As 11h de cada 11 de janeiro tinham, há muito, um recheio de simbolismo no Japão. Fosse na quietude de um comunicado ou na pompa de a pessoa em questão aparecer em público com uma fatiota excêntrica e fazer o anúncio, a data era sinónimo de Kazuyoshi Miura, ou Kazu para os mais carinhosos. No fundo, para a maioria dos japoneses que este ano terão feito caso da ausência de novidades a essa hora, desse dia, pela primeira vez em muitos anos. O poço sem fundo da internet não guarda registos, na tal data, de alguém nascido quando os Beatles ainda nem tinham lançado o seu “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, não deveria ser um desprimor.
Miura, contudo, é o popular ‘Rei Kazu’. Com fios grisalhos de cabelo e rugas à volta dos olhos a denunciarem-lhe a antiguidade, ele granjeia fama no seu país por ser o mais velho jogador na história a marcar um golo no futebol profissional e continuar a desafiar o moinho do tempo: em 1993 foi eleito o melhor jogador da edição inaugural da J-League, principal campeonato japonês, marcando mais golos do que Zico ou Gary Lineker, e em 2000, quando se retirou da seleção, muitos lhe vaticinaram o ocaso definitivo na carreira. Tinha 33 anos. Mas, na quarta-feira, apareceu sorridente a dar toques numa bola em Oliveira de Azeméis, no relvado do seu novo clube.