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Jorge Fonseca queixou-se de falta de apoios. Puma não comentou, Adidas respondeu: “Muitas vezes temos de tomar algumas decisões difíceis”

Pouco depois de ganhar a medalha de bronze em Tóquio, na categoria de -100kg, o judoca português disse que a Puma e a Adidas não o apoiavam ou patrocinavam por considerarem que não teria capacidade ou estatuto. A primeira grande marca desportiva alemã preferiu não comentar, mas, à Tribuna Expresso, a segunda classificou Jorge Fonseca como “extremamente talentoso” e meio que se explicou: “no que a contratos de patrocínio diz respeito, por muito que gostássemos de apoiar um maior numero de atletas, temos que tomar algumas decisões difíceis sobre com quem podemos trabalhar”

Diogo Pombo

BSR Agency/Getty

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Tinha a respiração acelerada, arfava e ofegava com o microfone à frente. Jorge Fonseca escorria suor para dentro do kimono, os quatro minutos à bulha ordenada e técnica com outro matulão de quase 100 quilos espreme a energia de um corpo e quando, com a bandeira de Portugal nos ombros, lhe pediram para falar meros minutos volvidos a ganhar uma medalha de bronze, o judoca deixou-se ser.

Jorge Fonseca é a candura em pessoa, sem barreiras, fala como o caudal de um rio e entre as várias coisas que disse sem filtragem na entrevista rápida da "RTP", depois na zona mista, sentado entre vários jornalistas, esteve uma espécie de recado a duas grandes marcas desportivas que não o patrocinam na demanda que é ser atleta cuja vida gira em ciclos olímpicos.

E no momento da vitória, sempre impulsionadora de desabafos, o judoca falou: “vou dedicar esta medalha aos dirigentes da Adidas e à Puma, porque me disseram que não tinha capacidade para ser representado. Dedico-lhes essas medalhas. Já demonstrei que sou bicampeão do Mundo, terceiro nos Jogos Olímpicos, qual o estatuto que preciso de demonstrar para ser patrocinado pela Adidas e pela Puma? Esta medalha é para eles e um grande beijinho”.

Jorge Fonseca voltaria a referi-lo, talvez mais de uma hora depois, porventura menos a quente, na zona mista. “Liguei para a Puma e eles disseram-me que eu não era um campeão. Liguei para a Adidas e eles disseram que eu não tinha mérito desportivo para ser patrocinado por eles”, contou, empurrando a agulha para as marcas, ambas alemãs.

A Tribuna Expresso questionou as duas se tinham, de facto, alguma vez rejeitado apoiar ou patrocinar o judoca português, que juntou a medalha de bronze na categoria de -100kg ao estatuto de bicampeão mundial (2019 e 2021). A Puma preferiu não comentar o caso, mas a Adidas respondeu.

“Em primeiro lugar, queremos dar os parabéns ao Jorge Fonseca pela sua medalha de bronze”, ressalvou a marca germânica, enaltecendo o “desempenho incrível” e a “conquista extraordinária do português”. Depois, explicou que “por muito” que gostasse “de apoiar um maior número” de atletas, “muitas vezes” tem de “tomar algumas decisões difíceis sobre com quem [pode] trabalhar”.

A Adidas defendeu ainda que “enquanto marca de desporto”, procura “apoiar todos os atletas com os [seus] produtos, ajudando-os na conquista dos objetivos”. Não confirmou se chegou a ter algum contacto, formal ou informal, com o judoca português que descreveu como “extremamente talentoso”.