Fechar um ciclo antes de uma longa paragem no campeonato com uma vitória será um descanso para qualquer treinador e, nesse particular, Sérgio Conceição poderá respirar de alívio. Num campo difícil, onde o FC Porto tende a sofrer, porque é mais que um jogo, é uma rivalidade territorial, uma questão de orgulho, os campeões nacionais venceram, e venceram bem, o Boavista por 4-1. O Benfica nunca ficará a mais de oito pontos, vantagem importante, mas que, numa época estilhaçada ao meio como esta, não tem necessariamente de ser definitiva - e a temporada da pandemia está cá para nos recordar disso mesmo.
Por isso, mais do que resultados, as próximas semanas no Olival terão uma outra preocupação, que foi uma espécie de elefante na sala este sábado no Bessa: o que será de David Carmo? A contratação de duas mãos cheias de milhões de euros nem sequer na lista de jogo apareceu, ainda efeitos colaterais, muito provavelmente, daquela grande penalidade infantil em Brugge. Já se sabe que Sérgio Conceição não olha a caras ou a marcas de luxo (olá Iker Casillas) e desde aí que o jovem central desapareceu. Fábio Cardoso e Ivan Marcano, que seriam muito provavelmente os 3.º e o 4.º centrais na hierarquia no início da época, são neste momento titulares.
E, para mal de David Carmo, Marcano, fustigado por azares e lesões e rapaz que não vai para novo, parece agarrar-se a cada nova oportunidade como pode. Marcou em Mafra, voltou a marcar no Bessa, numa altura em que o jogo parecia até emperrado para o FC Porto, depois de um bom arranque, em que Galeno, Evanilson e Taremi rondaram esfomeados a baliza de Bracali, sem conseguirem efetivar.
Esses primeiros 10 minutos marcaram uma posição, num campo em que as coisas, por vezes, tendem a ficar feias no dérbi da Invicta. Petit, que gosta de atacar, viu a equipa falhar nesse particular - na 1.ª parte, não houve qualquer aproximação de perigo à baliza de Diogo Costa. Mas com o jogo algo adormecido, o golo do FC Porto, já aos 41’, acaba por surgir de bola parada: canto de Otávio, desvio de Evanilson e Marcano a aparecer de rompante para a emenda. Estava tudo, digamos assim, desbloqueado.
MANUEL FERNANDO ARAUJO/EPA
Um desbloqueio que fez bem ao Boavista, mais afoito na abordagem à 2.ª parte, com mais saída de bola, presença no meio-campo do FC Porto. As entradas de Gorré e Bruno Lourenço confirmaram o desejo de Petit de ir atrás do resultado, mas a expulsão de Cannon aos 58’ deitaria por terra a reação. Pouco depois, num lance que começa de novo numa bola parada e se transforma numa bonita teia coletiva, Otávio encontrou Taremi na área, com o iraniano, e sua classe do costume, a dar de cabeça atrasado para a entrada de Eustáquio. O remate do luso-canadiano, com a parte interior do pé, foi uma artimanha que deixou todos os adversários impossibilitados de evitar aquele 2-0.
O segundo golo sugou a vida que restava ao Boavista e por isso o remate ao poste de Bozenik, do meio da rua, seco e quase mortífero, apareceu como que inopinadamente. Mas nos últimos dez minutos, com o refrescar do meio-campo e um Otávio que parece não precisar de descanso nenhum para brilhar, o FC Porto marcou novamente, aos 83’ por Galeno, a passe do internacional português.
Já sem grandes esperanças, nos descontos o Boavista reduziu, num livre direto de Gorré, com a bola a ir ao poste e a ressaltar em Diogo Costa, para na saída de bola, segundos depois, Galeno voltar a colocar a vantagem em três golos. Otávio outra vez no passe - é um dos jogadores em melhor forma dos que estarão com Fernando Santos no Catar.
Até ao Natal, o campeonato não estará nas preocupações de mais ninguém no Dragão. Agora, enquanto uns vão para o Catar, é preciso lamber outras feridas de balneário. E, nesse sentido, talvez esta paragem venha a calhar para alguns.