Não é todos os dias, menos ainda nos dias de Pablo Carreño Busta, ganhar uma medalha das que apenas se perseguem no court a cada quatro anos, neste caso até foram cinco, rareia em periodicidade e probabilidade, coisas ínfimas no ideário de um tenista, mas pesadíssimas no peso que não se vê e que deitou o espanhol ao chão, na última bola que bateu em Tóquio.
Ao sexto match point, Carreño Busta derrotou Novak Djokovic, o sérvio número um mundial que foi ao Japão tentar o inédito em homens com raquetes em punho, o Golden Slam - vencer todos os majors no mesmo ano, mais o ouro olímpico. Acabou por sair do torneio olímpico perdendo o último par de jogos, abandonado o piso rápido cabisbaixo e carrancudo, derrotado pelas circunstâncias.
Duas dias prévios, o sérvio não renegou a dar uns pedaços do seu pensamento quando o questionaram sobre Simone Biles e a pressão competitiva.
A ginasta americana retirara-se da prova de all-around por equipas, justificando-o com a vontade em resguardar-se e cuidar da saúde mental, alegando a pressão que sentia. "A pressão é um privilégio. Sem ela, não há desporto profissional. Se queres ter a esperança de estar no topo de um desporto, tens de aprender a lidar com a pressão e com estes momentos", disse o vinteno campeão de Grand Slams.
No dia seguinte a pronunciar-se, Djokovic foi derrotado por Alexander Zverev, alemão que lhe bloqueou a passagem à final pelo ouro do torneio de singulares e o relegou para discutir o bronze, e perder, com Carreño Busta. Perderia, também, na meia-final dos pares mistos na qual partilhou um lado da rede com Nina Stojanovic. "Sinto-me terrível, apenas terrível", confessaria, nessa noite. "Disse-lhe que é o melhor jogador de sempre e pedi-lhe desculpa (...) não se pode ganhar sempre", contou Zverev.
Em 48 horas, a Aldeia Olímpica ficou condenada a ficar sem um dos reis das atenções.
O sérvio foi fotografado a praticar a espargata com ginastas belgas, pousou para selfies com judocas alemãs e filmaram-no a conversar, sem presas, com jogadores e jogadores das seleções de voleibol da Turquia. "Falei com alguns atletas. Estavam interessados em perguntar sobre força mental, como lidar com a pressão, que técnicas há e como se pode recuperar se perdeste o foco durante um momento", revelou o sérvio, nos primeiros dias em Tóquio.
E mais não disse: "Vou guardar um segredo, é só para atletas".

Naomi Baker/Getty
Perdidos os três jogos seguintes ao seu argumentário público sobra a pressão de competir e ter de render nestes palcos, Novak Djokovic desistiu de entrar no court para um quarto. Uma lesão no ombro esquerdo fez o sérvio retirar-se da partida em que iria discutir o bronze em pares mistos com a conterrânea Nina Stojanovic. A medalha ficou para os australianos Ashleigh Barty e John Peers, sem uma bola batida.
O mui titulado tenista, de 34 anos, admitiu à "Reuters" que sente "o arrependimento por não ter ganhado medalhas" para Sérvia e por, "simplesmente, não ter correspondido". O nível de ténis "caiu devido à exaustão", lamentou quem, dias antes, terá sido um dos maiores responsáveis em chamar a organização dos Jogos Olímpicos à razão, para deixar de agendar encontros antes das 15h, quando a conspiração entre o calor e a humidade de Tóquio moíam mais o corpo aos tenistas.
Não tem um lamento por ter sido o único dos semi-deuses das raquetes com cordas a viajar para Tóquio - Roger Federer e Rafael Nadal optaram por não competir, rasgando a fresta e alargando o buraco da oportunidade de o sérvio lutar pelo tal Golden Slam. "Tudo acontece por uma razão", filosofou, igual a si próprio, deitando cá para fora um objetivo: "Vou tentar continuar até Paris. Vou lutar por medalhas pelo meu país".
Novak Djokovic estará com 37 anos quando essa oportunidade chegar.