O futebol tinha acabado em Yerevan, da Arménia quem quisesse poderia ter visto, em canal aberto, a seleção nacional a golear os anfitriões, por 0-5, no arranque da qualificação rumo ao Mundial de 2026, quem o desejasse, por estes dias, também pode ver a Espanha, a Inglaterra, a Itália, o Brasil, a Argentina, a Geórgia, a Índia, Cabo Verde, seja qual for a equipa nacional, porque de 1 a 9 de setembro impera a lei da FIFA: é o período para jogos internacionais, quando os clubes são obrigados a ceder qualquer futebolista convocado pelo seu país e manda o bom-senso que as provas nacionais descansem.
Não em Portugal, pelos vistos.
Já se sabia que a Liga agendara para este sábado, com início às 20h30, coisa de hora e meia após a seleção nacional fechar o seu encontro na Arménia. Lá foram os jogadores do Estoril Praia e do Santa Clara para campo quando o país acabara de prestar atenção à sua principal equipa nacional. Os canarinhos perderam, por 0-1, contra os açorianos. No final, o capitão da equipa da linha de Cascais que teve quatro jogadores chamados às respetivas seleções levou desabafos sinceros para a flash interview da "Sport TV".
“Há justiça nisto? Sinceramente, não sinto. É o jogo marcado para esta altura. Não sei o que se pode corrigir, mas, sinceramente, assim não andamos para a frente. Queria deixar uma mensagem clara, acho que ninguém está a ouvir porque a nossa cultura é de ver três, quatro equipas e nada mais. Portugal chegou há bocado, nós estávamos todos a ver o jogo. Portugal, seleção, não merecia que houvesse este jogo. Se queremos ir para outro nível estas coisas deviam deixar de acontecer”, criticou João Carvalho, um dos vistosos talentos que o campeonato português tem fora dos ditos três grandes.
E não, isto não tem nada a ver com arbitragem, como, já antes, o Estoril Praia formalmente defendeu, ao reagir à marcação da partida para esta data. “Foram apresentadas duas datas alternativas no calendário que não prejudicariam nenhuma das equipas, mas infelizmente não foram consideradas na decisão final”, defendeu o clube, ao criticar a decisão da Liga por entender que “prejudica desportivamente ambas as equipas, cria desigualdade de tratamento, ignora alternativas viáveis apresentadas que garantiriam equidade e coloca em causa a integridade da competição”.
Após a derrota contra o Santa Clara, o capitão João Carvalho juntou o seu desagrado ao do clube.
“O que nos acaba mesmo por condicionar começa há algum tempo. Sinceramente, quero dizer que temos família, não estamos aqui a brincar, tentamos ser profissionais. Mas se tudo à volta não é profissional, acabamos por não conseguir. Quero dizer muita coisa, mas não quero ser mal interpretado. Isto começa há três, quatro semanas, claramente o Santa Clara merece ter o seu descanso, estava nas competições europeias, nada a dizer. Mas, vou ser sincero: se algum jogador que quer vir para Portugal olhar para o resumo do nosso jogo, acho que não vem. As condições que tivemos na semana passada foram horríveis”, lamentou o jogador, de 28 anos, que vai na terceira época a representar o Estoril Praia.
“Sinceramente, ganhámos o jogo com estas condições adversas. Continuámos a ser equipa. O Santa Clara foi às competições europeias, é uma excelente equipa, tem um excelente treinador. Com ausências ou não, foi taco a taco, deu para o lado deles, foram melhores, fizeram um golo. Estou muito triste com esta situação toda, a nossa época começa na próxima semana, que é quando começa um campeonato normal, que ainda não foi.”
O resto é o normal do futebol, o Estoril Praia tem dois pontos, o seu capitão acha que “não mereciam perder nenhum”, isso é a vida da bola.
