De todas as histórias dos lesados da greve da Groundforce do último fim de semana, a minha não será nem de perto nem de longe a mais dramática. Mas, acreditem, perder a oportunidade de assistir ao vivo à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio vai moer-me a cabeça durante algum tempo. Chegar a Tóquio por estes dias significa, salvo exceções, uma quarentena de pleno menos três dias e as trocas de voos deram-me cabo das contas: diz o meu relógio e a app japonesa que tudo sabe e a quem todos os dias digo que, não, não tenho febre nem tosse nem sintomas esquisitos, que há seis minutos que estou finalmente livre. As últimas 72 horas foram passadas num quarto de hotel que levo seis passos a percorrer e que de largura não terá mais que duas vezes aquilo que eu meço - e olhem que eu tenho roupa da secção infantil de várias grandes cadeias.
Foi assim por escassas horas que a quarentena me abocanhou a ida ao Estádio Olímpico, no dia três após a chegada, dia do quarto teste à covid-19 que brigadas de nipónicos pouco faladores recolhem diligentemente hotel a hotel, tirando quando se esquecem de aparecer, como foi esta sexta-feira o caso. A situação, sabemos todos, é sem precedentes, mas Tóquio 2020 vai caminhando perigosamente entre os dois extremos, com regras rígidas num dia e estatelamentos quase infantis no outro e sistemas complicados e burocráticos que, no final do dia, lá nos deixam uns cinco minutos para pensar no que verdadeiramente nos trouxe aqui: os melhores desportistas do mundo.