Daiki Hashimoto já tinha a tapar-lhe as costas a bandeira branca e com o círculo vermelho ao centro, repousava-o nos ombros enquanto esperava, com os prováveis nervos, pelo desfecho dos ensaios dos adversários que faltavam completar. Pouco antes, aterrara a saída das barras, a sua última prova, com um sorriso malandro na cara. Mas tinha de esperar.
O japonês aguardou, a bandeira do Japão a cobrir-lhe os ombros, até poder esmurrar o ar com os punhos fechados quando no Centro de Ginástica de Ariake, em Tóquio, se ouviu a confirmação. O ouro ia para Hashimoto, que já só esperava por saber o material de que seria feita a sua medalha.
Daiki tem 19 anos, nunca competira em Jogos Olímpicos e conquistou a prova de all-around individual da ginástica artística masculina. Daiki também é japonês e ser o seu pescoço a suportar o peso do ouro não seria o plano inicial dos anfitriões.
Estes Jogos que lhes são caseiros eram os da suposta despedida apoteótica do ginasta que o Japão ainda tinha como o maior, o alvo de todas as expetativas.

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Kohei Uchimura tem 32 anos e queria fazer de Tóquio o que Londres (2012) e o Rio de Janeiro (2016) foram: cidades de onde o melhor de uma geração, ou quiçá de sempre, levou o ouro nas provas individuais de all-around. Ainda é o único ginasta, homem ou melhor, a ganhar tudo quanto foram Mundiais ou Jogos durante dois ciclos olímpicos seguidos. Foi imbatível entre 2009 e 2016.
Mas, logo na qualificação, Uchimura caiu durante o ensaio nas barras assimétricas, aterrando o corpo com estrondo no colchão. “Nunca tinha falhado assim nos treino e não percebo como isto aconteceu. Nunca tinha experienciado o falhanço assim”, admitiria. As hipóteses de chegar à final despenharam-se com ele.
O Japão ficou sem um dos seus heróis à vista e teve de olhar para onde pouco tinha procurado.
Daiki Hashimoto acabaria por conquistar a medalha mais preciosa, prolongando a propriedade japonesa do all-around masculino pela terceira edição consecutiva dos Jogos. Os 88,465 pontos com que concluiu a prova deixaram-no ficar à frente do chinês Xiao Ruonteng (88.065 pontos) e do russo Nikita Nagornyy (88.031).
O seu exercício na barra fixa resgatou-o para a vitória final no all-around. Quando Uchimura caiu e as suas esperanças se enterraram com ele no colchão, logo na sua especialidade, os 19 anos de Hashimoto deixaram uma garantia, se, lá mais para a frente - as provas individuais são na próxima semana -, ganhar o ouro na barra fixe: “Vou colocar a medalha à volta do seu pescoço. Porque deveria ser ele a pessoa a ganhá-la”.