rio de Janeiro - nunca conquistou um Grand Slam (em 2019, chegou às meias-finais do US Open), mas já o metal mais precioso das Olimpíadas para exibir, se por acaso, algures, alguém lhe perguntar de onde é, Belinda responder que vem da Suíça e o gatilho pronto a disparar do perguntador seja premido pelo desportista mais famoso do país.

Mas nem Roger Federer a suplantou nisto, nem o suíço da elegância em toda a pancada com quem Bencic já partilhou campo, na Hopman Cup, durante três anos seguidos. E nem Martina Hingis, cuja mãe, Melanie Molitor, recebeu um telefone de Ivan, pai de Belinda, a perguntar se podia dar uma vista de olhos aos dotes da sua filha de 5 anos com uma raquete.

A família de ambos fugira da parte eslovaca da Checoslováquia para a Suíça, partilhavam esse nomadismo em busca de algo melhor com que viver. O gosto por ténis, também. Melanie Molitor reconheceu aptidão em Belinda, ficou sua treinadora e a ligação levaria, com o tempo, a que se juntasse à mistura Martina Hingis, de quem recebeu conselhos - "Ajudou-me muito", admitiu.

A progenitora do talento mais jovem de sempre a vencer um Grand Slam (em 1997, no ano de nascimento de Bencic), treinou Belinda até 2017, quando a tenista se lesionou num pulso e esteve cerca de cinco meses parada. Quando voltou, não quis saber de gozar as veleidades que o ranking concede e optou por ir regressando à competição em torneios menores, catapultando-se para fora dos lugares 300 onde caíra.

Agora trincou o ouro olímpico, dando à Suíça o que os monstros do seu ténis não deram e podendo dar mais ainda: no domingo, joga a final do torneio de pares com Viktorija Golubic e, ganhando Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, dupla checa que era a cabeça-de-série, será apenas a quarto mulher a conquistar ambas as provas.

Faltou-lhe participar no torneio de pares misto. O seu suposto e pretendido par, Roger Federer, preferiu não viajar para Tóquio, a bem de um joelho mazelado. Faltou-lhe o maior das raquetes que a Suíça tem, mas à Suíça não faltou talento para ficar com o ouro.

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