Em 2014, Antoine Launay apresentou-se à Federação Portuguesa de Canoagem com um objetivo: filho de mãe portuguesa, queria competir por Portugal, para um dia representar o país nuns Jogos Olímpicos.
O sonho tornou-se real em 2021 para este luso-francês nascido em Toulouse há 28 anos, que aos seis já dava as primeiras pagaiadas. Foi 7.º no Mundial de 2019, pouco competiu depois disso devido à pandemia e nos Jogos Olímpicos assumiu queria lutar por um pódio.
Objetivo demasiado otimista, muita gente pensou.
Fast-foward para esta sexta-feira, no Kasai Canoe Slalom Centre. Launey foi o nono a descer a pista nas meias-finais. Termina a sua prova em 5.º, mas ainda com 11 canoístas por chegar, muitos deles dos melhores do Mundo. E muitos até iam fazendo melhor tempo que o português, mas não tinham aquilo que Antoine tinha: uma prova limpa, sem penalizações, sem toques ou portas falhadas, como já tinha feito nas eliminatórias. O veterano Peter Kauzer, esloveno número 4 do ranking, ficou atrás de Antoine. Também o brasileiro Pedro Gonçalves e o italiano Giovanni de Gennaro. E quando faltava apenas o alemão Hannes Aigner iniciar a meia-final, Launay era 10.º, no último lugar que lhe dava um lugar na final.
O alemão nem começou bem, a meio da prova estava mais lento que o português mas na última metade fez valer o estatuto de número 3 do Mundo. E deixou Launay no pior lugar possível, 11.º, o primeiro a não entrar na final.
Partimos em busca do luso-francês, mas, aguentem os cavalos: Vítor Félix, presidente da Federação Portuguesa de Canoagem é o mensageiro da esperança. O atleta australiano, um dos qualificados para a final, poderá ter falhado uma porta. Há oficialmente protesto de Portugal, é preciso olhar para vídeos e caso o protesto seja aceite há uma penalização de 50 segundos para o rapaz de down under e Launay entra nos finalistas. Alto lá então.

Atleta e treinador vêm as imagens da prova do australiano
Antoine junta-se à conversa, espera pelo veredicto, nervosismo bem patente nos olhos, a cara escondida atrás da máscara. Pere Guerrero, o técnico espanhol que trabalha para a federação portuguesa, corre lá atrás, ainda não há notícias, há mensagens a serem enviadas mas as novidades tardam, para desespero do atleta. Faltam 45 minutos para a final e Launay ainda não sabe se estará nela.
“It’s over”, ouvimos então sair da boca de Antoine, que não tem no português a sua língua materna, apesar de a perceber e falar. Percebeu que a esperança tinha acabado só de ver o passo arrastado do treinador a vir na nossa direção. E de facto as notícias não são boas. O protesto não teve seguimento e Launay fica fora da final por meros 0,5 segundos.
E então desaba.
Não consegue falar, dobra-se sobre a barreira que separa os jornalistas dos atletas e durante longos segundos ali fica, em silêncio. Quando levanta a cara, tem os olhos a transbordar de lágrimas.
“Eu gosto muito deste desporto mas é difícil. Foi por tão pouco que não cheguei à final…”, foram as primeiras frases que lhe saíram da boca. “Sinceramente o meu objetivo era chegar ao pódio. Fiz tudo para isso. Faltou um pouco de velocidade, fiquei a 0,5s da final”, continua, enquanto junta os dedos sem que eles se toquem, como que a dizer que faltou um bocadinho assim.
Antoine treina em Pau, em França, e também em La Seu d’Urgell, em Espanha. Preparou ao pormenor estes Jogos Olímpicos. Vai repetindo “é difícil, é difícil”, enquanto coloca ainda em equação se Paris 2024 é uma hipótese. “Três anos é menos de quatro, mas são três anos... preciso de ver. Estava na melhor forma de sempre aqui em Tóquio, o trabalho foi enorme para estar preparado aqui, para assegurar que não tinha Covid. Vim muito cedo para o Japão e agora é difícil terminar em 11.º. Vamos ver…”
Pere Guerrero acredita que é preciso recuperar o atleta “fisicamente e até mentalmente” Antoine Launey, porque o português “deu tudo para chegar a Tóquio na melhor forma” em termos físicos, técnicos e até emocionais. Falhar a final é um rude golpe, mas Guerrero tem orgulho no atleta. “O slalom português ficou muito bem representado nos Jogos de Tóquio, ele fez um grande trabalho, sempre num nível muito alto, a melhorar eliminatória para eliminatória”, sublinha.
Sobre a penalização que não saiu para a Austrália, Guerrero acredita que “é tudo muito subjetivo” e que foi “muito no limite” que os juízes consideraram que o atleta passou a porta.
“Olhando para as imagens eu posso pensar que é penalização, outros dirão que não… é ao limite”, explica.
O futuro
Pere Guerrero não vê para já ninguém com o nível de Antoine Launey para representar Portugal em futuros Jogos Olímpicos, mas espera que a prova do português dê “motivação” aos jovens canoístas para trabalharem nos seus clubes.
O técnico espanhol lembra ainda que não é possível Portugal comparar-se face aos recursos e potencial que tem as grandes nações como a Rep Checa, Alemanha e a Inglaterra”.
“Não temos esses recursos, nem humanos nem materiais. Mas a equipa do Antoine deu-lhe tudo, fizeram um grande trabalho e ele chegou cá numas condições sem precedentes, melhor do que no Mundial quando ficou em 7.º”, assegura, sublinhando sempre o profissionalismo do atleta.