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Jogos Olímpicos

“É saboroso, mas queria mais. Sou bicampeão do mundo, o meu lugar é no ouro. Quero ser o melhor de todos os tempos do desporto nacional”

Teve uma cãimbra numa mão, durante a meia-final, por causa dos nervos e, nos últimos segundos do combate pela medalha, "estava muito aflito e desesperado", mas Jorge Fonseca é medalha de bronze na categoria de -100kg do judo olímpico. No final, à "RTP", dedicou a medalha e "um grande beijinho" aos dirigentes da Adidas e da Puma: "porque me disseram que não tinha estatuto para ser patrocinado"

Diogo Pombo

picture alliance

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Jorge Fonseca está suado e a arfar, tem a respiração acelerada quando chega à zona de entrevistas rápidas onde a "RTP" o espera. Pedro Sousa dá-lhe uma palmada do cachaço, não se escuta o que o treinador lhe diz, apenas se ouve o "ya" do gigante judoca português, enquanto se enrola na bandeira portuguesa que acaba por repousar sobre os seus ombros.

Escorrem-lhe gotas do esforço e dos nervos por toda a cara. Fala em ritmo acelerado e cheio de pausas, ainda busca a respiração, a mesma que tentou controlar quando lhe deram cãimbras numa mão, no arranque da meia-finai que perderia e que o fez ter de lutar pelo bronze. Jorge Fonseca está feliz, claro que está, mas queria o ouro, di-lo e repete-lo durante a flash interview. "Eu trabalho todos os dias para o ouro."

É o terceiro judoca português a revestir-se de bronze, depois de Nuno Delgado, em Sydney 2000, e Telma Monteiro, no Rio de Janeiro 2016. Tóquio ficará para sempre colado ao nome de Jorge Fonseca, o bicampeão mundial que foi buscar mais uma medalha ao Japão e, mesmo assim, não seduz os apoios de que tanto precisa: "qual o estatuto que preciso de demonstrar para ser patrocinado pela Adida e pela Puma? Esta medalha é para eles e um grande beijinho".

A medalha de bronze

“É saboroso, mas eu queria mais. Estou feliz, trabalhei para o ouro, era o grande objetivo e trabalhei bastante. O meu treinador deu-me uma chapada, acordei e fui buscar aquilo que eu queria, foi o bronze, mas queria o ouro. Infelizmente não deu, agora é trabalhar para o próximo”.

Aqueles últimos segundos do combate

“Pá, tocam muitas coisas na cabeça. Queria tanto ganhar esta medalha, estava muito aflito, não sabia o que fazer, estava desesperado. Mas tudo correu, graça a Deus, trabalhei bastante para essa prova, o meu objetivo era o ouro e agora é trabalhar para mais. São mais três anos e vou trabalhar para conquistar o ouro em Paris”.

O que se passou com a mão esquerda, na meia-final?

“Estava com uma cãimbra, quando ficou muito nervoso fico com cãimbras, os braços começam a bloquear. Não conseguia fazer mesmo nada, rigorosamente nada. Tentei controlar-me imenso, respirar fundo, fazer as coisas soft, mas não consegui. Pronto, foi o que foi, agora é trabalhar para conquistar o ouro em Paris, esse é o meu grande objetivo.

Sou bicampeão do mundo, o meu lugar é no ouro, é ouro, é ouro, trabalho para o ouro todos os dias, não trabalho para o bronze. Estou feliz, são os Jogos Olímpicos, mas quero mais. Quero ser o melhor de todos os tempos do desporto nacional”.

A conversa com o treinador antes da final

“O meu treinador esteve sempre a motivar-me, disse que tinha de ir buscar o bronze, fez-me acreditar que era possível e fui buscar o que é meu, que é o bronze. Não é o ouro, mas quero mais. Em Paris estarei no pódio para o ouro.

Quero agradecer aos portugueses que me apoiaram, mandaram-me imensas mensagens no Instagram, muito obrigado por terem ficado acordados para me verem. Quero agradecer também à minha mãe. Estou feliz, apesar de não me deixaram entrar para a Polícia [ri-se], luto pelo meu grande objetivo, que é a medalha olímpica”.

Uma dedicatória sarcástica

“E vou dedicar esta medalha aos dirigentes da Adidas e à Puma, porque me disseram que não tinha capacidade para ser representado. Dedico-lhes essas medalhas. Já demonstrei que sou bicampeão do Mundo, terceiro nos Jogos Olímpicos, qual o estatuto que preciso de demonstrar para ser patrocinado pela Adidas e pela Puma? Esta medalha é para eles e um grande beijinho."

(o jornalista passa-lhe um telemóvel, que toca uma canção que diz muito ao coração de Jorge Fonseca, que começa logo a dançar.)

“Só faltava esta, mas pronto, olha, a gente baila na mesma com o bronze. Viva Portugal, somos os maiores! Já precisávamos desta medalha, o desporto nacional está a evoluir bastante e precisamos de atletas como todos nós”.

  • Jorge Fonseca é medalha de bronze em Tóquio
    Jogos Olímpicos

    Português bateu o canadiano Shady Elnahas, 8.º do ranking, para conquistar a medalha de bronze na categoria de -100kg. É o terceiro judoca português a consegui-lo, depois de Nuno Delgado, em Sydney (2000), e de Telma Monteiro, em 2016 (Rio de Janeiro)